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ELIO GASPARI
O superchefe da Casa Civil é um megaperigo
O pacote econômico transformou Dilma Rousseff em uma superministra de um urso que come seus donos
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DESDE A SEMANA passada há dois
tipos de ministros: Dilma Rousseff e os demais. A concentração
de tantos poderes nas mãos do chefe da
Casa Civil é uma experiência comprovadamente perigosa. O colapso do comissariado de José Dirceu, ungido
"técnico do time" por Nosso Guia, não
é apenas uma má lembrança. É a sinalização de um erro.
A Casa Civil é a última instância do
acesso de pessoas e de problemas ao
presidente. Faltam-lhe quadros e estrutura para tocar planos de governo.
FFHH foi um mestre na arte de simular a outorga de coordenações ao ministro Clóvis Carvalho. Em setembro
de 1999, quando o tucanato lançou a
opereta "Avança Brasil", o doutor cumpriu o mesmo papel dado a Dilma na
segunda. Resultou em quase nada.
A idéia de expandir a autoridade e a
exposição do chefe da Casa Civil nunca
deu certo. Foram três os seus titulares
com grande visibilidade, todos desastrosos para si e para os presidentes:
Lourival Fontes, no segundo governo
de Getúlio Vargas; Quintanilha Ribeiro, com Jânio Quadros; Darcy Ribeiro,
com João Goulart; e José Dirceu.
Se a exibição associou-se ao fracasso,
a discrição ligou-se ao êxito. João Leitão de Abreu, o mais poderoso de todos
os chefes da Casa Civil, senhor de baraço e cutelo da administração no governo do general Médici (1969-1974), não
falava e só aparecia em reuniões oficiais. Não tem verbete na Wikipédia. (O
general Golbery do Couto e Silva que
ocupou o cargo de 1974 a 1981, não teve
o poder de Leitão e sua notoriedade tinha mais a ver com maquinações de
bastidores e lendas construídas a partir
do seu silêncio público.)
Os grandes chefes da Casa Civil tiveram mais uma característica: não alimentavam projeto político individual.
De uma lista de 30 pessoas que ocuparam o cargo desde 1936, a maioria perdeu-se no pó dos tempos. Quatro foram
para o Supremo Tribunal Federal e
dois para os das Contas. Nenhum foi levado por voto popular para nenhum
cargo executivo. (Marco Maciel, duas
vezes vice-presidente, não conta.)
Ainda está para nascer quem queira
impor a Dilma Rousseff limites para
seu projeto político. Ela chegou à chefia
do Gabinete Civil com mais de 30 anos
de militâncias, alguns deles vividos na
cadeia. Estava na faculdade quando seu
nome entrou numa lista de 61 pessoas
da organização em que atuava, todas
procuradas pela ditadura. Onze morreram, com a idade média de 25 anos.
Em benefício do arranjo atual, deve-se registrar que Dilma não acumula
funções ostensivas de articulação política. Em prejuízo desse mesmo arranjo,
pela primeira vez um projeto de desenvolvimento foi anunciado sem a presença do ministro do Planejamento. O
doutor Paulo Bernardo, titular da pasta, estava em Amsterdã, num compromisso oficial. Não fez falta, pois esteve
ao largo da concepção do pacote.
Dilma Rousseff corre um risco adicional. Torna-se superministra de um
presidente que, biograficamente, comporta-se como um urso que come seus
donos. Assim aconteceu com Frei Chico, o irmão que o levou para o movimento sindical e com Paulo Vidal, o
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo que o alavancou
na diretoria da entidade. (Lula chegou
a ecoar publicamente a insinuação pérfida de que ele fosse um agente policial:
"Eu, sinceramente, não acredito nisso.
(...) Mas essas dúvidas persistem.")
O urso comeu José Dirceu, mordeu a
perna direita de Antonio Palocci e a
mão esquerda de Frei Betto. O apetite
de Lula explica-se também pela gastronomia do Planalto. Lá os ursos adoram
donos. O general João Figueiredo, que
chamava Golbery de "senhor", devorou-o, mas não o conseguiu digerir.
O surgimento de uma SuperDilma
(ou um super-seja-quem-for) na Casa
Civil é um risco para a estrutura do governo, para os programas que venha a
coordenar e para ela mesma. Faria
muito mais sentido que recebesse o dobro dos poderes que tem e fosse nomeada ministra do Desenvolvimento,
mandando como mandaram Delfim
Netto e Fernando Henrique Cardoso
enquanto estiveram na Fazenda. Mas,
como diz Nosso Guia, "as soluções óbvias nem sempre são as mais fáceis".
A COALITION
Baixou o caboclo George
Bush no comissário Tarso Genro. Ele acaba de criar uma entidade chamada "Conselho Político da Coalizão". Bush se refere às tropas que ocupam o Iraque como a "Coalition". O conselho de Tarso será formado
pelos presidentes dos partidos
que apóiam Nosso Guia.
Fez mais. Na sexta -feira, dia
26, distribuiu o texto de uma
nota do conselho para ser divulgada depois da reunião de
terça-feira, dia 30. A nota diz
exatamente nada. Pode-se presumir que a reunião dirá a mesma coisa.
ANJOS URBANOS
Na noite do dia 12, a cratera
da obra da Linha 4 do Metrô de
São Paulo ameaçava derrubar
uma grua de 120 toneladas e 40
metros de altura, pondo em risco um edifício vizinho. Uma das
soluções técnicas para a emergência era o imediato aterro do
buraco, para estabilizar o guindaste. Acreditava-se que todos
os operários haviam abandonado o local e não havia vítimas.
A iniciativa foi abortada
diante da informação de que
uma van emitira sinais de rádio
ao satélite da empresa de transportes avisando que ela estava
naquele buraco, a 26 metros de
profundidade.
Algum anjo da guarda protegeu os responsáveis pela obra.
De fato, havia uma van na
cratera, mas a história do sinal
de satélite era falsa. O veículo
não tinha esse tipo de equipamento.
Também foi a sorte que permitiu a certeza de que o entregador, cujo corpo foi resgatado na quinta-feira, estava nas cercanias do acidente. Ele tinha
dois celulares, com o registro
das solicitações que recebia e
dos clientes que atendia.
SAUDADE DO PODER
Márcio Thomaz Bastos já
confessa que terá saudades do
poder. Não da cadeira de ministro da Justiça, mas do serviço
de telefonistas do Palácio do
Planalto, que acha qualquer um
a qualquer hora.
O PACO
Nunca na história deste país
brasileiros investiram mais no
exterior (US$ 27,25 bilhões) do
que estrangeiros investiram no
Brasil (US$ 18,78 bilhões). É o
Programa de Aceleração do
Crescimento dos Outros.
AOS MENSALEIROS
O deputado Arlindo Chinaglia informa: desautoriza e dispõe-se a denunciar publicamente, para que a lei cuide do
caso, qualquer gestão destinada a amparar sua candidatura à
presidência da Câmara que envolva negociações com órgãos
públicos ou empresas estatais.
LULA 3º
Fica registrado que, em 22 de
janeiro de 2007, em entrevista
ao repórter Gabriel Manzano
Filho, o professor Leôncio
Martins Rodrigues disse o seguinte: "Há "no âmago" da estratégia de Lula a busca de condições "para que, no devido
tempo, [se] comece a trabalhar
por um terceiro mandato. Não
é fácil acreditar que, dispondo
de uma aprovação, digamos, de
60% ou 65% no seu último ano
(...) ele mande parar as campanhas em favor de sua permanência. E ainda o discurso de
movimentos populares e sindicais, de que se ele sair o neoliberalismo volta e estraga todo o
progresso obtido... Volto a dizer: não estou prevendo que isso acontecerá. Estou advertindo para que os analistas e os
eleitores pensem nisso com seriedade". O aviso foi dado.
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