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Ex-coronel diz que governador nada fez para impedir atentado
DA ENVIADA ESPECIAL A MACEIÓ
O ex-coronel Manoel Francisco
Cavalcante, pivô da crise iniciada
pelas cartas deixadas pelo ex-policial José Cícero Carlota, afirma
que o governador Ronaldo Lessa
"não fez nada para impedir" que
o ex-policial tentasse matá-lo.
Nas cartas, Carlota diz que Lessa
pagou a ele Cz$ 200 mil, quando
prefeito, para matar o então coronel, acusado de ser o responsável
pela morte do delegado Ricardo
Lessa, irmão do governador. Cavalcante diz que foi o ex-prefeito
de Batalha, Zé Miguel, o culpado
pelo assassinato de Lessa, por vingança. O ex-prefeito foi morto em
99. O crime nunca foi elucidado.
O ex-coronel Cavalcante tem
quatro processos em fase de recurso no Tribunal de Justiça do
Estado. Está preso desde janeiro
de 98 e foi condenado em primeira instância a 30 anos de prisão. A
seguir, trechos da entrevista concedida à Folha na terça-feira da
semana passada, no presídio Baldomero Cavalcante, em Maceió.
Folha - O senhor havia dito, antes
da divulgação das cartas, que não
se sentia seguro no presídio e temia estar nas mãos do governo Lessa. O sr. se sente seguro agora?
Manoel Francisco Cavalcante -
Naquela época, foi descoberto um
plano para me matar aqui dentro
do presídio. E nós comunicamos
ao então secretário de Justiça, o
dr. Rubens Quintela, e pedimos
que nos fossem dadas garantias
de integridade física. Hoje, com
essa equipe da PM, eu me sinto totalmente seguro.
Folha - O senhor não quer ir para
Brasília?
Cavalcante - Não só não quero
como acho uma estupidez. Ainda
estou respondendo a processos
aqui no Estado, onde tenho família. E, como estou sendo perseguido injustamente, tive três irmãos
assassinados, era justo que temesse pela minha segurança.
Folha - O senhor não cometeu os
crimes de que é acusado?
Cavalcante - Não, nenhum.
Folha - Por que o senhor acha que
está preso, então?
Cavalcante - Eu fui candidato a
deputado estadual quando ninguém queria que eu fosse. O governador Manoel Gomes de Barros pediu para eu não sair, e eu
teimei. E aí eles armaram para me
matar, mas eu me cerquei de seguranças e consegui impedir. Por
isso acabei preso. E até hoje tenho
processo parado três anos no TJ.
Folha - De quais crimes o senhor é
acusado?
Cavalcante - Estou sendo processado por receptação, por porte
ilegal de armas e agora pela morte
do irmão do ex-governador, que
era um homem violento e nunca
respondeu por nenhum crime.
Com a minha prisão, eles reformularam o processo, me colocaram como culpado. Em Alagoas,
quando alguém não consegue solucionar um crime, encontra alguém para assumi-lo. No caso do
irmão do governador, ninguém
quis assumir. Quando fui preso
virei culpado de tudo.
Folha - O senhor acredita que as
cartas de Carlota são verossímeis?
Cavalcante - As cartas contam
cenas verdadeiras em várias coisas. Há ali uma reunião da qual eu
participei que foi daquele jeito
mesmo. E o próprio governador
confirmou ter sido procurado por
Carlota com a proposta de me
matar. Mas ele não fez nada para
impedir, só disse para ele esquecer. Então, o julgamento é seu e da
sociedade. O crime está sendo
apurado, não quero entrar no mérito. Se fosse eu, iria procurar uma
autoridade e comunicar o fato. Isso é o que manda a lei, quando alguém não quer participar do crime.
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