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RORAIMA
Esquema dos "gafanhotos" envolveria pagamento a funcionários-fantasmas; desvio chegaria a 70% da folha do Estado
PF prende ex-governador e mais 40 pessoas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA
Em uma operação denominada
"Praga do Egito" pela Polícia Federal, foram presas ontem 41 pessoas, entre elas o ex-governador
de Roraima Neudo Ribeiro Campos (PP), por suposto envolvimento com o esquema conhecido
como "escândalo dos gafanhotos". Houve cumprimento de
mandados de prisão em três Estados: Amazonas, Distrito Federal e
Roraima.
O "escândalo dos gafanhotos"
revelou, de acordo com a investigação da PF e do Ministério Público, uma fraude de cerca de R$ 230
milhões em recursos públicos estaduais e federais.
"A fraude não era muito sofisticada e contava com a total falta de
organização do Estado. Consistia,
basicamente, no tráfico de influência de uma importante pessoa da sociedade, com poder suficiente para fazer constar nomes
na folha de pagamento do Estado", relata o juiz-substituto Helder Cirão Barreto em despacho.
O esquema começou a ser investigado em setembro de 2002,
quando a Folha divulgou a existência dos "gafanhotos" -funcionários-fantasmas- na folha
de pagamento do Estado. Foram
abertos 39 inquéritos.
Há suspeita ainda de desvio de
dinheiro obtido por meio de 24
convênios estaduais com a União,
que totalizam R$ 225,5 milhões. A
PF também apura fraudes relacionadas à apropriação de benefícios
do INSS (Instituto Nacional do
Seguro Social).
As prisões realizadas ontem são
temporárias e têm por objetivo
imobilizar a suposta quadrilha.
Neudo Campos foi detido no
início da manhã na casa de sua
mulher, a deputada federal Suely
Campos (PP-RR), em Brasília.
Os suspeitos vinham, segundo o
despacho de Barreto, "dificultando a colheita de provas, sobretudo
o depoimento de pessoas humildes, que foram usadas como "gafanhotos'".
Segundo uma das testemunhas
ouvidas pela PF, em alguns meses
o desvio na folha de pagamento
chegava a 70% -R$ 3,5 milhões
de um total de R$ 5 milhões.
Os nomes dos servidores-fantasmas eram "indicados por ex-deputados ou conselheiros do
Tribunal de Contas do Estado,
dentro de cotas estipuladas pelo
ex-governador Neudo Ribeiro
Campos", anota Barreto no despacho.
A partir daí, cada "gafanhoto"
teria o salário retirado por um
procurador.
A PF batizou a investigação de
Operação Praga do Egito, uma referência a uma das dez pragas lançadas por Moisés contra o faraó
egípcio descritas na Bíblia -uma
nuvem de gafanhotos que exterminou as plantações.
Manifestações em Boa Vista
As prisões feitas ontem em Boa
Vista geraram diversas manifestações públicas na capital. Em
frente à cadeia pública para onde
os investigados no esquema gafanhoto estavam sendo levados,
centenas de pessoas se aglomeraram durante todo o dia.
Entre os presos estavam ex-deputados estaduais, parentes de
atuais parlamentares e de membros do Tribunal de Contas do Estado, além de funcionários do primeiro e segundo escalões do governo Flamarion Portela (PT).
A Polícia Militar não estimou a
quantidade de pessoas que se
aglomerou em frente à cadeia pública. Com fogos, palmas, cartazes
e palavras de ordem, as prisões
eram comemoradas uma a uma.
Os internos da cadeia, segundo
relatos de policias, estavam "em
festa" com a chegada dos presos.
Por diversas vezes ontem, os manifestantes cantaram o Hino Nacional e diziam que a "justiça" estava sendo feita em Boa Vista.
"A população sentiu na pele todo esse esquema de desvio de dinheiro público com reflexos nas
precárias condições de saúde, de
trabalho e de vida em Roraima.
As manifestações representam
um desabafo do povo", afirmou o
procurador da República em Roraima Carlos Fernando Mazzocco, um dos membros da força-tarefa.
(IURI DANTAS e JAIRO MARQUES)
Colaborou Talita Figueiredo, da Sucursal
de Brasília
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