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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ RUMO A 2006
Especialistas em imagem e marketing político acreditam que desgaste de ministros afetará imagem do presidente para 2006
Para analistas, fritura de equipe mina Lula
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
O cai-não-cai a que o ministro
Antonio Palocci esteve sujeito no
início da semana passada é mais
uma pedra (retirada) na desconstrução de uma das fortalezas do
vitorioso Luiz Inácio Lula da Silva
em 2002, que, segundo dois dos
principais analistas de imagem e
marketing político do país, fará
falta em 2006 e tornará mais fraco
o candidato-presidente.
O trunfo descartado por Lula ao
consumir e fritar integrantes fundamentais de seu governo, como
os ex-ministros José Dirceu (Casa
Civil) e Cristovam Buarque (Educação), é o de uma equipe "petista" sólida e bem preparada, o de
um político bem assessorado
-características que se perdem
para a próxima eleição.
Isso, para o sociólogo Antonio
Lavareda e o cientista político
Marcos Coimbra, é ainda mais
importante para um candidato
que, segundo eles, ainda em 2002
era percebido como tendo falhas
em seus preparo e capacidade administrativa. A equipe, mais do
que para políticos como Fernando Henrique Cardoso (ex-presidente) e José Serra (prefeito de
São Paulo), estava ali para compensar as supostas limitações que
o eleitorado via em seu líder (dos
assessores, claro).
Não à toa, a imagem que sintetizava esse casamento, bolada por
Duda Mendonça (outro membro
da equipe que periga ter sido, ele
também, descartado), abria quase
toda inserção televisiva de Lula
em 2002:
Era o locutor anunciar o programa -"atenção, Brasil; começa
agora o programa "Lula presidente'"- e a câmera passeava horizontalmente diante de várias mesas, em que estrelas petistas reunidas apareciam com ar de grandes
planos, compenetradas, discutindo, apontando canetas para papéis, lendo alguma coisa enigmática num laptop. Aí surgia o candidato, apoiando as mãos nos
ombros de um ou dois especialistas, com gráficos e mapa do Brasil
pregados na parede ao fundo.
"Um dos componentes mais
importantes da imagem do Lula,
quando, em 2002, ele se elegeu
presidente, foi o de que ele possuía um grupo muito bom de pessoas em torno dele. Essa idéia foi
decisiva para ajudar os eleitores a,
digamos, relevar as deficiências
de currículo que ele próprio tinha
aos olhos de uma parcela muito
grande da opinião pública brasileira", afirma Marcos Coimbra,
cientista político e diretor de pesquisas do Instituto Vox Populi.
"Ao longo desses quase três
anos, o que vimos foi de um lado a
perda de imagem dessa equipe
-o questionamento da competência em muitas áreas foi se tornando comum- e a simples destituição, demissão de outros ao
longo do caminho."
Lavareda, sociólogo e "guru" de
imagem e estratégia para pefelistas, concorda. Diz que a suposta
"ausência de preparo e de solidez
administrativa" de Lula era compensada "por uma expectativa generalizada de que teria uma boa
assessoria, que ia montar ou realizar um ministério competente".
"Agora até as pessoas que defendem [a inocência de Lula nas
acusações de corrupção e compra
de votos em seu governo] têm a
percepção de que Lula foi ou é
mal assessorado", afirma Lavareda. "Isso prejudica demais."
"No caso do Lula, isso é extremamente danoso. É mais danoso
do que para um candidato que
não tenha esse déficit de imagem
nessa questão", continua o sociólogo, para quem a sociedade
"capta" a fragilidade do presidente no quesito "equipe" a partir "da
queda de seus inúmeros assessores e ministros".
Palocci
Para Coimbra, ainda que não tenha caído, o caso do ministro da
Fazenda joga água nesse moinho
e torna Lula, cada vez mais, "um
homem só".
"O Palocci hoje não é mais o de
uma semana atrás. Fico sempre
perplexo quando vejo essas coisas. É mais uma instância em que
o PT mostra que sua capacidade
de criar problemas para si próprio
é sempre surpreendente. Você
não pode ter um ministro da Fazenda em uma economia vulnerável como a brasileira cuja autoridade é pequena. E o único saldo
de tudo que aconteceu é que o Palocci hoje é muito menor do que
era", diz, sobre as críticas sofridas
pela Fazenda por parte do governo -como a ministra Dilma
Rousseff (Casa Civil) e o presidente do BNDES, Guido Mantega.
É preciso entender, diz o cientista político, que, "quando votaram
em Lula em 2002, não votaram no
salvador da pátria; votaram no
Lula do PT". "E, hoje, da turma do
PT, Palocci é provavelmente o
que restou. Do ponto de vista popular, é o Palocci."
Coimbra afirma, portanto, que
"Lula está ficando cada dia mais
sozinho para disputar a eleição
contra a turma do PSDB". "E isso
é muito importante para o eleitor.
Ele não imagina, por mais bonita
que seja a biografia e por melhores que sejam as intenções, que alguém consiga fazer as coisas sozinho. A turma da aliança [dos partidos aliados] está toda acuada,
para dizer o mínimo. E a turma do
PT está a cada dia menor."
Questionado se a tal imagem de
bem assessorado e de detentor de
uma equipe competente e coesa
não seria mais importante para o
eleitor de classe média do que para os pobres, bastião da popularidade e de votos para Lula, Coimbra afirma que, de um lado, há
eleitores bem informados em todas as camadas da população, que
são geralmente formadores de
opinião, e, de outro, que "não basta ter presença nessa faixa [dos
mais pobres]". "É preciso muito
mais do que isso para ganhar uma
eleição majoritária."
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