São Paulo, quarta-feira, 28 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GIRO INTERNACIONAL

Na Índia, presidente busca fortalecer G3 de olho em vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU

Lula volta a defender a reforma da ONU

GABRIELA ATHIAS
ENVIADA ESPECIAL A NOVA DÉLI

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender ontem, em Nova Déli, a reforma das Nações Unidas. O objetivo da mudança é alterar a atual correlação de forças existente na instituição e dar mais poder aos países pobres.
"Estamos lutando muito para que haja um processo de democratização da ONU", disse o presidente durante entrevista.
Lula está na Índia desde o dia 23. A visita que o presidente brasileiro faz ao país tem caráter comercial e político. O Brasil tem especial interesse em fortalecer o comércio com a Índia, país de 1 bilhão de habitantes e com um mercado consumidor estimado em 200 milhões de pessoas.
Além do comércio bilateral, o presidente brasileiro quer também fortalecer o chamado G3, grupo formado por Brasil, Índia e África do Sul, com a intenção de aumentar sua força nas negociações internacionais e obter um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
O Brasil faz parte da comissão que estuda a reforma da ONU para posteriormente apresentar uma proposta de mudança.
Uma das principais bandeiras da mudança é justamente o aumento dos assentos permanentes do Conselho de Segurança, um dos principais objetivos do Brasil e de outros países em desenvolvimento. Os membros permanentes do conselho são EUA, China, França, Reino Unido e Rússia.
Outro ponto importante para os países que defendem a reforma é o fim do direito de veto, que permite a um único país derrubar a posição da maioria.
"Obviamente, se permanecer o poder de veto de um país sobre o outro, a democracia estará comprometida", afirmou o presidente brasileiro.

Organismos multilaterais
O presidente também voltou a defender a importância dos organismos multilaterais. Disse que eles contribuem para a manutenção da paz no mundo. No entanto, ressaltou que, para que essas instituições sejam fortes, é preciso que sejam "mais democráticas, representativas e independentes".
Na semana passada, em Mumbai, durante o Fórum Social Mundial, Marco Aurélio Garcia, assessor para assuntos internacionais de Lula, participou de um debate sobre a reforma da ONU. Disse que o objetivo do G3, além de intensificar as relações comerciais, é atuar conjuntamente nas negociações no âmbito da instituição.
Unidos, disse ele, esses três países teriam mais força para lutar, por exemplo, pelo aumento do número de membros no Conselho de Segurança da ONU.
As discussões sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) também dominaram parte da agenda do presidente brasileiro ontem, em Nova Déli.
"Já não somos mais tão dependentes assim", disse Lula a jornalistas, ao falar sobre as alianças comerciais que os países mais pobres começam a fazer.

Alca e as barreiras
A aliança entre os países emergentes é vista pela diplomacia brasileira como uma alternativa às barreiras tarifárias que hoje são impostas pelos países ricos no âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio).
"A União Européia e os Estados Unidos vão continuar mantendo os subsídios enquanto perceberem que não temos uma força alternativa de contraposição", respondeu Lula a um jornalista que lhe perguntou sobre eventuais retaliações impostas pelos EUA ao Brasil e aos outros membros dos blocos comerciais "alternativos".
O presidente afirmou que não se trata de ser contra ou a favor da Alca. O que deve ser questionado, disse, é se o modelo dessa zona de livre comércio vai realmente beneficiar os mais pobres.
"Temos que levar a discussão sobre a Alca para o campo da seriedade para que nossos produtos não sejam vítimas de subsídios", afirmou Lula.
Segundo o presidente, a criação dessas novas alianças ampliou o horizonte dos menos desenvolvidos. "A criação do G20 e do G3 demonstra que nós nos descobrimos enquanto potência".


Texto Anterior: No gabinete: Alencar é alvo de nova apuração na Procuradoria
Próximo Texto: Gafes de Lula
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.