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PROTESTO
FHC enfrenta maior protesto em quase cinco anos de governo
Oposição reúne 75 mil e
promete greve nacional
MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília
Aos gritos alternados de ""Fora" e
""Basta de FHC",
em defesa do impeachment e até da
renúncia do presidente Fernando Henrique Cardoso, partidos de oposição e entidades da sociedade civil promoveram ontem a maior manifestação
contra o governo em quase cinco
anos com um recado: o protesto
em Brasília foi apenas o primeiro.
O cálculo do número de pessoas
presentes à ""Marcha dos 100 Mil"
variou. Os organizadores do ato
estimaram mais de 100 mil pessoas. Foram 60 mil, segundo o comandante do grupamento de
operações especiais da Polícia Militar, coronel Renato Azevedo. A
Secretaria da Segurança do Distrito Federal contou pouco mais de
40 mil manifestantes.
Projeções feitas pela Folha com
base em fotos aéreas e na averiguação da densidade de manifestantes por metro quadrado no ato
indicam a presença de cerca de 75
mil pessoas.
O tamanho da manifestação da
oposição em Brasília só perdeu
para a visita do papa João Paulo
2º, em outubro de 1991, quando a
PM apontou a presença de 300
mil pessoas na Esplanada dos Ministérios.
""Estou gratificado. Que FHC e
sua corja nunca mais ousem duvidar da capacidade de organização
da sociedade", disse o líder petista
Luiz Inácio Lula da Silva ao encerrar a manifestação classificada pelos organizadores como uma
grande e pacífica vitória.
"Depois desta "Marcha" ninguém vai poder dizer que a oposição não tem rumo", disse a ex-deputada Maria Laura (PT-DF), sobre a alcunha de ""sem-rumo" dada aos integrantes do movimento
por FHC.
Embora não tivessem uma pauta unificada de propostas, os líderes da marcha deixaram claro que
não pretendem apenas uma mudança no governo, mas uma mudança de governo: a saída do presidente a menos de oito meses da
posse no segundo mandato.
Mobilizações
""Temos de fazer milhares de
movimentos como este até tirar
essa gente do poder", discursou
Lula, confirmando o que o presidente do PDT, Leonel Brizola,
dissera um pouco antes no mesmo palanque montado em frente
ao Congresso Nacional: ""Esse ato
é apenas o começo de uma grande
jornada que só vai parar no dia
em que tivermos um governo em
que o povo brasileiro confie".
""Daqui para a frente, vamos fazer como o Corinthians, vamos
arrasar cada vez mais", completou Lula do palanque, dirigindo-se diretamente a FHC: ""Quem
não tem rumo é você". Organizadores da marcha atribuíram ao
próprio governo federal parte do
sucesso da mobilização.
Classificar os manifestantes de
sem-rumo e golpistas foi a principal reação do presidente e seus assessores à marcha. Mas ontem o
governo começou a mudar o discurso e passou a reconhecer que
os descontentes têm motivos para
reclamar.
Segundo a Folha apurou, a estratégia do governo é evitar que
FHC, já abalado por altos índices
de impopularidade, se isole da sociedade. A idéia no Planalto é investir mais na comunicação do
governo. FHC não aceita discutir
o pedido de renúncia nem a proposta de romper com o FMI.
O próximo protesto nacional
contra FHC está marcado para
acontecer em menos de duas semanas. No feriado de 7 de Setembro, data do "Grito dos Excluídos", estão previstas manifestações nas capitais.
O calendário da oposição inclui
a proposta de uma greve nacional
em 8 de outubro ""contra o governo neoliberal de FHC". As palavras de ordem são as mesmas:
""Basta de FHC e Fora o FMI", expostas nas faixas que decoraram o
palanque de ontem.
Pauta
Os cinco partidos de oposição
(PT, PSB, PDT, PCB e PC do B) e
as demais entidades que promoveram a manifestação em Brasília
não chegaram a divulgar ontem
na marcha um manifesto com as
propostas do movimento.
Uma nota escrita às pressas na
véspera por representantes das
entidades encabeçadas pela CUT
(Central Única dos Trabalhadores), MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra),
UNE (União Nacional dos Estudantes) e CMP (Central dos Movimentos Populares), sem a assinatura dos partidos, foi divulgada
pela Internet.
A nota propõe: emprego para
todos, aumento geral de salários,
redução da jornada de trabalho,
fim das privatizações e auditoria
nas empresas já privatizadas, suspensão do pagamento da dívida
externa e ampla reforma agrária.
Assinada genericamente pelo
Fórum Nacional de Luta, o texto
menciona o pedido de impeachment de FHC, atrelado ao pedido
de instalação de CPI (Comissão
Parlamentar de Inquérito) no
Congresso para investigar a privatização das teles.
A CNBB (Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil), que participa oficialmente do fórum, divulgou nota paralela, sem falar em
impeachment nem em renúncia
de FHC. ""As manifestações e mobilizações que estão acontecendo
nesses dias traduzem um descontentamento crescente", registrou.
Ausências
A OAB (Ordem dos Advogados
do Brasil) e a ABI (Associação
Brasileira de Imprensa), autoras
do pedido de impeachment do
ex-presidente Fernando Collor,
tiveram o apoio à manifestação
cobiçado, mas não participaram
da marcha.
Durante o protesto, os manifestantes ganharam o apoio do senador Roberto Requião (PMDB-PR) e do deputado Valdemar
Costa Neto (PL-SP), recebidos
com vaias pelos manifestantes.
Frei Betto, um dos primeiros
oradores da manifestação, lembrou a absolvição, na semana passada, dos três oficiais da Polícia
Militar do Pará envolvidos na
morte de 19 sem-terra em Eldorado do Carajás.
Pediu que a platéia levantasse as
mãos e os braços e fizesse um minuto de silêncio.
Colaboraram Flávia de Leon e Daniel Bramatti, da Sucursal de Brasília, e Valéria de
Oliveira, free-lance para a Folha
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