São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Em entrevista a site, ex-secretário nacional de Segurança disse ter conhecimento da atuação de ex-assessor no Estado do Rio

PF intima Soares a depor sobre Waldomiro

DA SUCURSAL DO RIO

O delegado da Polícia Federal Hebert Reis Mesquita, que investiga irregularidades nos bingos do Rio, disse que irá intimar a depor o antropólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança Pública. Mesquita considerou muito grave a afirmação de Soares -em entrevista ao site AOL, ontem- de que, em 2002, recebeu informações sobre a atuação de Waldomiro Diniz num suposto esquema para cobrar propina de bingos. Na época, Waldomiro presidia a Loterj.
Na entrevista, Soares afirma que uma pessoa o procurou e disse que Waldomiro tirava R$ 300 mil por mês dos bingos. O antropólogo diz que repassou a informação ao PT, mas a petista Benedita da Silva manteve Waldomiro à frente da Loterj quando assumiu o governo estadual, em abril de 2002.
Segundo Soares, Benedita ficou "extremamente irritada" quando ele pediu explicações sobre a manutenção de Waldomiro. "[Ela] falou bastante e chegou até a chorar", disse o antropólogo.
No inquérito da PF, Waldomiro será indiciado por prevaricação, por supostas falhas na fiscalização dos bingos. Há suspeita de um esquema de pagamento de propina dos bingos à Loterj para que desconsiderassem irregularidades.
Na entrevista, o antropólogo disse que, durante a campanha eleitoral de 2002, jantou com os então coordenadores da campanha petista Antônio Palocci, hoje ministro da Fazenda, e Luiz Dulci (secretário-geral da Presidência).
Soares, que era candidato a vice na chapa de Benedita ao governo do Rio, contou que reclamou da sua marginalização na campanha e fez um alerta para a existência de supostos esquemas de corrupção no Rio. Disse que não citou Waldomiro, mas que na conversa teria surgido "o nome de um outro assessor de José Dirceu".
Amigo de Soares, o professor de filosofia Luís Antônio Correia participou do jantar e confirma o teor da conversa. "A tônica foi a marginalização do Luiz Eduardo na campanha, mas, em certo momento, ele realmente falou da existência de procedimentos escusos. Não disse nomes, nem fatos, o que me pareceu ser mais um desabafo, uma mágoa, por causa do tratamento que vinha sofrendo pelo PT, do que uma denúncia", afirmou Correia.
Também amigo do antropólogo e hoje assessor da Secretaria Executiva do Ministério do Desenvolvimento Social, André Teixeira, também presente ao jantar, contradisse Correia e Soares. Segundo ele, na conversa não foram abordadas questões éticas.
"Nesse jantar não veio à baila esse assunto. Tratamos apenas da crise da campanha da Benedita, que patinava nas pesquisas, e do fato de o Luiz achar que estava sendo marginalizado."
Na entrevista, Soares não revela o nome da pessoa que acusou Waldomiro em 2002 e que chama de "corruptólogo". Ele afirma que, antes de Benedita assumir o governo do Rio, após a saída de Anthony Garotinho para concorrer à Presidência, levou o problema aos dirigentes petistas Marcelo Sereno [atual assessor especial da Casa Civil], Manoel Severino dos Santos [atual presidente da Casa da Moeda] e Val Carvalho. Nenhuma providência foi tomada, disse o antropólogo ao AOL.

Outro lado
Procurado pela Folha, Marcelo Sereno disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que não comentaria as declarações de Soares. Santos e Val Carvalho não foram localizados ontem. Benedita da Silva está em viagem ao exterior e sua assessoria informou que ela não falaria do assunto.
A assessoria de imprensa da Secretaria Geral da Presidência República informou ontem, sobre a entrevista de Luiz Eduardo Soares, que os ministros Luiz Dulci e Antonio Palocci Filho (Fazenda) estiveram no Rio na ocasião por solicitação do PT fluminense.
Segundo a assessoria, eles participaram da reunião na condição de integrantes da coordenação nacional da campanha de 2002 do PT. O encontro no Rio foi realizado para "discutir os rumos da campanha pela reeleição da então governadora Benedita da Silva".
Ainda segundo a assessoria, durante a reunião com o diretório estadual e municipal do PT no Rio foram analisados os programas de TV da campanha. À noite, a pedido do então candidato a vice na chapa de Benedita, Luiz Eduardo Soares, participaram de um jantar, no qual se tratou de uma maior participação do candidato a vice na campanha.
Dulci e Palocci não quiseram fazer comentários sobre as declarações de Soares.


Colaborou a Sucursal de Brasília

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