São Paulo, quarta-feira, 27 de setembro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / AMAPÁ

Carros oficiais são vistos diante do comitê de Sarney

TRE teve 1.200 denúncias, uma para cada 301 eleitores; metade trata de compra de votos

Outras candidaturas são acusadas de "almoçomício", de ofertas de extração de dente, laqueadura e doação de material de construção


MÁRIO MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL A MACAPÁ

Dois carros chamavam a atenção ontem de manhã em frente ao comitê eleitoral do candidato à reeleição ao Senado José Sarney (PMDB-AP), no bairro de Santa Rita, em Macapá. O do Ministério da Saúde tinha a inscrição "Vigilância em Saúde". O da Infraero, empresa pública vinculada ao Ministério da Defesa, "Uso exclusivo em serviço". Os passageiros estavam no comitê. A legislação veta o uso de veículos oficiais em campanha eleitoral.
A possível irregularidade flagrada pela Folha não é única. Até anteontem o serviço telefônico instalado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Amapá recebera cerca de 1.200 denúncias -uma para cada 301 eleitores (são 360.614 no Amapá). Até agora a Procuradoria Regional Eleitoral eleitoral de São Paulo recebeu 200 via internet.
O disque-denúncia foi criado para avisos de ilegalidades na propaganda, mas 50% dos chamados cita compra de votos.
Os casos são tantos que o procurador regional eleitoral, Paulo Roberto Olegário de Souza, empregou um neologismo em uma ação contra o governador Waldez Góes (PDT), que busca se reeleger pela mesma coligação de Sarney: "almoçomício", o comício com distribuição gratuita de comida.
No domingo, foram apreendidos envelopes com dinheiro que serviriam, conforme suspeita da PF, para pagar a atividade proibida de boca-de-urna.
O automóvel do Ministério da Saúde diante comitê de Sarney era um Chevrolet, com placa "Brasil - NEX 7623". Na parte externa, estampava o slogan "Um Brasil de Todos". O da Infraero, uma caminhonete Toyota, placa "Macapá NEP 4478". Dois homens que estiveram no comitê portavam crachá da Infraero. Até ontem o TRE não havia recebido denúncia sobre os carros.
A principal ação do Ministério Público tem 27 páginas e foi apresentada na semana passada. Pede a cassação do registro da candidatura ou (em caso de eleição) do diploma de Waldez Góes. A acusação é de compra de votos e uso da máquina pública em dois "almoçomícios".
Os eventos foram realizados em escola estadual e com a presença de funcionários com cargos de confiança. A direção liberou alunos e servidores mais cedo para participarem do "almoçomício". Equipamentos do colégio foram usados.
Dias depois de o MP ingressar com a ação, Góes e Sarney estiveram em um jantar nos mesmos moldes. Inexiste investigação sobre o evento.
O principal rival de Waldez, João Alberto Capiberibe (PSB), teve o mandato de senador cassado pelo TSE por acusação de comprar votos.
Ontem o procurador pediu a cassação do registro ou do diploma do deputado estadual Ocivaldo Gato, o Gatinho (PL). Dois cabos eleitorais seus e uma eleitora foram presos quando ela recebia areia em um loteamento. Anotações em poder dos três listam nomes de pessoas, o que elas ganhariam (até extrações de dente) e os votos que cabalariam. Gatinho faz parte da coligação encabeçada pelo PT ao governo do Estado e apóia Sarney.
O deputado Alexandre Barcellos (PSL) foi denunciado por oferecer vaga para cirurgia de laqueadura, desde que a paciente entregasse cópia de dez títulos de eleitores que, presumivelmente, votariam nele. Na mesa de cirurgia, os médicos descobriram que duas mulheres estavam grávidas.


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