São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 2001

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Ex-coronel diz que governador nada fez para impedir atentado

DA ENVIADA ESPECIAL A MACEIÓ

O ex-coronel Manoel Francisco Cavalcante, pivô da crise iniciada pelas cartas deixadas pelo ex-policial José Cícero Carlota, afirma que o governador Ronaldo Lessa "não fez nada para impedir" que o ex-policial tentasse matá-lo.
Nas cartas, Carlota diz que Lessa pagou a ele Cz$ 200 mil, quando prefeito, para matar o então coronel, acusado de ser o responsável pela morte do delegado Ricardo Lessa, irmão do governador. Cavalcante diz que foi o ex-prefeito de Batalha, Zé Miguel, o culpado pelo assassinato de Lessa, por vingança. O ex-prefeito foi morto em 99. O crime nunca foi elucidado.
O ex-coronel Cavalcante tem quatro processos em fase de recurso no Tribunal de Justiça do Estado. Está preso desde janeiro de 98 e foi condenado em primeira instância a 30 anos de prisão. A seguir, trechos da entrevista concedida à Folha na terça-feira da semana passada, no presídio Baldomero Cavalcante, em Maceió.

Folha - O senhor havia dito, antes da divulgação das cartas, que não se sentia seguro no presídio e temia estar nas mãos do governo Lessa. O sr. se sente seguro agora?
Manoel Francisco Cavalcante -
Naquela época, foi descoberto um plano para me matar aqui dentro do presídio. E nós comunicamos ao então secretário de Justiça, o dr. Rubens Quintela, e pedimos que nos fossem dadas garantias de integridade física. Hoje, com essa equipe da PM, eu me sinto totalmente seguro.

Folha - O senhor não quer ir para Brasília?
Cavalcante -
Não só não quero como acho uma estupidez. Ainda estou respondendo a processos aqui no Estado, onde tenho família. E, como estou sendo perseguido injustamente, tive três irmãos assassinados, era justo que temesse pela minha segurança.

Folha - O senhor não cometeu os crimes de que é acusado?
Cavalcante -
Não, nenhum.

Folha - Por que o senhor acha que está preso, então?
Cavalcante -
Eu fui candidato a deputado estadual quando ninguém queria que eu fosse. O governador Manoel Gomes de Barros pediu para eu não sair, e eu teimei. E aí eles armaram para me matar, mas eu me cerquei de seguranças e consegui impedir. Por isso acabei preso. E até hoje tenho processo parado três anos no TJ.

Folha - De quais crimes o senhor é acusado?
Cavalcante -
Estou sendo processado por receptação, por porte ilegal de armas e agora pela morte do irmão do ex-governador, que era um homem violento e nunca respondeu por nenhum crime. Com a minha prisão, eles reformularam o processo, me colocaram como culpado. Em Alagoas, quando alguém não consegue solucionar um crime, encontra alguém para assumi-lo. No caso do irmão do governador, ninguém quis assumir. Quando fui preso virei culpado de tudo.

Folha - O senhor acredita que as cartas de Carlota são verossímeis?
Cavalcante -
As cartas contam cenas verdadeiras em várias coisas. Há ali uma reunião da qual eu participei que foi daquele jeito mesmo. E o próprio governador confirmou ter sido procurado por Carlota com a proposta de me matar. Mas ele não fez nada para impedir, só disse para ele esquecer. Então, o julgamento é seu e da sociedade. O crime está sendo apurado, não quero entrar no mérito. Se fosse eu, iria procurar uma autoridade e comunicar o fato. Isso é o que manda a lei, quando alguém não quer participar do crime.



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