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ELEIÇÕES 2008 / SÃO PAULO
Pesquisadores de Kassab distribuem brindes
Promotora eleitoral vê, em tese, uma possível captação ilegal de votos; empresas de marketing dizem que "todos fazem isso"
Com câmera oculta, comitê de Alckmin flagrou entrega de presentes a participantes de "qualitativas" abordados em rua do centro da cidade
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Duas empresas que fazem o
marketing da campanha do
prefeito Gilberto Kassab
(DEM), encarregadas de fazer
pesquisas qualitativas, têm
abordado eleitores no centro
de São Paulo com a promessa
de distribuição de brindes.
Os eleitores são encaminhados a um escritório na rua
Araújo, perto da praça da República, onde assistem a vídeos de
campanha -incluindo um inédito no horário eleitoral da TV,
com ataques à candidatura do
ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB). Ao final, eles recebem um porta-retratos.
A lei 11.300/2006 proíbe a
distribuição de prêmios e brindes a eleitores. As empresas
APPM e Network reconheceram a entrega do presente, mas
alegam que a prática "é normal" e não fere a lei (leia texto à
pág. A26). Elas afirmam que se
trata de uma pesquisa qualitativa, na qual avaliam a recepção
do eleitor à propaganda eleitoral da televisão.
Em média, as equipes entrevistam cem eleitores por dia em
três locais diferentes.
Um vídeo gravado com a câmera escondida por um funcionário da campanha de Alckmin,
obtido pela Folha, confirmou a
entrega do brinde. No vídeo, de
22 minutos, a pesquisadora
aborda o "eleitor" com prancheta na mão e indaga se ele
aprova ou não a administração
de Kassab. Após uma primeira
hesitação, a pesquisadora associa resposta positiva do "eleitor" à entrega do brinde.
"Só tem que aprovar a gestão
dele [Kassab], porque você tem
que ver uma propaganda dele.
Você ganha um brinde", diz a
pesquisadora. Ela então acompanhou o cinegrafista até o escritório na rua Araújo, que tem
cinco atendentes. Pouco antes,
a funcionária recomendou:
"Mas tem que aprovar a administração do homem [Kassab].
No escritório, ele teve de assistir a vídeos de propaganda
eleitoral contra e a favor de
Kassab. Um dos filmetes que
contém críticas a Alckmin
nunca foi divulgado na TV. O
narrador diz que "Alckmin ataca Kassab por antigos apoios.
Mas Kassab sempre foi leal aos
tucanos". O vídeo afirma ainda
que Alckmin "está com o apoio
de [ex-prefeito Celso] Pitta e
[ex-presidente da República
Fernando] Collor". "Por que
ele esconde tudo isto e ataca
Kassab?", indaga o narrador.
O cinegrafista perguntou às
atendentes quantos eleitores
são ouvidos por dia naquele local. Calcularam 50 pessoas, em
média. Minutos depois, o cinegrafista saiu do prédio com o
presente na mão.
Na tarde da quarta-feira, a
Folha presenciou a pesquisadora prometer brindes para
três transeuntes. A reportagem
acompanhou ainda a saída de
três eleitoras com um pacote
nas mãos, uma caixa verde clara, idênticas à recebida pelo
funcionário do comitê de Alckmin que fez a gravação. Ontem,
as empresas franquearam o
acesso à sala onde ocorrem a
entrevista e a entrega do brindes. Ao receber o presente, o
eleitor assina um recibo.
A promotora eleitoral de São
Paulo Maria Amélia Nardi Pereira, que falou sobre o assunto
em tese, disse que o comportamento "pode caracterizar captação ilegal de sufrágio". "Eles
simulam. Faz de conta que estamos fazendo uma entrevista
em cima do eleitor indeciso. (...)
E faço um trabalho em cima, inclusive com brinde", descreveu
a promotora. "Eles sabem como a coisa funciona. Para não
fazer a coisa diretamente, fazem uma coisa enviesada."
Wendel Gomes, auxiliar de
uma seguradora, foi ouvido pela Folha logo após deixar o escritório na rua Araújo. Disse
que recebeu uma oferta de comida. "Perguntaram se eu queria alguma coisa para comer.
Tinha lá uma mesa. Mas eu não
quis nada", disse Gomes. Na
sexta-feira, após o contato feito
pela Folha, a empresa Network colocou um supervisor na
rua para observar as pesquisadoras, que também mudaram
de abordagem. O eleitor Rodrigo Souza, 21, disse que não lhe
foi oferecido brinde.
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