São Paulo, quinta-feira, 27 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CASO CELSO DANIEL

Álvaro Dias afirma que fitas gravadas em 2002 mostram chefe-de-gabinete de Lula dizendo que discutiu estratégia de defesa com deputado

Carvalho e Dirceu traçaram "tática", diz tucano

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

As 42 fitas cassete gravadas a partir de escutas telefônicas ilegais, feitas pela Polícia Federal entre janeiro e março de 2002, foram usadas pela oposição contra Gilberto Carvalho, chefe-de-gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na acareação de ontem na CPI dos Bingos entre Carvalho e os irmãos de Celso Daniel.
Parte das informações das fitas, com trechos divulgados durante o depoimento de Carvalho pelo senador tucano Álvaro Dias (PSDB-PR), levaram o assessor de Lula a defender o empresário Sérgio Gomes da Silva, conhecido como Sombra, acusado pelo Ministério Público Estadual de ser o mandante do assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel, assassinado em janeiro de 2002.
As gravações são ilegais porque a Polícia Federal, ao pedir autorização da Justiça Estadual para a escuta, disse que grampearia traficantes de drogas, mas acabou fazendo escutas de petistas, incluindo Carvalho. Elas começaram a ser feitas no dia 24 de janeiro, quatro dias depois da morte de Celso Daniel.
As 42 fitas gravadas revelariam suposta articulação promovida pelo PT para evitar turbulências na campanha presidencial do então candidato Lula.
Anteontem, o juiz federal afastado João Carlos da Rocha Mattos, preso há dois anos por formação de quadrilha, mas que teve acesso às fitas em 2002 quando era juiz, disse à CPI que Carvalho comanda uma "operação abafa" e que as fitas seriam provas.
A CPI conseguiu cópias oficiais das fitas na Justiça Federal em São Paulo e as colocou à disposição dos senadores. Não deixou, porém, Dias apresentar áudio de parte das 13 horas de gravações.
Dias leu então trechos que havia anotado das gravações. "Gilberto Carvalho diz [na gravação] que ele e [o deputado Luiz Eduardo] Greenhalgh [que atuou como advogado do PT nas investigações do assassinato] foram preparar os meninos para depor na polícia. Depois diz que teve uma reunião com [o deputado] José Dirceu para discutir a tática."
Em outro trecho, o senador leu que "Gilberto Carvalho fala com Sombra, reafirma que vai encontrar Dirceu para discutir a tática".
Ainda conforme o senador tucano, há outro trecho em que "Klinger [Oliveira Souza, ex-vereador do PT, acusado de participar da corrupção em Santo André] diz que Gilberto vai indicar um advogado criminalista para pegar o caso de Sombra".
Carvalho respondeu: "Eu não tenho medo da verdade se essas fitas forem apresentadas integralmente. Não há nenhum comprometimento. A Polícia [Civil] na época dirigia as investigações contra pessoas da Prefeitura de Santo André. Não se tratava de encobrir a verdade".
Sobre Gomes da Silva, Carvalho disse que "até hoje não há nenhuma condenação contra ele". "Naquele momento, Sérgio era o grande amigo de Celso Daniel. Não há nehuma prova de que Sérgio tenha mandado matar."
Em novembro de 2003, a Folha teve acesso à degravação oficial dos diálogos. As 42 fitas e suas cópias deveriam ter sido queimadas por ordem de Rocha Mattos. Semanas depois, cópias das conversas em CD começaram a circular entre políticos e jornalistas.
Há diferenças entre a degravação e os CDs. Algumas conversas registradas na transcrição desaparecem de alguns CDs. (HUDSON CORRÊA E LILIAN CHRISTOFOLETTI)


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