São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 2006

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D. Cláudio vê "hipocrisia" nas críticas a padres

"Se há problemas graves, isso é 0,01% talvez; mas 99% são bravos padres, generosos", diz cardeal, que assumirá posto na Cúria

Nomeado prefeito da Congregação para o Clero, d. Cláudio diz que é preciso rigor na seleção "para que depois não haja problemas"

DA REPORTAGEM LOCAL

Em celebração na Catedral da Sé onde se despediu ontem da Arquidiocese de São Paulo, dom Cláudio Hummes, 72, atacou a "hipocrisia" na generalização das críticas aos padres e defendeu uma "seleção rigorosa" para os candidatos à função de sacerdote.
Foi uma referência ao trabalho que pretende fazer como prefeito da Congregação para o Clero -responsável no Vaticano pela formação de padres em todo o mundo. Depois de oito anos como arcebispo de São Paulo, d. Cláudio foi nomeado para o cargo em 31 de outubro e viaja no próximo sábado para Roma para assumi-lo.
O posto é estratégico devido à diminuição das vocações para a vida religiosa e às acusações de pedofilia que membros da igreja passaram a enfrentar.
"Se há problemas graves [com os padres], isso é 0,01% talvez. Mas 99% são bravos padres, generosos. Um caso grave só já seria de grande preocupação. Mas que não se diga "os padres", que não é verdade. Seria muito hipócrita dizer isso", afirmou o cardeal no sermão.
Embora não tenha feito menção direta ontem, d. Cláudio tem repetido que a pedofilia é uma preocupação da sociedade, e não só da igreja.
O cardeal afirmou que o rigor na seleção para os seminários ajudará a diminuir os problemas: "Temos de selecionar rigorosamente os candidatos para que depois não haja problemas. É melhor para a própria pessoa... Se [é selecionada e] passa por problemas depois, sua vida estará estragada."
Esse maior rigor na escolha é uma marca da gestão de d. Claudio em São Paulo e é considerado um dos motivos pelos quais ele foi escolhido pelo Vaticano para o cargo. Segundo o próprio d. Claudio houve redução do número de homossexuais na arquidiocese.

Visita a Lula
Na catedral lotada -segundo os organizadores, havia 5.000 pessoas-, d. Cláudio ouviu discursos de agradecimento do governador de São Paulo, Claudio Lembo (PFL), do prefeito da cidade, Gilberto Kassab (PFL), do rabino Henri Sobel, de representantes da igreja e dos movimentos sociais. O ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) esteve na cerimônia.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) representou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que enviou uma mensagem ao cardeal que foi lida na missa. Lula receberá d. Cláudio em Brasília amanhã à tarde.
Segundo o cardeal, até o fim do ano o papa Bento 16 deve nomear o novo arcebispo de São Paulo: "Há muito trabalho a fazer na preparação da visita do papa ao Brasil, em maio", argumentou. A escolha é importante também porque o posto em São Paulo é "cardinalício": tradicionalmente, os arcebispos são nomeados cardeais.
D. Odilo Scherer, secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), é um dos cotados para o cargo. São também mencionados o bispo-auxiliar Pedro Luiz Stringhini, do bairro do Belém, e d. Orani Tempesta, arcebispo de Belém. (FLÁVIA MARREIRO)


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