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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CASO CELSO DANIEL
Álvaro Dias afirma que fitas gravadas em 2002 mostram chefe-de-gabinete de Lula dizendo que discutiu estratégia de defesa com deputado
Carvalho e Dirceu traçaram "tática", diz tucano
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
As 42 fitas cassete gravadas a
partir de escutas telefônicas ilegais, feitas pela Polícia Federal entre janeiro e março de 2002, foram
usadas pela oposição contra Gilberto Carvalho, chefe-de-gabinete do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, na acareação de ontem
na CPI dos Bingos entre Carvalho
e os irmãos de Celso Daniel.
Parte das informações das fitas,
com trechos divulgados durante o
depoimento de Carvalho pelo senador tucano Álvaro Dias (PSDB-PR), levaram o assessor de Lula a
defender o empresário Sérgio Gomes da Silva, conhecido como
Sombra, acusado pelo Ministério
Público Estadual de ser o mandante do assassinato do prefeito
de Santo André Celso Daniel, assassinado em janeiro de 2002.
As gravações são ilegais porque
a Polícia Federal, ao pedir autorização da Justiça Estadual para a
escuta, disse que grampearia traficantes de drogas, mas acabou fazendo escutas de petistas, incluindo Carvalho. Elas começaram a
ser feitas no dia 24 de janeiro,
quatro dias depois da morte de
Celso Daniel.
As 42 fitas gravadas revelariam
suposta articulação promovida
pelo PT para evitar turbulências
na campanha presidencial do então candidato Lula.
Anteontem, o juiz federal afastado João Carlos da Rocha Mattos, preso há dois anos por formação de quadrilha, mas que teve
acesso às fitas em 2002 quando
era juiz, disse à CPI que Carvalho
comanda uma "operação abafa" e
que as fitas seriam provas.
A CPI conseguiu cópias oficiais
das fitas na Justiça Federal em São
Paulo e as colocou à disposição
dos senadores. Não deixou, porém, Dias apresentar áudio de
parte das 13 horas de gravações.
Dias leu então trechos que havia
anotado das gravações. "Gilberto
Carvalho diz [na gravação] que
ele e [o deputado Luiz Eduardo]
Greenhalgh [que atuou como advogado do PT nas investigações
do assassinato] foram preparar os
meninos para depor na polícia.
Depois diz que teve uma reunião
com [o deputado] José Dirceu para discutir a tática."
Em outro trecho, o senador leu
que "Gilberto Carvalho fala com
Sombra, reafirma que vai encontrar Dirceu para discutir a tática".
Ainda conforme o senador tucano, há outro trecho em que
"Klinger [Oliveira Souza, ex-vereador do PT, acusado de participar da corrupção em Santo André] diz que Gilberto vai indicar
um advogado criminalista para
pegar o caso de Sombra".
Carvalho respondeu: "Eu não
tenho medo da verdade se essas
fitas forem apresentadas integralmente. Não há nenhum comprometimento. A Polícia [Civil] na
época dirigia as investigações
contra pessoas da Prefeitura de
Santo André. Não se tratava de
encobrir a verdade".
Sobre Gomes da Silva, Carvalho
disse que "até hoje não há nenhuma condenação contra ele". "Naquele momento, Sérgio era o
grande amigo de Celso Daniel.
Não há nehuma prova de que Sérgio tenha mandado matar."
Em novembro de 2003, a Folha
teve acesso à degravação oficial
dos diálogos. As 42 fitas e suas cópias deveriam ter sido queimadas
por ordem de Rocha Mattos. Semanas depois, cópias das conversas em CD começaram a circular
entre políticos e jornalistas.
Há diferenças entre a degravação e os CDs. Algumas conversas
registradas na transcrição desaparecem de alguns CDs.
(HUDSON CORRÊA E LILIAN CHRISTOFOLETTI)
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