São Paulo, domingo, 27 de dezembro de 1998

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RUMO A 2002
1998 mina candidatos naturais à sucessão de Fernando Henrique Cardoso em vários partidos
Doenças e derrotas atingem presidenciáveis

do Conselho Editorial


O ano de 1998 funcionou quase como um exterminador do futuro para presumíveis presidenciáveis de 2002.
Começou cedo, em abril, com a morte do deputado Luís Eduardo Magalhães (BA), candidato natural do PFL para a sucessão de Fernando Henrique Cardoso, na mais que provável hipótese de que, em 2002, o casamento com o PSDB termine com um divórcio ruidoso.
O próprio PSDB viu nascer uma candidatura natural, a do governador Mário Covas (SP).
Governador de São Paulo é sempre um presidenciável por definição. Fica ainda mais forte quando consegue, como Covas, um segundo mandato à frente do principal Estado do país.
Mas à vitória eleitoral seguiu-se um câncer na bexiga que criou um enorme ponto de interrogação sobre o futuro político e eleitoral do governador.
² Males eleitorais
Males eleitorais, e não físicos, machucaram outro presidenciável, Paulo Maluf (PPB).
A derrota no segundo turno em São Paulo, para Covas, demonstrou que o número de antimalufistas supera o de malufistas.
Se é assim em São Paulo, o coração do malufismo, suas dificuldades eleitorais no resto do país tendem a ser quase insuperáveis.
Outra das vítimas de 1998 foi Luiz Inácio Lula da Silva, o eterno presidenciável do PT, tanto que foi três vezes candidato ao Planalto e três vezes perdeu.
Claro que a Constituição não proíbe que candidatos derrotados três vezes façam uma quarta tentativa. Mas, pela primeira vez em 20 anos de história do partido, Lula começa a deixar de ser o candidato natural do PT.
Tudo somado, chega a ser irônico que os dois únicos nomes que terminam o ano com alguma força para 2002 pertençam ao partido que saiu mais machucado das urnas de outubro passado, o PMDB.
Afinal, enquanto ainda havia a chance de que o PMDB tivesse candidato próprio em 98, Itamar Franco e José Sarney apareciam nas pesquisas com algo em torno de 10% das intenções de voto, um razoável capital inicial.
Os dois reforçaram suas posições pelo contraste com a derrota de vários dos caciques peemedebistas, inclusive e principalmente a do mais forte presidenciável do partido, o governador gaúcho Antônio Britto (para não mencionar o goiano Iris Rezende e o paraense Jader Barbalho).
É óbvio que, no deserto de candidaturas naturais que 1998 criou ou reforçou, melhoram as perspectivas de Itamar e Sarney.
²
Biorritmo de Covas
No caso do PSDB, a busca de uma candidatura presidencial seguirá o biorritmo de Covas. Cada exame de resultados positivos tende a reforçar sua candidatura antes absolutamente natural.
Tão natural que o baralho "tucano" já estava com as principais cartas distribuídas: o ministro José Serra (Saúde), que quer ser presidente, admitia recolher-se à disputa pelo governo de São Paulo.
O ministro Paulo Renato (Educação), que quer ser governador e presidente, disputaria o Senado, conforme, de resto, já anunciou publicamente. Se os exames futuros de Covas forem negativos ou se ele preferir encerrar a carreira para cuidar-se melhor no futuro, as cartas terão que ser distribuídas de novo e entra no jogo o governador do Ceará, Tasso Jereissati.
No PFL, ao contrário, o jogo está virtualmente zerado. Além de Luís Eduardo, o partido sofreu outra baixa na lista de presidenciáveis, com a derrota de César Maia para o governo do Rio.
Resta-lhe Jaime Lerner, governador do Paraná, que, no entanto, nem é parte do círculo que decide as políticas pefelistas nem tem nome nacional.
Sobra mesmo o senador Antonio Carlos Magalhães, presidente do Congresso e principal cacique partidário, que só não será candidato se não quiser.
Mas os que conhecem bem ACM dizem que seu conhecido voluntarismo só vai até o ponto de não correr riscos excessivos, como seria uma eleição nacional para um político de prestígio eleitoral apenas regional.
O PT ficou em situação parecida com a do PFL. Sem Lula -se este achar mais prudente não concorrer uma quarta vez-, não há um único nome natural no partido para substituí-lo.
É claro que, com sua vitória no Rio Grande do Sul, subiu muito a cotação de Olívio Dutra. Mas trata-se ainda de nome muito regional e que, ademais, terá que enfrentar o duro teste de demonstrar eficiência administrativa no mais importante naco de poder até agora arrancado das urnas pelo PT.
² Campo nivelado
Tudo somado, parece claro que 1998 foi o ano que nivelou o campo de jogo de 2002 para todos os principais partidos.
A menos que Mário Covas se recupere plenamente, todos eles terão que começar do zero a busca do nome para disputar o lugar de Fernando Henrique.
O presidente, aliás, também foi "exterminado" como candidato presidencial, já que obteve a segunda eleição consecutiva, limite máximo previsto na Constituição, pelo menos até agora.
(CLÓVIS ROSSI)


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