São Paulo, quinta-feira, 27 de setembro de 2007

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Plenário tem tentativa de troca-troca explícito

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A negociação entre deputados federais para troca de partidos, que se intensificou nos últimos dias e tradicionalmente é assunto de reuniões confidenciais em restaurantes e gabinetes, agora ocorre às claras -nem o plenário da Câmara dos Deputados foi poupado.
A Folha presenciou ontem à tarde, em um intervalo da sessão que votava a CPMF, a tentativa de quatro deputados federais que estariam de malas prontas para o nanico PSL (Partido Social Liberal) de convencer um colega, Lael Varella (DEM-MG), a fazer o mesmo.
O grupo era liderado pelo deputado Alexandre Silveira (PPS-MG). Os outros três não foram identificados pela Folha. Varella, procurado mais tarde, confirmou a presença de Silveira, mas disse não lembrar quem eram os outros.
A abordagem aconteceu por volta das 14h50. No fundo do plenário, o grupo se aproximou de Varella, que estava sentado. "Lael, o que você ainda está fazendo no PFL [antigo nome do DEM]?", disse Silveira.
Ele se referia ao fato de Varella ser um dissidente na oposição e um nome que o governo cobiça para integrar sua base. Votou favoravelmente à CPMF, contrariando sua bancada, e foi um dos parlamentares que mais receberam emendas do governo nos últimos tempos: R$ 1,25 milhão entre dinheiro prometido e pago.
Varella não respondeu, e seu interlocutor prosseguiu. "Tem um grupo indo para o PSL." O deputado demonstrou não ter entendido: "PSL?".
Silveira explicou: "Partido Social Liberal. Tem quatro que estão querendo ir, precisamos de mais um, para ter estrutura de liderança. São 18 cargos". O PSL, que provavelmente se integraria à base do governo, hoje não tem representação na Câmara.
A estrutura a que o deputado se referiu compreende uma sala, uma equipe de assessores (até 18, nomeados sem concurso) e prerrogativas regimentais, como mais tempo para uso da tribuna.
Pelas regras da Câmara, são necessários cinco deputados no mínimo para obter tal privilégio, embora o PSOL, com apenas três, tenha conseguido uma liminar da Justiça.
O parlamentar assediado desconversou: "Estou bem lá [no DEM]". A sessão recomeçou e o grupo se dispersou.
Mais tarde, Varella declarou à Folha que vem recebendo convites freqüentes, mas que não deve mudar de legenda, embora esteja ameaçado de expulsão por ter apoiado a CPMF. O deputado Alexandre Silveira foi procurado ontem pela reportagem, mas não telefonou de volta.


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