São Paulo, quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Boxeadores cubanos estão abandonados, diz Itamaraty

Relatório afirma que atletas estão sem perspectivas de retomar as lutas profissionais

Texto enviado a comissão da Câmara relata que cubanos se queixam de recriminação por parte de colegas e de autoridades

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Quase dois meses depois de terem sido deportados pelo governo brasileiro, os boxeadores cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara permanecem abandonados à própria sorte em Havana, sem perspectivas de retomar as lutas profissionais e sem contato com antigos colegas da equipe de boxe.
É o que diz um relato de duas folhas e meia de um documento reservado encaminhado pelo ministro interino das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães, à Comissão de Relações Exteriores da Câmara.
"[Rigondeaux] continua treinando por conta própria à espera de uma comunicação oficial das autoridades desportivas sobre seu futuro", assinala o texto. O mesmo atleta também se queixou que "muitos de seus antigos companheiros daquela equipe estariam evitando manter contato com ele" e "teria voltado a se queixar do assédio dos jornalistas estrangeiros".
A situação de Lara seria ainda mais complexa. Segundo o documento, "por ser capitão da equipe de boxe cubana" no Pan, foi sobre ele que "recaiu maior carga de recriminação por parte das autoridades cubanas".
O chefe interino do Itamaraty faz uma previsão, a seguir: "Tudo parece indicar estar condenado ao esquecimento, sobretudo por não ter, até o momento, alcançado conquistas esportivas comparáveis às de seu companheiro."
De acordo com o documento assinado por Guimarães, as informações foram obtidas pelo embaixador brasileiro em Cuba, Bernardo Pericá.
A deportação de Rigondeaux, que é campeão olímpico, e Lara despertou interesse da imprensa mundial no mês passado.
Em menos de 48 horas, os atletas foram detidos irregularmente pela Polícia Federal na Região dos Lagos, no interior do Rio, interrogados duas vezes e embarcados em um jato executivo de prefixo venezuelano.
No final de agosto, o chanceler cubano Felipe Pérez Roque confirmou que houve contato entre Havana e Brasília para "propiciar e organizar" a volta dos pugilistas para a ilha de Fidel Castro. O governo brasileiro nega a ocorrência.
Para investigar o caso, a Comissão de Relações Exteriores da Câmara aprovou a ida de uma comitiva de deputados a Havana para visitar os atletas. O presidente da comissão, Vieira da Cunha (PDT-RS), solicitou informações ao Itamaraty, para organizar a viagem. O ofício de Guimarães responde a esse pedido de informações.
Segundo um jornalista ouvido pelo diplomata brasileiro, a deserção dos atletas interrompeu discussões em curso em Cuba de criar "pensões vitalícias" para ex-campeões olímpicos, "em valor substancialmente mais elevado do que a média dos salários recebidos".


Texto Anterior: MST protesta em SP contra projeto do governador
Próximo Texto: Imprensa: Polícia de GO prende suspeito de ter atirado em jornalista
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.