São Paulo, domingo, 27 de outubro de 2002

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Primeiro desafio do PT seria acomodar legião de 'aliados'

DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos primeiros desafios de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na hipótese de confirmada sua eleição, será encaixar integrantes de seu partido, de legendas aliadas e representantes da sociedade civil em um primeiro escalão que não deverá ter mais de 25 vagas.
"É uma conta que não fecha", admite um integrante do comando petista que prefere o anonimato. "Lula vai ter de exercitar ao máximo sua capacidade de suportar pressões", diz.
A única certeza é que o núcleo político de um governo Lula seria composto por petistas das alas moderadas, com o núcleo econômico ficando a cargo de pessoas de fora do partido.
Em uma difícil equação, Lula precisaria ainda encontrar lugar no governo para aliados de primeiro hora, como o PL e o PC do B, além de contemplar as alas "esquerdas" do PT.
Partidos que apoiaram o petista no segundo turno, como PSB, PPS, PDT e PTB, também teriam seu quinhão. E, em nome da governabilidade -leia-se uma maioria no Congresso-, peemedebistas, pefelistas e até tucanos poderiam compor o governo.
O PL é um dos que já se movimentam. Quando fechou o acordo que deu a Lula o senador José Alencar (MG) como candidato a vice, o partido recebeu o aceno de que teria dois ministérios. Consciente da dificuldade de Lula em acomodar todos, o partido já receia que ficaria com no máximo uma pasta.
"A verdade é que a realização do segundo turno foi muito ruim para os objetivos do PL. Precisamos reforçar nossa condição de aliados preferenciais", diz um cacique do partido.
A solução seria acomodar o partido no segundo escalão, principalmente em estatais. Dentro do PL, há uma predileção por diretorias de empresas como Petrobras, Furnas, BR Distribuidora e Correios.
Também aliado de primeira hora, o PC do B quer um ministério. Fala-se na pasta dos Esportes para o deputado Aldo Rebelo (SP).
Quanto à "esquerda" do partido, espera uma única pasta, mas é possível que nem isso consiga. São nomes citados frequentemente dessa ala como possíveis integrantes do eventual governo o deputado federal Walter Pinheiro (BA) e o ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio.

Caciques com poder
Apesar de os presidenciáveis derrotados no primeiro turno Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB) provavelmente não entrarem pessoalmente no hipotético ministério de Lula, seus partidos deverão ser contemplados. Fala-se em ceder ao menos uma pasta a eles, mas certamente fora do núcleo principal da administração.
Situação diferente viveria o PMDB. Mesmo tendo estado formalmente coligado a José Serra (PSDB), o partido teve vários de seus quadros apoiando Lula desde o primeiro turno.
Pelo seu tamanho e capilaridade nos Estados, o partido discretamente já reivindica dois ministérios de peso num eventual governo. Um para a ala oposicionista e outro para os que se aliaram ao atual governo.
Outra característica de um eventual governo de Lula seria a influência de caciques regionais que apoiaram o petista.
Em especial, teriam voz ativa os ex-presidentes Itamar Franco e José Sarney, que, apesar das farpas trocadas com Lula no passado, foram aceitos pela campanha porque, avaliou o PT, emprestariam respeitabilidade ao petista.
Sarney, possível presidente do Senado em um mandato do petista, seria uma figura ouvida na nomeação de vários postos. Na reestruturação da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), por exemplo, deverá ter influência.
Segundo dizem integrantes da coordenação de Lula, influência ainda maior de Sarney junto ao governo ocorreria na interlocução com os militares, com os quais tem bom trânsito. Sua opinião deverá ser levada em conta na hora de definir o titular da Defesa. (FÁBIO ZANINI E PLÍNIO FRAGA)


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