São Paulo, domingo, 27 de outubro de 2002

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PARANÁ

Ex-governadores e ex-aliados, Requião (PMDB) e Alvaro (PDT) trocaram farpas durante toda a campanha

Ex-aliados, Requião e Alvaro apóiam Lula

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

Se Luiz Inácio Lula da Silva for eleito presidente, hoje, o Paraná terá um governador alinhado com o governo federal seja qual for o escolhido pela população paranaense neste domingo. E Roberto Requião (PMDB), 61, e Alvaro Dias (PDT), 57, que apóiam Lula no segundo turno, chegam às urnas hoje com o peemedebista em vantagem nas pesquisas.
Não são as únicas coincidências dos dois concorrentes. Ambos já governaram o Paraná no PMDB e já experimentaram derrotas em disputas com o atual governador, Jaime Lerner (PFL). Alvaro perdeu em 94, e Requião, em 98.
Outras coincidências: ambos são senadores e ex-integrantes do mesmo grupo político no Estado.
Mas as coincidências param por aí. Depois da perda do poder para o grupo de Lerner, os hoje adversários patrocinaram um lento distanciamento, que levou à troca de agressões e farpas em entrevistas e debates desde o primeiro turno, além de disputarem a autoria das maiores obras realizadas no Paraná antes de perderem o poder para o grupo de Lerner.

Equilíbrio e desequilíbrio
Alvaro classifica Requião de "desequilibrado", na conta do destempero verbal. Recebe de troco a pecha de "equilibrista", pela troca de partidos que já fez e pelas alianças que promove. Eles digladiaram até o último dia de propaganda eleitoral, anteontem.
Pesquisa do Ibope realizada e divulgada ontem apontou uma virada de Requião na preferência do eleitorado. Ele tem 54% dos votos válidos, e Alvaro, 46%. Com isso, ele desfez a situação de empate que até então prevalecia.
Alvaro chegou na frente no primeiro turno, com 31,40% dos votos válidos, contra 26,18% do peemedebista. A diferença pró-Alvaro representou cerca de 300 mil votos, que Requião já teria conseguido descontar com a adesão de PT, PPS e PL à sua campanha, incrementada pela "onda Lula".
Recentemente, Requião procurou aproximar-se da esquerda. Encontrou reciprocidade no PT, com quem convive ora em harmonia, ora aos trancos, desde 94.
Praticante da negociação política, Alvaro não persegue ideologia. Fecha acordos com ex-adversários em nome do objetivo eleitoral, sem dificuldades. Abrigado no PDT depois de pressionado a deixar o PSDB, se aliou nesta eleição com PTB e PPB.
No segundo turno, comprometeu seu discurso de oposição a Lerner, atraindo o apoio do hoje interlocutor do grupo em vias de apear do poder estadual, o prefeito de Curitiba, Cassio Taniguchi (PFL). Na campanha de 1998, Alvaro fechou um acordo branco com Lerner. O PFL não lançou candidato ao Senado e o PSDB (então partido de Alvaro) não disputou o governo, enquanto Requião se aliava com o PT.
O eventual governo Requião representará o fortalecimento da oposição ao PFL no Estado. Ele terá trânsito livre com um eventual governo Lula, de quem recebe apoio e, em 2004, será o articulador da aliança PMDB-PT às prefeituras. Se não houver rachas pelo caminho, essa união vai tentar desbancar o PFL também da Prefeitura de Curitiba.
Com Alvaro no governo, as forças políticas do Estado se pulverizam. Caciques do PTB e do PPB terão espaço garantido, os pefelistas de Lerner ganharão novo fôlego, e o PSDB comandado pelo grupo de Euclides Scalco e José Richa encontrará espaço fértil para crescer como nova força política, de oposição ao governo.


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