São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2008

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JANIO DE FREITAS

Velha expectativa


A probabilidade de conflitos sangrentos em Roraima é a mesma história que aqui se reproduz há 500 anos

A PROBABILIDADE de conflitos sangrentos em Roraima entre indígenas e, de outra parte, cinco grandes arrozeiros, empregados seus e 21 famílias de pequenos agricultores, motivados pela ocupação de terras a ser julgada hoje pelo Supremo Tribunal Federal, é a mesma e ininterrupta história que aqui se reproduz há 500 anos, 186 de país livre para construir sua identidade, 119 anos de República para instalar Ordem e Progresso. É quase inacreditável que todo esse passado de séculos ainda esteja tão presente, jamais confrontado por um propósito verdadeiro e nacional de dar aos indígenas o respeito por sua condição humana.
Das 258 famílias que concordaram em deixar a área oficializada como reserva indígena Raposa/Serra do Sol, o governo falta indenizar perto de 50. A expectativa, porém, é que estes e outros ainda remanescentes na área não se envolvam nas reações previstas, qualquer que seja a decisão do STF. Dadas as providências preventivas, enfrentamentos mais preocupantes para o futuro próximo do que em reação imediata ao julgamento, segundo deduções da Polícia Federal a respeito dos grandes arrozeiros e vários pequenos agricultores.
Deixar, portanto, o futuro próximo entregue aos cuidados do governo de Roraima, de notória parcialidade em favor dos grandes arrozeiros, será uma temeridade do governo Lula. Tanto mais que os comandos locais do Exército opõem-se à reserva como definida no governo Fernando Henrique e homologada no atual, em 2005.

Por ora
Há uma hipótese a mais para os saltos, constatados pelo Datafolha, de candidatos a prefeito. Sem negar a explicação fundada no início do horário de propaganda gratuita, mesmo com a pesquisa seguindo-se a apenas três dias de programas, é difícil que as subidas e descidas não decorram também das impressões produzidas pelos candidatos nas quatro semanas entre a penúltima e a última pesquisas.
Por certo, esse período foi bastante para induzir novas opiniões de eleitores, com o aumento da propaganda externa e a maior exposição de candidatos nos jornais, TV e rádio. E, em alguns casos, houve (e há) também ações que nem dependem dos candidatos ou de seus competidores.
É o caso da disputa no Rio, onde o primeiro colocado Marcelo Crivella, por sua ligação à Igreja Universal, é objeto de ação diária de desgaste por parte da mídia carioca. Além disso, o candidato do governo fluminense, Eduardo Paes, começa a usufruir dessa condição para fortalecer suas habilidades evidentes. Passou de terceiro a segundo: já comprova ser candidato forte, para desagrado maior de Cesar Maia.
Reviravolta a merecer ainda melhor explicação é a do estreante e pouco conhecido Marcio Lacerda em Belo Horizonte. Em um mês, multiplicou por 3,5 vezes os seus desanimados 6%. É o candidato do governador Aécio Neves e do prefeito Fernando Pimentel, mas já era notória essa condição privilegiada quando Lacerda nem conseguia tirar os pés do chão. A política de Minas sempre tem artes próprias, como José Serra precisa saber.


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