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Minério radioativo é extraído sem fiscalização no AP, diz PF
Polícia afirma que não faz apreensão de torianita por não ter onde guardar o material
Minério é negociado na rede clandestina por até US$ 300 o quilo; só há um inquérito ainda em andamento sobre o contrabando de torianita
BRENO COSTA
PABLO SOLANO
DA AGÊNCIA FOLHA
A extração e o comércio ilegais de torianita -minério radioativo que contém urânio, tório e um tipo de chumbo usado
na montagem de reatores nucleares e bombas de nêutrons-
estão correndo livremente no
extremo norte do país há dez
meses, sem fiscalização.
O diagnóstico é de quem deveria coibir o contrabando. A
Polícia Federal do Amapá, que
investiga o comércio clandestino desde 2004 -ano da primeira apreensão de torianita no
Estado-, diz que não tem onde
guardar o material e, por isso,
apesar de receber denúncias,
não pode fazer apreensões.
"A investigação foi praticamente suspensa por estarmos
de mãos atadas e não podermos
apreender nem um quilo de minério", afirma o delegado da PF
Felipe Alcântara. Toda extração de torianita é ilegal no país.
Alcântara preside o único inquérito ainda em andamento
sobre o contrabando do minério, que, de acordo com a PF, é
negociada na rede clandestina
por até US$ 300 o quilo.
Outros cinco foram encerrados com o indiciamento dos intermediários, mas sem chegar
aos destinatários, diz a PF. Todos os indiciados respondem a
processo em liberdade por danos ambientais e nucleares.
No início das investigações
sobre o contrabando, há quatro
anos, havia participação até do
Serviço Antiterrorismo da PF
em Brasília. O delegado Ademir
Dias Cardoso Júnior, ex-chefe
do Serviço Antiterrorismo da
PF, diz que a unidade "aportou
recursos materiais e humanos
para tentar investigar, tendo
em vista a sensibilidade do tema e o interesse nacional".
No entanto, diz que a participação da unidade foi interrompida após o vazamento do inquérito a uma revista semanal,
em 2006, e, desde então, a investigação é conduzida só pela
Superintendência da PF no
Amapá. Ele diz que nunca foi
produzido relatório conclusivo
sobre o destino da torianita.
Desde fevereiro, quando
apreendeu cerca de 1,1 tonelada
do minério, a PF não faz mais
apreensões. O minério, escuro
e com densidade alta (um copo
de 250 ml de torianita pesa 2,5
kg), é encontrado nas margens
de um afluente do rio Araguari,
na região central do Amapá.
O delegado teve de recorrer à
Justiça para que a Cnen (Comissão Nacional de Energia
Nuclear) enviasse técnicos ao
Estado para retirar o material e
levá-lo a um laboratório do órgão em Poços de Caldas (MG).
O recolhimento só foi feito
em setembro, mas a PF diz que
o problema não foi resolvido.
Alcântara quer que a Cnen
construa um depósito no Amapá para armazenar o material.
Ele já recorreu novamente à
Justiça, que não se manifestou.
O responsável pelo recebimento da torianita pela Cnen,
Antônio Luís Quinelato, afirma
que não está entre as funções
da comissão receber minérios
apreendidos. Ele defende a
construção de um depósito,
mas diz que o assunto ainda
não foi debatido na Cnen.
O material era armazenado
provisoriamente em tonéis no
Batalhão de Polícia Militar Ambiental, em Santana (22 km de
Macapá). Mas o comandante
do batalhão, coronel Sérgio do
Nascimento, comunicou à PF
que não quer mais torianita nas
dependências do batalhão.
Segundo o coronel, a unidade
abriga projetos sociais, e a presença de material radioativo
poderia colocar em risco a saúde de quem circula por ali.
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