DA ENVIADA ESPECIAL A PORTO ALEGRE
DE BUENOS AIRES

A fala improvisada e empolgada para mais de 10 mil pessoas no Ginásio de Esportes Gigantinho, em Porto Alegre, levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a cometer pelo menos dois enganos constrangedores em seu discurso.
Ao falar das mudanças na América Latina, especialmente na Argentina, Lula trocou o nome do atual presidente Néstor Kirchner pelo o do ex-presidente argentino Carlos Menem (1989-1999), a quem havia criticado pouco antes. "Há pouco mais de dois anos, um país importante como a Argentina sequer tinha visão de eleger um presidente da República porque se imaginava que o Menem seria presidente da República", disse o petista.
Em seguida, confundiu os nomes: "O que aconteceu na Argentina é que o companheiro Menem assumiu a presidência da Argentina e está mudando não apenas a relação do governo com seu povo, mas está contribuindo para mudar a relação entre os Estados na América Latina".
A gafe cometida por Lula foi noticiada com destaque ontem pela imprensa argentina.
Pouco antes, o presidente tinha se referido à esta edição do Fórum Social Mundial como a "terceira versão", enquanto o evento está na sua quinta edição.
"Perguntar para mim se um outro mundo é possível é desnecessário, seria apenas necessário olhar o que aconteceu com o Fórum Social Mundial nesta sua terceira versão e a gente constatar que ele está mais rigoroso, mais participativo e pela primeira vez assumindo a responsabilidade de transformar um problema crônico da humanidade como tema prioritário", afirmou.
As duas gafes do presidente brasileiro foram cometidas nos primeiros 10 minutos de discurso. Sem demonstrar constrangimento, Lula seguiu sua fala improvisada, recorrendo a poucos papéis para ajudá-lo com números referentes à economia.
Na íntegra do discurso divulgado ontem pela Secretaria de Imprensa da Presidência, a troca feita por Lula dos nomes dos presidentes argentinos foi corrigida.

Na Argentina
A gafe do presidente Lula repercutiu na Argentina. Foi noticiada com destaque por emissoras de rádio, canais de TV e pela internet, nas edições eletrônicas dos principais jornais do país.
"Lula foi traído pelo inconsciente", disse a locutora da rádio de notícias Mitre (do grupo Clarín), antes de apresentar a notícia.
O jornal "Ambito Financiero", que apóia o ex-presidente Carlos Menem classificou o episódio como um "tropeço".
O engano do presidente brasileiro recebeu destaque muito mais amplo do que lapso semelhante cometido anteontem pelo primeiro-ministro espanhol, José Luís Rodríguez Zapatero, em visita oficial à Argentina. Tratando o presidente argentino Néstor Kirchner por seu prenome, Zapatero chamou-o de Ernesto.
Inimigo político de Menem, Kirchner não costuma citar seu nome e procura construir uma imagem de austeridade oposta à opulência da era menemista. Quando se refere ao ex-presidente, em geral Kirchner diz "aquele que hoje responde a processos".
Carlos Menem é investigado pela Justiça argentina por suposta "omissão maliciosa de bens" (não teria declarado contas na Suíça) e "superfaturamento de obras" durante a sua gestão.


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