São Paulo, quarta, 28 de janeiro de 1998


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Serra insiste em aliança à esquerda

LUÍS COSTA PINTO
da Reportagem Local

O senador José Serra (PSDB-SP) definiu o que deseja fazer com sua carreira política nos próximos nove meses: credenciar-se como o principal cabo eleitoral do governador Mário Covas (PSDB), caso ele dispute a reeleição, e fazer o mesmo na nova campanha de Fernando Henrique Cardoso.
Se voltar ao governo, Serra só o fará a partir de janeiro de 99, caso FHC seja reeleito. Tenta montar ainda um arco de apoio a Covas com partidos de esquerda.
Leia trechos da entrevista do senador à Folha:

Folha - Por que o PT, o PSB e o PPS precisam estar juntos com o PSDB em São Paulo?
José Serra -
Primeiro, porque é preciso reduzir o risco do regresso da devastação malufista no Estado de São Paulo. Segundo, porque me parece politicamente razoável que partidos diferentes se aliem numa frente antidireita corrupta. Por fim, o governo Covas dá base para esta aliança por ser austero, eficiente e por ter um programa social efetivo.
Folha - O que é a "devastação malufista"?
Serra -
No poder, ele deteriora as finanças, sucateia a área social e cria dívidas para serem pagas por várias gerações de sucessores. Até hoje São Paulo paga os devaneios de Maluf, quando governador, com a Paulipetro. Ele significa a desmoralização da função pública, é a disseminação de teorias como o "rouba, mas faz". É a recriação do reino do superfaturamento, sem falar nas consequências nacionais deste fenômeno.
Folha - Quais?
Serra -
Empurrar a política brasileira na direção da corrupção e da direita sem responsabilidade.
Folha - Mas o presidente não é simpático à candidatura Maluf?
Serra -
Não, não é. De jeito nenhum. A lógica política da eleição nacional é diferente da eleição estadual. O Maluf só não é candidato a presidente porque acha que não tem chances. Se tivesse, seria. O presidente sabe disso. Ele preside o PPB, que deve apoiar Fernando Henrique nacionalmente e é importante para o governo no Congresso. Mas daí a achar que o Fernando Henrique tem qualquer compromisso com ele vai uma distância. O candidato do presidente em São Paulo é, será e sempre foi o Mário Covas.
Folha - Estas impressões todas o sr. colhe nas conversas com FHC?
Serra -
Não, já entrei com estas impressões nas conversas, mas os encontros confirmaram isso. Em São Paulo, não vamos levar o Maluf a sério. Não dá. Além da Paulipetro, foi ele quem golpeou de morte a Vasp duplicando a folha de pagamentos da empresa e comprando aviões inadequados. Também deixou a área social do Estado em frangalhos -inclusive a Secretaria da Segurança Pública, que não tinha dinheiro para pôr pneus nas viaturas da Rota. Como prefeito, emitiu ilegalmente precatórios para pagar dívidas superfaturadas com empreiteiras.
Folha - Se é tão importante a aliança das esquerdas para bater o malufismo e se Covas diz que não é candidato à reeleição, por que o PSDB não apóia um petista?
Serra -
Creio que o Covas será candidato. É sincero quando diz que não, mas pode mudar de idéia. Neste contexto, é o melhor candidato para derrotar o malufismo. Folha - O presidente concorda com esta aliança à esquerda?
Serra -
Este assunto não tem sido tocado nas nossas conversas.
Folha - Mas o governo FHC concedeu R$ 330 milhões para o prefeito Celso Pitta (PPB), amigo e sucessor de Maluf, melhorar sua administração.
Serra -
Não fomos contra o empréstimo para reduzir o caos, apesar de ele ter salvo a prefeitura mal administrada. Protestamos porque o Maluf e o Pitta fizeram uso eleitoreiro do dinheiro.
Folha - O Covas foi contra, o senhor foi contra...
Serra -
Protestamos porque o Pitta deu uso eleitoreiro a ele, faturando em cima da emergência. Covas rolou a dívida de São Paulo concordando em pagar 13% de serviço sobre a dívida ao ano, contra os 7,8% do acordo anterior. Isto quer dizer que o Estado desembolsará anualmente R$ 1 bilhão a mais do que no acerto anterior, não tem reflexos positivos imediatos no caixa, mas a médio prazo desafoga o Tesouro estadual. São comportamentos diferentes, Covas agiu como estadista.
Folha - O presidente do PT, José Dirceu, já disse ao sr. que não há condição de apoiar o PSDB em São Paulo. Como vencer as resistências para a união anti-Maluf?
Serra -
Não creio que exista diferenças intransponíveis. Vou conversar com todos os partidos.



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