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Índios vão gerir posto de pedágio em MT
Medida faz parte de acordo entre Funai, Ibama e governo para permitir asfaltamento da estrada que atravessa a área da etnia
Cobrança já é realizada pelos índios de maneira informal há mais de uma década e, segundo a Funai, R$ 240 mil são arrecadados por mês
RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ
O governo de Mato Grosso
irá construir postos de pedágio
para que índios da etnia pareci
cobrem pela passagem de carros, caminhões e motos em um
trecho de 52 km da rodovia estadual MT-235, que liga os municípios de Sapezal e Campo
Novo do Parecis (450 km de
Cuiabá). Os próprios índios vão
fazer a cobrança.
A medida faz parte de acordo
firmado com Funai e Ibama para permitir o asfaltamento da
chamada "Rodovia do Índio",
que atravessa a área da etnia e
foi inaugurada sábado pelo governador Blairo Maggi (PR).
Aprovada pelos plantadores
de soja -Sapezal é um dos
maiores produtores de grãos do
país e sofria com os atoleiros-,
a obra também recebeu o aval
das duas principais associações
que representam os parecis, a
Halitinã e a Waimaré.
A institucionalização da cobrança, que já é feita informalmente pelos índios há mais de
uma década, poderá ampliar a
arrecadação média atual, que
segundo a Funai chega hoje a
R$ 240 mil mensais -cerca de
R$ 8.000 por dia.
A estrada foi aberta em 1984,
com um acordo entre uma associação de produtores rurais
da região e líderes parecis. Durante o período de chuvas, ficava praticamente intransitável.
Em 2002, as duas associações que representam os índios
chegaram a entrar com uma
ação judicial para impedir o asfaltamento de uma rota alternativa até Sapezal, que contornava a área dos parecis.
"Há muito tempo os índios
buscavam esse entendimento
de permitir o asfalto e manter o
pedágio", disse o administrador da Funai na região, Carlos
Márcio Vieira Barros.
Carros de até quatro toneladas pagarão R$ 10 pela travessia. Acima desse peso, a taxa será de R$ 25. Condutores de motos pagarão R$ 5. O posto deve
ser inaugurado em janeiro.
Atualmente, o valor do pedágio "informal" varia de acordo
com a disposição dos índios. A
verba vai toda para as associações. Com a inauguração do pedágio oficial, o dinheiro continuará sendo administrado pelos índios, mas a Funai vai
acompanhar o processo.
Segundo o órgão, será necessário instituir um novo modelo
de uso e destinação da verba.
"São 2.000 índios e sempre
há o risco de a verba se pulverizar. Mas, se bem empregado,
esse dinheiro permitirá investir em obras e melhorar a educação e a saúde nas aldeias",
afirmou Barros.
Blairo Maggi se declarou favorável ao pedágio. "Se os brancos cobram, porque o índio não
pode cobrar? Eu sempre fui um
dos defensores do pedágio."
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