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Serra insiste em aliança à esquerda
LUÍS COSTA PINTO
da Reportagem Local
O senador José Serra (PSDB-SP)
definiu o que deseja fazer com sua
carreira política nos próximos nove meses: credenciar-se como o
principal cabo eleitoral do governador Mário Covas (PSDB), caso
ele dispute a reeleição, e fazer o
mesmo na nova campanha de Fernando Henrique Cardoso.
Se voltar ao governo, Serra só o
fará a partir de janeiro de 99, caso
FHC seja reeleito. Tenta montar
ainda um arco de apoio a Covas
com partidos de esquerda.
Leia trechos da entrevista do senador à Folha:
Folha - Por que o PT, o PSB e o
PPS precisam estar juntos com o
PSDB em São Paulo?
José Serra - Primeiro, porque é
preciso reduzir o risco do regresso
da devastação malufista no Estado
de São Paulo. Segundo, porque me
parece politicamente razoável que
partidos diferentes se aliem numa
frente antidireita corrupta. Por
fim, o governo Covas dá base para
esta aliança por ser austero, eficiente e por ter um programa social efetivo.
Folha - O que é a "devastação
malufista"?
Serra - No poder, ele deteriora
as finanças, sucateia a área social e
cria dívidas para serem pagas por
várias gerações de sucessores. Até
hoje São Paulo paga os devaneios
de Maluf, quando governador,
com a Paulipetro. Ele significa a
desmoralização da função pública, é a disseminação de teorias como o "rouba, mas faz". É a recriação do reino do superfaturamento, sem falar nas consequências
nacionais deste fenômeno.
Folha - Quais?
Serra - Empurrar a política brasileira na direção da corrupção e
da direita sem responsabilidade.
Folha - Mas o presidente não é
simpático à candidatura Maluf?
Serra - Não, não é. De jeito nenhum. A lógica política da eleição
nacional é diferente da eleição estadual. O Maluf só não é candidato
a presidente porque acha que não
tem chances. Se tivesse, seria. O
presidente sabe disso. Ele preside
o PPB, que deve apoiar Fernando
Henrique nacionalmente e é importante para o governo no Congresso. Mas daí a achar que o Fernando Henrique tem qualquer
compromisso com ele vai uma
distância. O candidato do presidente em São Paulo é, será e sempre foi o Mário Covas.
Folha - Estas impressões todas o
sr. colhe nas conversas com FHC?
Serra - Não, já entrei com estas
impressões nas conversas, mas os
encontros confirmaram isso. Em
São Paulo, não vamos levar o Maluf a sério. Não dá. Além da Paulipetro, foi ele quem golpeou de
morte a Vasp duplicando a folha
de pagamentos da empresa e comprando aviões inadequados. Também deixou a área social do Estado
em frangalhos -inclusive a Secretaria da Segurança Pública, que
não tinha dinheiro para pôr pneus
nas viaturas da Rota. Como prefeito, emitiu ilegalmente precatórios
para pagar dívidas superfaturadas
com empreiteiras.
Folha - Se é tão importante a
aliança das esquerdas para bater o
malufismo e se Covas diz que não
é candidato à reeleição, por que o
PSDB não apóia um petista?
Serra - Creio que o Covas será
candidato. É sincero quando diz
que não, mas pode mudar de idéia.
Neste contexto, é o melhor candidato para derrotar o malufismo.
Folha - O presidente concorda com
esta aliança à esquerda?
Serra - Este assunto não tem sido tocado nas nossas conversas.
Folha - Mas o governo FHC concedeu R$ 330 milhões para o prefeito Celso Pitta (PPB), amigo e sucessor de Maluf, melhorar sua administração.
Serra - Não fomos contra o empréstimo para reduzir o caos, apesar de ele ter salvo a prefeitura mal
administrada. Protestamos porque o Maluf e o Pitta fizeram uso
eleitoreiro do dinheiro.
Folha - O Covas foi contra, o senhor foi contra...
Serra - Protestamos porque o
Pitta deu uso eleitoreiro a ele, faturando em cima da emergência.
Covas rolou a dívida de São Paulo
concordando em pagar 13% de
serviço sobre a dívida ao ano, contra os 7,8% do acordo anterior. Isto quer dizer que o Estado desembolsará anualmente R$ 1 bilhão a
mais do que no acerto anterior,
não tem reflexos positivos imediatos no caixa, mas a médio prazo
desafoga o Tesouro estadual. São
comportamentos diferentes, Covas agiu como estadista.
Folha - O presidente do PT, José
Dirceu, já disse ao sr. que não há
condição de apoiar o PSDB em São
Paulo. Como vencer as resistências
para a união anti-Maluf?
Serra - Não creio que exista diferenças intransponíveis. Vou
conversar com todos os partidos.
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