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Jobim pede à FAB que não indique qual o melhor caça
Ministro diz que, independentemente disso, decisão final será mesmo do presidente
Em setembro, o presidente da comissão que avalia o negócio, brigadeiro Dirceu Noro, disse que iria apontar um vencedor do processo
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Defesa, Nelson
Jobim, disse que pediu à FAB
(Força Aérea Brasileira) que
não indicasse um vencedor em
sua avaliação técnica dos concorrentes ao fornecimento de
36 novos caças ao Brasil.
Mais: afirmou por meio de
sua assessoria que "a expectativa é que o relatório venha conforme solicitado", "mas, independentemente da forma [do
texto]", "o que vale é a avaliação
final feita pelo presidente da
República".
Para Jobim, que diz ter pedido só os prós e contras de cada
concorrente em itens como
preço e transferência tecnológica, "tudo o mais são insumos
para essa decisão" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em setembro, o presidente
da comissão que avalia o negócio de estimados R$ 10 bilhões,
brigadeiro Dirceu Noro, afirmara que iria haver um vencedor do processo seletivo. A declaração foi dada após a gafe de
Lula, que havia anunciado a escolha do francês Dassault Rafale durante visita do seu colega
Nicolas Sarkozy, esquecendo
de esperar a conclusão da avaliação técnica da FAB.
Desconforto
Houve desconforto na Força,
e o comandante Juniti Saito
chegou a ameaçar entregar o
cargo. Os finalistas do processo,
suecos e americanos, além dos
franceses, já haviam entregado
suas propostas finais. O processo foi reaberto e eles foram instados a revê-las.
Desde então o Planalto e a
Defesa tentam capitalizar a
confusão como uma forma de
pressionar pela queda nos custos. Em especial o preço do Rafale, naquela altura 40% superior ao do Boeing F/A-18 americano e o dobro do oferecido
pelo Saab Gripen NG sueco.
Ao mesmo tempo, em reiteradas declarações, o governo
manteve sua preferência pelo
Rafale. O Brasil, afinal, acabara
de assinar um acordo militar
para fornecimento de submarinos e helicópteros de R$ 22,5
bilhões e uma parceria estratégica com Paris.
Antes do anúncio de setembro, Jobim já havia dito que esperava um relatório indicativo,
mas não conclusivo, da FAB. A
declaração de então à Folha
por Dirceu Noro colocou lenha
na fogueira: se os militares escolhessem um avião que não o
francês, colocariam os políticos
em uma saia justa.
O "timing" da nova "solicitação" de Jobim não é fortuito.
Todos os concorrentes reapresentaram propostas prometendo corte de custo. Questionada,
a Aeronáutica não divulgou oficialmente, mas certamente o
tema foi debatido na reunião
de Alto Comando que ocorreu
entre anteontem e ontem.
Há incômodo na FAB com o
que alguns oficiais consideram
desprezo civil por seu trabalho.
O processo transcorreu com
prazos fixos e produziu mais de
25 mil páginas sobre cada um
dos aviões e suas propostas.
Um representante de um dos
concorrentes, experiente de
outras campanhas de venda,
diz nunca ter visto análise tão
detalhista.
Nos bastidores, os concorrentes consideram que a reunião seria decisiva para o relatório da disputa, conhecida pelo código F-X2 -o "2" para diferenciá-la do malogrado programa abandonado em 2005.
Apesar das movimentações
oficiais finais, como a visita do
ministro da Defesa sueco a Jobim anteontem, os olhos do governo estão voltados para o
quartel-general da Dassault.
Conforme a Folha apurou,
para o caso ser dado por encerrado com os franceses, é tudo
uma questão de a promessa política de Sarkozy a Lula tornar-se realidade da proposta empresarial. O presidente francês
prometeu ao brasileiro que o
Rafale seria barateado e que
cargueiros em desenvolvimento pela Embraer seriam comprados pela França -ou seja,
misturou decisões privadas e
estatais na conversa, o que não
é inusitado em negócios de defesa, mas que levanta dúvidas.
Havia a expectativa entre as
empresas de que o encontro
ontem de Lula e Sarkozy em
Manaus, aliado à reunião da
FAB, fechasse algum diagnóstico. Jobim, contudo, viajou para
o encontro de ministros da Defesa no Equador, o que deverá
adiar qualquer anúncio por
mais alguns dias. Ou não.
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