São Paulo, terça-feira, 27 de outubro de 2009

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ANÁLISE

Decisão deve demorar mais alguns anos

RODRIGO RÖTZSCH
EDITOR DE MUNDO

A acalorada discussão no Congresso brasileiro em torno da aprovação ou não da entrada da Venezuela no Mercosul esbarra no bizantinismo, pois ignora um dado prático no qual o Brasil não tem como influir: a paralisia total no trâmite da questão no Paraguai, indispensável para a ratificação do ingresso, que deve ser unânime.
O acordo para a adesão foi assinado em julho de 2006. Já em novembro daquele ano, foi ratificado pelo Congresso uruguaio. No mês seguinte, a Argentina fez o mesmo. Desde então, Caracas aguarda o aval de Brasília e de Assunção.
Se no Brasil a discussão é difícil, no Paraguai é pior: ela inexiste. Há alguns meses, constatando não ter os votos para que a iniciativa fosse aprovada, o governo Fernando Lugo retirou o projeto da pauta do Congresso. Além de reconhecer a falta de apoio parlamentar ao projeto, o chanceler paraguaio apontou o dedo para o Brasil ao explicar a desistência: "Neste ano já não vale a pena insistir no tema porque o Congresso brasileiro não está aprovando a inclusão da Venezuela no bloco, e é preciso consenso".
Mesmo se o Brasil aprovar o ingresso venezuelano, a situação no Paraguai não deve mudar tão cedo. Aliado de Hugo Chávez, Lugo tem o apoio de só 14 dos 45 senadores e de 29 dos 80 deputados; as próximas eleições legislativas só acontecem em 2013, concomitantemente com as presidenciais.
Até lá, já terão mudado os presidentes e os Congressos de Argentina, Uruguai e do Brasil. Talvez até na Venezuela -Chávez buscará sua terceira reeleição em 2012. Todas essas mudanças podem levar as partes a mudar de ideia sobre a adesão venezuelana ao bloco. Luis Alberto Lacalle, por exemplo, que estava no poder no Uruguai quando o Mercosul foi criado e tenta voltar à Presidência no mês que vem em segundo turno contra José Mujica, é contra o ingresso venezuelano. No Brasil e na Argentina, pode acontecer coisa parecida.
Uruguai e Paraguai, aliás, com ou sem Venezuela, já se consideram prejudicados no Mercosul pelos sócios maiores. A economia venezuelana, de pouco mais de US$ 300 bilhões no ano passado, não se compara à do Brasil, mas faz do país um gigante na comparação com o Paraguai, que mal passa dos US$ 15 bilhões. As famosas assimetrias que Assunção denuncia no bloco só aumentariam com o ingresso do novo membro. Que por esses e outros motivos ainda deve passar mais alguns anos no papel.


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