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18% do eleitorado pretende anular voto para deputado
Índice apontado pelo Datafolha é 6 vezes o registrado em 2002, quando 3% votaram nulo
Se comparecer às urnas não fosse obrigatório, 49% não votariam; maioria não se lembra em quem votou para deputado federal e estadual
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O desânimo do brasileiro
com a eleição para deputados
federais e estaduais pode resultar numa taxa além do normal
de votos nulos no pleito de 1º de
outubro. Segundo pesquisa do
Datafolha, 18% dos eleitores
pretendem votar nulo na hora
de escolher o legislador federal
e 16% dizem que podem anular
o voto para deputado estadual.
As taxas são altas se comparadas aos apenas 2,9% de votos
nulos nas eleições para deputados federais e estaduais em
2002 -o percentual foi idêntico para as duas votações. Se a
intenção do eleitor for confirmada nas urnas, a nulidade dos
votos deste ano será equivalente a seis vezes à registrada na
eleição passada. Mesmo levando em conta os votos brancos
para deputado federal em
2002, a soma de votos inválidos
(7,6%) não chega à metade da
taxa apontada pela pesquisa.
A pesquisa Datafolha foi realizada com 6.279 eleitores de
272 municípios de 24 Estados e
o Distrito Federal, nos dias 21 e
22 de agosto. A margem de erro
é de dois pontos percentuais,
para mais ou para menos. A
pesquisa resultou de parceria
entre a Folha e a Rede Globo.
Não há pesquisas semelhantes de eleições anteriores. Por
essa razão, não é possível afirmar se essa intenção de votar
nulo para cargos do Legislativo
ocorreu em outros pleitos nesta fase da campanha -e se isso
se concretizou nas urnas.
Há um dado a ser considerado: a Justiça Eleitoral nunca
ensina em suas campanhas didáticas como se faz para votar
nulo. Os meios de comunicação
também informam de maneira
modesta como é essa operação
(basta digitar um número que
não esteja relacionado a nenhum candidato -como 99-, e
apertar a tecla "confirma"). É
possível que muitos que queiram votar nulo não saibam como fazê-lo e acabem votando
em branco ou em uma legenda.
A única propaganda a favor
do voto nulo se deu de maneira
informal, por meio de correntes na internet. O Brasil tem
cerca de 32 milhões de pessoas
com acesso à rede, para um
eleitorado de 126 milhões. Na
campanha pela internet propagou-se uma informação falsa: a
de que a eleição seria anulada
se mais de 50% dos votos fossem nulos. A legislação não
contém essa determinação. Se
mais da metade dos votos forem nulos, todos os eleitos tomarão posse da mesma forma.
Voto obrigatório
Outro fato descoberto pelo
Datafolha é a estabilidade dos
que não iriam votar se esse ato
não fosse obrigatório: 49% não
votariam se não houvesse a determinação legal -quem não
vota é multado e não consegue
obter determinados documentos. Desde 1989, quando essa
pergunta sobre o voto obrigatório passou a ser feita pelo Datafolha, a taxa dos que não iriam
votar oscilou de 44% a 49%. Já
os que se dizem favoráveis à
manutenção da obrigatoriedade do voto oscilaram de 42%,
em 1994, para 45%, neste ano.
Segundo a cientista política
Luzia Helena Herrmann de
Oliveira, da Universidade Estadual de Londrina, autora do estudo "Voto obrigatório e eqüidade", "os dados de 2006 mostram que os escândalos políticos do último ano não alteraram a motivação dos eleitores
em participar da política. A suposta desilusão, a suposta idéia
de que as pessoas se desencantariam com a política de um
modo amplo, não parece se
confirmar, o que é bom".
A pesquisa também perguntou ao eleitor se ele se lembrava
em quem havia votado para deputado em 2002. A taxa de lembrança foi bem pequena: 57%
não se recordam dos políticos
escolhidos para Câmara dos
Deputados e Assembléia Legislativa. A lembrança aumenta
conforme cresce a escolaridade
do pesquisado. Entre os que
têm nível superior, 48% dizem
lembrar o nome do deputado
escolhido há quatro anos.
Também há diferença entre
os eleitores que declaram alguma preferência partidária: 55%
dos que se dizem simpatizantes
do PFL afirmam lembrar em
quem votaram para deputado
federal. No caso de eleitores do
PSDB, a taxa é de 46%. Entre os
eleitores do PT, a taxa é de 29%.
Vergonha do eleitor
Para o cientista político Alberto Carlos Almeida, diretor
da Ipsos Public Affairs e autor
do estudo "Amnésia eleitoral",
os dados do Datafolha convergem com os da sua própria pesquisa, realizada em 2002: "O
nível de lembrança era de 28%
para deputado federal".
Na realidade a taxa de lembrança deve ser ainda menor,
esclarece Almeida, porque o
entrevistado tende a dar uma
resposta positiva para "agradar
o entrevistador ou porque sente vergonha de admitir que não
se lembra em quem votou".
Para Almeida, o sistema eleitoral brasileiro, no qual o eleitor é induzido a escolher um indivíduo entre centenas de candidatos, dificulta muito que o
eleitor se recorde em quem votou: "O fato de não lembrar significa que você não pode acompanhar o seu deputado. O sistema não te dá o direito de controlar o seu deputado".
Colaborou MAURICIO PULS , da Redação
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