São Paulo, domingo, 27 de outubro de 2002

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PT está atrás nas principais disputas pelos governos estaduais onde há segundo turno; tucanos podem sair vitoriosos nos maiores redutos eleitorais, com São Paulo

"Onda Lula" não se repete nos Estados

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Luiz Inácio Lula da Silva pode ser eleito hoje presidente da República com uma votação recorde, mas o PT está atrás nas principais disputas pelos governos estaduais onde há segundo turno. Os candidatos petistas também não são francos favoritos em nenhuma das eleições para as quais há pesquisas disponíveis.
Segundo pesquisas de vários institutos, o PT deve perder as eleições para os governos de São Paulo e do Rio Grande do Sul. No caso gaúcho, confirmadas as pesquisas, será uma derrota de grande relevância política, pois o partido conquistou esse Estado em 1998 e governa a capital, Porto Alegre, há mais tempo.
Já o PSDB pode amargar uma derrota com José Serra na eleição presidencial, mas garantiu pelo menos uma posição importante (Aécio Neves foi eleito no primeiro turno governador de Minas Gerais). Além disso, os tucanos podem continuar a governar o Estado com mais eleitores do país, São Paulo, pois Geraldo Alckmin aparece com folga à frente do seu adversário, José Genoino (PT), nas pesquisas de opinião.
O mais importante na hora de verificar qual partido ganhou cada uma das diversas disputas estaduais é saber quantos eleitores são governados. Nessa categoria, o PSDB está na frente. No primeiro turno, ao ficar em definitivo com os governos de Minas Gerais e Goiás, o PSDB já garantiu um colégio de 16 milhões de eleitores governados. O PT conquistou apenas os Estados do Acre e do Piauí no primeiro turno -que só somam 2,2 milhões de eleitores.
Hoje, serão escolhidos governadores para 13 Estados e para o Distrito Federal. Mais da metade das disputas estão em situação de empate técnico, segundo as pesquisas. Só em São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte há favoritos bem definidos.
Considerando-se os números das pesquisas disponíveis e os casos em que há candidatos favoritos, o PT poderá (se vencer em todos os locais onde seu candidato está em empate técnico com o adversário) governar oito unidades da Federação a partir do ano que vem -Acre e Piauí (já garantidos) e Amapá, Ceará, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Pará e Sergipe. O eleitorado total governado seria de 14,9 milhões.
A comparação com o PSDB é amplamente favorável aos tucanos. Se os tucanos vencerem em todas as disputas em que têm alguma chance ou são favoritos, ficariam também com um máximo de oito Estados, como o PT.
A diferença é o número de eleitores governados. Se forem bem-sucedidos nas disputas de hoje, os tucanos governarão a partir de 2003 até 54,7 milhões de eleitores, ou 47,5% do eleitorado nacional.
Como em quatro Estados os tucanos enfrentam petistas, é impossível que ambos os partidos saiam vitoriosos em todas as disputas. O PSDB é favorito em São Paulo (25,7 milhões de eleitores), e o eleitorado total governado pelos tucanos nos Estados será certamente muito maior do que aquele que ficar sob a égide de governadores petistas.
O contraste entre o PT e o PSDB é que os petistas tendem a governar Estados acima do Trópico de Capricórnio -ficarão de fora das regiões Sul e Sudeste.
Já o PSDB deve conquistar importantes posições no chamado "Triângulo das Bermudas" político, composto por São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Ao governar os mineiros e os paulistas, os tucanos voltarão para próximo da posição que desfrutaram apenas um vez, no auge do Plano Real, quando conquistaram os três Estados em 1994.
Chama a atenção também na futura geopolítica dos Estados o PMDB, partido que estava alijado do Sul e do Sudeste. Agora, os peemedebistas têm chances de retomar 100% de uma dessas regiões. Há candidatos competitivos do PMDB no Rio Grande do Sul (Germano Rigotto), Santa Catarina (Luiz Henrique da Silveira) e Paraná (Roberto Requião).
Mesmo se os três vencerem (Rigotto é favorito; Luiz Henrique e Requião estão em situação de empate técnico com seus adversários), infelizmente para o PMDB, nada indica que será reconquistada a unidade interna na sigla.
Roberto Requião, do Paraná, é mais próximo do PT do que da direção de seu partido. Luiz Henrique da Silveira, por conveniência eleitoral, está apoiando Lula para presidente. Mas faz isso porque foi preterido para o posto de candidato a vice-presidente na chapa de José Serra -e porque o tucano se aliou ao governador de Santa Catarina, Esperidião Amin (PPB), que tenta a reeleição.
Com a vitória que obteve no primeiro turno (só em Pernambuco), o PMDB já garantiu que governará um eleitorado de 5,4 milhões. Se conseguir vencer nos locais onde disputa hoje o segundo turno, chegará a seis unidades da Federação e um eleitorado total governado de 27 milhões -quase o dobro do potencial do PT.
Essa força dos partidos tradicionais nos Estados é uma demonstração de como um eventual governo Lula dependerá de muito mais negociação com governadores do que foi necessário para o presidente Fernando Henrique Cardoso, a partir de 1995.
Apenas 8 das 27 unidades da Federação concentram 70,6% do eleitorado do país -81,353 milhões. Os petistas têm apenas alguma chance mais clara de vitória no menor desses oito Estados, o Ceará -ainda assim estão em situação de empate técnico com o adversário local, o senador Lúcio Alcântara (PSDB). Os governadores não-petistas que hoje dão apoio a Lula também tendem a refluir após concluído o pleito.
O exemplo mais vistoso é o de Rosinha Garotinho (PSB), governadora eleita do Rio. Ela e o marido, Anthony Garotinho (PSB), disseram apoiar Lula. Mas fazem parte de um grupo que pretende disputar a Presidência em 2006.
Aécio Neves, que governará Minas Gerais, tem bom trânsito entre os petistas. Mas ele é uma das alternativas de seu partido para disputar o Planalto em 2006 e também não será um apaixonado defensor de um presidente do PT.
FHC assumiu o Planalto em janeiro de 1995 com seis governadores do PSDB, sendo três deles em São Paulo, Rio e Minas. Além disso, teve o suporte da maioria de outros 14 Estados governados pelo PMDB, PFL e PPB. O PT tinha apenas dois Estados e representava pouca oposição.


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