São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2006

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18% do eleitorado pretende anular voto para deputado

Índice apontado pelo Datafolha é 6 vezes o registrado em 2002, quando 3% votaram nulo

Se comparecer às urnas não fosse obrigatório, 49% não votariam; maioria não se lembra em quem votou para deputado federal e estadual

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O desânimo do brasileiro com a eleição para deputados federais e estaduais pode resultar numa taxa além do normal de votos nulos no pleito de 1º de outubro. Segundo pesquisa do Datafolha, 18% dos eleitores pretendem votar nulo na hora de escolher o legislador federal e 16% dizem que podem anular o voto para deputado estadual.
As taxas são altas se comparadas aos apenas 2,9% de votos nulos nas eleições para deputados federais e estaduais em 2002 -o percentual foi idêntico para as duas votações. Se a intenção do eleitor for confirmada nas urnas, a nulidade dos votos deste ano será equivalente a seis vezes à registrada na eleição passada. Mesmo levando em conta os votos brancos para deputado federal em 2002, a soma de votos inválidos (7,6%) não chega à metade da taxa apontada pela pesquisa.
A pesquisa Datafolha foi realizada com 6.279 eleitores de 272 municípios de 24 Estados e o Distrito Federal, nos dias 21 e 22 de agosto. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. A pesquisa resultou de parceria entre a Folha e a Rede Globo.
Não há pesquisas semelhantes de eleições anteriores. Por essa razão, não é possível afirmar se essa intenção de votar nulo para cargos do Legislativo ocorreu em outros pleitos nesta fase da campanha -e se isso se concretizou nas urnas.
Há um dado a ser considerado: a Justiça Eleitoral nunca ensina em suas campanhas didáticas como se faz para votar nulo. Os meios de comunicação também informam de maneira modesta como é essa operação (basta digitar um número que não esteja relacionado a nenhum candidato -como 99-, e apertar a tecla "confirma"). É possível que muitos que queiram votar nulo não saibam como fazê-lo e acabem votando em branco ou em uma legenda.
A única propaganda a favor do voto nulo se deu de maneira informal, por meio de correntes na internet. O Brasil tem cerca de 32 milhões de pessoas com acesso à rede, para um eleitorado de 126 milhões. Na campanha pela internet propagou-se uma informação falsa: a de que a eleição seria anulada se mais de 50% dos votos fossem nulos. A legislação não contém essa determinação. Se mais da metade dos votos forem nulos, todos os eleitos tomarão posse da mesma forma.

Voto obrigatório
Outro fato descoberto pelo Datafolha é a estabilidade dos que não iriam votar se esse ato não fosse obrigatório: 49% não votariam se não houvesse a determinação legal -quem não vota é multado e não consegue obter determinados documentos. Desde 1989, quando essa pergunta sobre o voto obrigatório passou a ser feita pelo Datafolha, a taxa dos que não iriam votar oscilou de 44% a 49%. Já os que se dizem favoráveis à manutenção da obrigatoriedade do voto oscilaram de 42%, em 1994, para 45%, neste ano.
Segundo a cientista política Luzia Helena Herrmann de Oliveira, da Universidade Estadual de Londrina, autora do estudo "Voto obrigatório e eqüidade", "os dados de 2006 mostram que os escândalos políticos do último ano não alteraram a motivação dos eleitores em participar da política. A suposta desilusão, a suposta idéia de que as pessoas se desencantariam com a política de um modo amplo, não parece se confirmar, o que é bom".
A pesquisa também perguntou ao eleitor se ele se lembrava em quem havia votado para deputado em 2002. A taxa de lembrança foi bem pequena: 57% não se recordam dos políticos escolhidos para Câmara dos Deputados e Assembléia Legislativa. A lembrança aumenta conforme cresce a escolaridade do pesquisado. Entre os que têm nível superior, 48% dizem lembrar o nome do deputado escolhido há quatro anos.
Também há diferença entre os eleitores que declaram alguma preferência partidária: 55% dos que se dizem simpatizantes do PFL afirmam lembrar em quem votaram para deputado federal. No caso de eleitores do PSDB, a taxa é de 46%. Entre os eleitores do PT, a taxa é de 29%.

Vergonha do eleitor
Para o cientista político Alberto Carlos Almeida, diretor da Ipsos Public Affairs e autor do estudo "Amnésia eleitoral", os dados do Datafolha convergem com os da sua própria pesquisa, realizada em 2002: "O nível de lembrança era de 28% para deputado federal".
Na realidade a taxa de lembrança deve ser ainda menor, esclarece Almeida, porque o entrevistado tende a dar uma resposta positiva para "agradar o entrevistador ou porque sente vergonha de admitir que não se lembra em quem votou".
Para Almeida, o sistema eleitoral brasileiro, no qual o eleitor é induzido a escolher um indivíduo entre centenas de candidatos, dificulta muito que o eleitor se recorde em quem votou: "O fato de não lembrar significa que você não pode acompanhar o seu deputado. O sistema não te dá o direito de controlar o seu deputado".


Colaborou MAURICIO PULS , da Redação


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