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ANÁLISE
Decisão deve demorar mais alguns anos
RODRIGO RÖTZSCH
EDITOR DE MUNDO
A acalorada discussão no
Congresso brasileiro em torno
da aprovação ou não da entrada
da Venezuela no Mercosul esbarra no bizantinismo, pois ignora um dado prático no qual o
Brasil não tem como influir: a
paralisia total no trâmite da
questão no Paraguai, indispensável para a ratificação do ingresso, que deve ser unânime.
O acordo para a adesão foi assinado em julho de 2006. Já em
novembro daquele ano, foi ratificado pelo Congresso uruguaio. No mês seguinte, a Argentina fez o mesmo. Desde então, Caracas aguarda o aval de
Brasília e de Assunção.
Se no Brasil a discussão é difícil, no Paraguai é pior: ela inexiste. Há alguns meses, constatando não ter os votos para que
a iniciativa fosse aprovada, o
governo Fernando Lugo retirou o projeto da pauta do Congresso. Além de reconhecer a
falta de apoio parlamentar ao
projeto, o chanceler paraguaio
apontou o dedo para o Brasil ao
explicar a desistência: "Neste
ano já não vale a pena insistir
no tema porque o Congresso
brasileiro não está aprovando a
inclusão da Venezuela no bloco, e é preciso consenso".
Mesmo se o Brasil aprovar o
ingresso venezuelano, a situação no Paraguai não deve mudar tão cedo. Aliado de Hugo
Chávez, Lugo tem o apoio de só
14 dos 45 senadores e de 29 dos
80 deputados; as próximas eleições legislativas só acontecem
em 2013, concomitantemente
com as presidenciais.
Até lá, já terão mudado os
presidentes e os Congressos de
Argentina, Uruguai e do Brasil.
Talvez até na Venezuela -Chávez buscará sua terceira reeleição em 2012. Todas essas mudanças podem levar as partes a
mudar de ideia sobre a adesão
venezuelana ao bloco. Luis Alberto Lacalle, por exemplo, que
estava no poder no Uruguai
quando o Mercosul foi criado e
tenta voltar à Presidência no
mês que vem em segundo turno contra José Mujica, é contra
o ingresso venezuelano. No
Brasil e na Argentina, pode
acontecer coisa parecida.
Uruguai e Paraguai, aliás,
com ou sem Venezuela, já se
consideram prejudicados no
Mercosul pelos sócios maiores.
A economia venezuelana, de
pouco mais de US$ 300 bilhões
no ano passado, não se compara à do Brasil, mas faz do país
um gigante na comparação
com o Paraguai, que mal passa
dos US$ 15 bilhões. As famosas
assimetrias que Assunção denuncia no bloco só aumentariam com o ingresso do novo
membro. Que por esses e outros motivos ainda deve passar
mais alguns anos no papel.
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