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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA
Ala do partido favorável a aliança com Lula estuda lançar Roriz como terceira via para atrasar escolha entre Rigotto e Garotinho
Governistas do PMDB agirão contra prévias
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A ala governista do PMDB tentará, depois do Carnaval, inviabilizar o processo de prévias para
escolher o candidato a presidente
pelo partido. A escolha envolve
cerca de 20 mil filiados e está marcada para o dia 19 de março.
Os governistas têm três estratégias para tentar melar a escolha: 1)
promover uma enxurrada de
ações na Justiça contestando os
critérios do processo; 2) forçar alguns Estados a não realizarem a
eleição do dia 19; e 3) lançar um
terceiro nome para forçar a realização de um segundo turno.
Até o momento, inscreveram-se
nas prévias do PMDB apenas o
governador do Rio Grande do Sul,
Germano Rigotto, e o ex-governador do Rio Anthony Garotinho. O terceiro nome seria o do
governador do Distrito Federal,
Joaquim Roriz, que está no segundo mandato consecutivo e não
pode concorrer ao mesmo cargo.
A entrada de Roriz na disputa se
daria por meio de um "apelo" a
ser feito a ele. Neste mês, o governador do Distrito Federal anunciou que não seria candidato a nada. É um teatro. Os governistas do
PMDB pretendem organizar um
evento no qual diriam que ele é
imprescindível ao partido.
A idéia não é necessariamente
ganhar as prévias com Roriz, mas
levar a disputa a um segundo turno. Pelas regras do PMDB, um
candidato só vence se obtiver pelo
menos 50% mais um dos votos.
Se houver a necessidade de segundo turno, o ambiente ideal estará formado para que a cúpula
governista do PMDB acabe embananando o processo de uma vez.
Logo depois do dia 19, muitos filiados poderiam entrar na Justiça
contestando o processo de votação, alegando fraudes. Esse movimento poderia causar um atraso
no segundo turno, que está marcado para o dia 26 de março.
Nesse caso, o tempo começaria
a se esgotar para Rigotto. É que,
para ser candidato a presidente, o
gaúcho precisa renunciar ao cargo de governador até 31 de março.
Não pode correr o risco de abandonar o comando do Rio Grande
do Sul e ficar sem legenda depois.
Tropa palaciana
A tropa palaciana do PMDB é
composta por quatro integrantes
principais: o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), o ex-presidente e senador José Sarney
(AP), o líder peemedebista no Senado, Ney Suassuna (PB), e o deputado Jader Barbalho (PA). Todos, cada um a seu jeito, têm interlocução direta com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A estratégia dos governistas do
PMDB tem várias etapas. A primeira é inviabilizar as prévias do
dia 19, cenário preferencial.
Mesmo sem as prévias vingando, entretanto, é possível que algum peemedebista continue a
pleitear a vaga de candidato a presidente da República pelo partido.
Basicamente, esse personagem
deve se restringir a Garotinho.
Ocorre que, para ser candidato,
é necessário vencer as prévias (se
realizadas) e ser nomeado formalmente pela Convenção Nacional
do PMDB, que deve ocorrer no
período de 10 a 30 de junho.
A expectativa dos governistas é
que até maio Lula consolide sua
liderança nas pesquisas de opinião, sinalizando ainda mais uma
possibilidade de vitória. Nesse caso, os peemedebistas lulistas continuam acreditam que haveria
uma solução que surgiria por gravidade: indicar o candidato a vice-presidente, formalizando uma
aliança nacional com o PT.
Lula, em suas conversas com o
PMDB, dá a entender que deseja
ter ao seu lado Nelson Jobim, hoje
presidente do STF (Supremo Tribunal Federal). O ministro deixará o cargo para se filiar ao PMDB
durante o mês que vem -a tempo de ficar preparado e apto a
concorrer a qualquer cargo em
outubro.
Mas, mesmo se não for possível
indicar o vice de Lula, os governistas já terão prestado um enorme serviço para o Palácio do Planalto ao impedir que o PMDB tenha candidato próprio.
Se a sigla não estiver na disputa,
a chance de a eleição ser decidida
no primeiro turno cresce, o que
pode facilitar ainda mais a campanha lulista.
Segundo turno
Nas últimas três eleições presidenciais houve um certo padrão
para que houvesse a realização de
segundo turno: isso só ocorre
quando há, pelo menos, quatro
candidatos competitivos e com
percentuais acima de 10%.
Em 1994 e 1998, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) faturou a
vitória no primeiro turno.
O PMDB até teve candidato em
1994, Orestes Quércia, mas seu
desempenho acabou ficando
equivalente ao de um partido nanico -um quarto lugar com
4,38% dos votos válidos, atrás de
Enéas (Prona) e seus 7,38%. Lula
teve 27,04%. FHC ganhou com
54,30%.
Em 1998, o PMDB facilitou ainda mais. Nem teve candidato. Mas
surgiu então Ciro Gomes (que havia saído do PSDB e estava filiado
ao PPS; hoje, já passou para o
PSB). Só que Ciro teve apenas
10,97% e ficou em terceiro lugar.
Enéas, quarto, registrou meros
2,14%. Lula novamente foi o segundo, com 31,71%. FHC ganhou
e marcou 53,06%.
Em 2002, a eleição foi para o segundo turno, pois a soma dos segundo, terceiro e quarto colocados (o tucano José Serra, Garotinho e Ciro) no primeiro turno dava 53,04%.
Neste ano, Ciro está com Lula e
não será candidato. Dos postulantes de 2002, sobram apenas Serra
(se ele for escolhido o candidato
tucano) e Garotinho.
Na hipótese de Garotinho não
conseguir ser nomeado pelo
PMDB, a disputa só irá ao segundo turno se alguns hoje nanicos
aparecerem robustecidos em outubro -por exemplo, nomes como Heloísa Helena (PSOL), Roberto Freire (PPS) e Cristovam
Buarque (PDT). Hoje, esses três
somados marcam apenas de 8% a
12%, segundo o Datafolha.
Mas a melhor marca desses nanicos se dá apenas quando o candidato tucano não é José Serra, indicando que 12% é um patamar
elevado e descolado do cenário
real da eleição.
A tendência tem sido o PSDB
polarizar com o PT durante o processo eleitoral. Aí, os nanicos todos voltam a percentuais menores de intenção de voto.
A longa crise do PMDB
O PMDB é um partido que nunca se desmancha, mas passa por
crise de identidade crônica desde
o final da ditadura militar (1964-1985). O ano de ouro da sigla foi
em 1986, quando José Sarney era
presidente da República (eleito
indiretamente vice de Tancredo
Neves em 1985, assumiu o cargo
com a morte do titular).
O Plano Cruzado havia congelado os preços e o Brasil vivia uma
euforia traduzida em 22 governadores eleitos pelo PMDB naquele
ano. O partido comandava, portanto, 95% dos Estados.
Na Câmara, a bancada que saiu
das urnas em 1986 somava 260 cadeiras (53,4% do total da Casa).
Depois dessa época áurea, foi
quase sempre ladeira abaixo. Os
22 governadores de 1986 viraram
apenas 7 na eleição de 1990. Em
2002, foram 5.
Na Câmara, as sucessivas conquistas da maior bancada são coisa do passado. Quatro anos depois do Plano Cruzado, os 260 deputados ficaram desidratados para só 108 em 1990 -queda de
58%. Em 2002, foram só 74 deputados e um modesto terceiro lugar, atrás de PT e PFL.
Nos Estados, a queda também é
perceptível no número de deputados estaduais eleitos. Em 1990, o
PMDB conquistou 214 cadeiras
nas Assembléias Legislativas
(20,4% do total de todo o país).
Em 2002, foram 134 cadeiras e só
12,7% do total.
Desde que se encostou no governo Lula, o PMDB passou a ensaiar um aumento de poder. Ganhou três ministros: Saúde (o deputado mineiro Saraiva Felipe),
Comunicações (o senador mineiro Hélio Costa) e Minas e Energia
(com o maranhense Silas Rondeau, indicado por Sarney).
O número de governadores saiu
dos cinco eleitos em 2002 (RS, SC,
PR, DF e PE) e pulou para oito (os
novos Estados são Espírito Santo,
Amazonas e Tocantins). Não é
mera coincidência que as seções
de Amazonas e Tocantins sejam
as que estejam escaladas para entrar com ações na Justiça contra o
processo de prévias no PMDB.
Na Câmara dos Deputados, o
governismo engordou os peemedebistas. As 74 cadeiras conquistadas em 2002 já se transformaram em 81, dando ao partido a segunda colocação na Casa.
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