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ELEIÇÕES 2006 / AMAPÁ
Carros oficiais são vistos diante do comitê de Sarney
TRE teve 1.200 denúncias, uma para cada 301 eleitores; metade trata de compra de votos
Outras candidaturas são acusadas de "almoçomício", de ofertas de extração de dente, laqueadura e doação de material de construção
MÁRIO MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL A MACAPÁ
Dois carros chamavam a
atenção ontem de manhã em
frente ao comitê eleitoral do
candidato à reeleição ao Senado José Sarney (PMDB-AP), no
bairro de Santa Rita, em Macapá. O do Ministério da Saúde tinha a inscrição "Vigilância em
Saúde". O da Infraero, empresa
pública vinculada ao Ministério da Defesa, "Uso exclusivo
em serviço". Os passageiros estavam no comitê. A legislação
veta o uso de veículos oficiais
em campanha eleitoral.
A possível irregularidade flagrada pela Folha não é única.
Até anteontem o serviço telefônico instalado pelo Tribunal
Regional Eleitoral do Amapá
recebera cerca de 1.200 denúncias -uma para cada 301 eleitores (são 360.614 no Amapá).
Até agora a Procuradoria Regional Eleitoral eleitoral de São
Paulo recebeu 200 via internet.
O disque-denúncia foi criado
para avisos de ilegalidades na
propaganda, mas 50% dos chamados cita compra de votos.
Os casos são tantos que o
procurador regional eleitoral,
Paulo Roberto Olegário de
Souza, empregou um neologismo em uma ação contra o governador Waldez Góes (PDT),
que busca se reeleger pela mesma coligação de Sarney: "almoçomício", o comício com distribuição gratuita de comida.
No domingo, foram apreendidos envelopes com dinheiro
que serviriam, conforme suspeita da PF, para pagar a atividade proibida de boca-de-urna.
O automóvel do Ministério
da Saúde diante comitê de Sarney era um Chevrolet, com placa "Brasil - NEX 7623". Na parte externa, estampava o slogan
"Um Brasil de Todos". O da Infraero, uma caminhonete Toyota, placa "Macapá NEP
4478". Dois homens que estiveram no comitê portavam
crachá da Infraero. Até ontem
o TRE não havia recebido denúncia sobre os carros.
A principal ação do Ministério Público tem 27 páginas e foi
apresentada na semana passada. Pede a cassação do registro
da candidatura ou (em caso de
eleição) do diploma de Waldez
Góes. A acusação é de compra
de votos e uso da máquina pública em dois "almoçomícios".
Os eventos foram realizados
em escola estadual e com a presença de funcionários com cargos de confiança. A direção liberou alunos e servidores mais
cedo para participarem do "almoçomício". Equipamentos do
colégio foram usados.
Dias depois de o MP ingressar com a ação, Góes e Sarney
estiveram em um jantar nos
mesmos moldes. Inexiste investigação sobre o evento.
O principal rival de Waldez,
João Alberto Capiberibe (PSB),
teve o mandato de senador cassado pelo TSE por acusação de
comprar votos.
Ontem o procurador pediu a
cassação do registro ou do diploma do deputado estadual
Ocivaldo Gato, o Gatinho (PL).
Dois cabos eleitorais seus e
uma eleitora foram presos
quando ela recebia areia em
um loteamento. Anotações em
poder dos três listam nomes de
pessoas, o que elas ganhariam
(até extrações de dente) e os
votos que cabalariam. Gatinho
faz parte da coligação encabeçada pelo PT ao governo do Estado e apóia Sarney.
O deputado Alexandre Barcellos (PSL) foi denunciado por
oferecer vaga para cirurgia de
laqueadura, desde que a paciente entregasse cópia de dez
títulos de eleitores que, presumivelmente, votariam nele. Na
mesa de cirurgia, os médicos
descobriram que duas mulheres estavam grávidas.
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