São Paulo, domingo, 27 de outubro de 2002

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JANIO DE FREITAS

Enfim

A esta hora o Brasil já tem novo presidente eleito. Pronto, o preço da gasolina já pode ser aumentado, enfim encerrada a decisão de contê-lo, apesar das compras de petróleo com o dólar elevado, para não prejudicar o candidato do governo.
Por melhor que tenha sido o desempenho de José Serra no debate de anteontem, a duração do dia de ontem era muito desproporcional à distância conquistada por Luiz Inácio Lula da Silva sobre seu adversário. A agravar a exiguidade de tempo para "a virada" anunciada por Serra, o debate, oportunidade derradeira, não introduziu na disputa um fato relevante de última hora, fosse legítimo ou antiético.
A maior animação do confronto foi ilusória, devida ao grotesco movimento de duas pessoas tensas, de pé, que não sabiam como andar, como ficar, nem para onde olhar no cenário despropositado. Grau de novidade temática ou política do debate: zero. Lula apegado às generalizações, Serra dando alguma justificativa à forma de arena do cenário, com sua persistência na tática de candidato-gladiador.
A antecipação com que o resultado eleitoral se evidencia ainda não autoriza, porém, comentários mais pormenorizados sobre os frutos diferentes que cabem aos dois candidatos, ao final da campanha, e o sentido mais profundo que esses dois destinos individuais têm para o país. Há que esperar o resultado formal. É um resguardo discutível, em relação às possíveis funções do comentarismo jornalístico, mas que parece justificável nas atuais circunstâncias do jornalismo de política e de economia na mídia brasileira - outro assunto para mais tarde.
Ainda assim, é inevitável o registro de que a mancha desta eleição está em Brasília. O que se passa na própria capital do país tem um nível de indecência sem precedente desde o fim da Velha República. Os métodos de Joaquim Roriz em seu primeiro governo já deveriam tê-lo expurgado da vida pública, senão até da vida social. Agravou esses métodos como candidato a um segundo governo, e assim foi eleito em 98. Para o pior, em todos os sentidos. Não faltou nada para o impeachment, como nada falta, há tempos, para a impugnação de sua recandidatura. Mas lá estão Roriz e seus comparsas em busca da reeleição. Para o pior.


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