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No Senado, ex-embaixador reforça críticas ao Itamaraty
Em depoimento, Roberto Abdenur aponta viés ideológico na diplomacia brasileira
Segundo diplomata, leituras indicadas defendem política
protecionista e instigam a reação aos EUA, o que
considera ultrapassado
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em depoimento ontem na
Comissão de Relações Exteriores do Senado, o ex-embaixador em Washington Roberto
Abdenur reforçou suas críticas
ao que entende por viés e direcionamento ideológico na execução da política externa e na
formação e promoção de diplomatas no Itamaraty.
Em mais de seis horas de depoimento, Abdenur também
criticou a ênfase da política externa brasileira à "diplomacia
sul-sul", em detrimento à alocação de recursos para fazer
promoção comercial nos EUA.
As críticas também foram
feitas ao presidente Hugo Chávez, da Venezuela. "A Venezuela é verdadeiramente uma ditadura, portanto, não é compatível com o Mercosul."
No mês passado, ele disse à
revista "Veja" que "há um substrato ideológico vagamente anticapitalista, antiglobalização e
antiamericano totalmente superado na política externa",
criticou a imposição de leituras
feitas pelo secretário-geral Samuel Pinheiro Guimarães e
disse que os que não compartilham da mesma visão ideológica da cúpula do Itamaraty são
prejudicados nas promoções.
A entrevista gerou reação no
Itamaraty e uma forte discussão entre especialistas, o que
levou o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) a convocar Abdenur. Ele concedeu entrevista à
revista dois dias depois de deixar o posto em Washington.
Na sessão, o presidente da
Comissão de Relações Exteriores, Heráclito Fortes (PFL-PI),
colocou Abdenur em uma saia-justa ao propor uma sessão secreta para que o embaixador
detalhasse quando houve direcionamento ideológico nas
promoções do Itamaraty.
Abdenur foi salvo pelo senador Romeu Tuma (PFL-SP),
que sugeriu que a sessão seria
constrangedora, e pela senadora Serys Slhessarenko (PT-MT), para quem não era da
competência da comissão propor tal sessão.
Segundo Abdenur, as supostas preferências ideológicas
não prejudicam a qualidade dos
serviços prestados pelo Itamaraty porque todos são bem preparados, mas reforçou: "Vi pessoas de alta competência deixarem de ser promovidas ou terem suas promoções atrasadas
porque não eram vistas como
aliados". A assessoria do Itamaraty informou que o órgão não
comentaria o depoimento.
Os livros criticados por ele
foram "Pensamento Econômico Brasileiro", de Ricardo Bielschowsky; "Chutando a Escada",
de Ha-Joon Chang; e "Brasil,
Argentina e Estados Unidos:
Conflito e Integração na América do Sul -da Tríplice Aliança
ao Mercosul", de Luiz Alberto
Moniz Bandeira.
"A leitura obrigatória desses
livros tem o objetivo de dizer
que é hora de voltarmos ao Brasil do nacional desenvolvimentismo protecionista dos anos
60 e 70 e reagir ao imperialismo, uma visão ultrapassada."
Sobre a obra de Moniz Bandeira, Abdenur disse que o livro
"tem um forte elemento doutrinário e até panfletário, porque atribuiu quase todos os
conflitos na região aos EUA." À
Folha Moniz Bandeira disse
ter a impressão que "se promove atualmente uma espécie de
terrorismo ideológico, acusando qualquer crítica aos EUA como anti-americanismo". Por
causa da polêmica, o chanceler
Celso Amorim suspendeu as
leituras na semana passada.
Abdenur também elogiou
Lula, dizendo que ele atuou para manter a segurança na economia, suas relações com autoridades americanas, a atuação
do Brasil no G20, na Rodada
Doha, na defesa por um assento
permanente no Conselho de
Segurança das Nações Unidas e
até a aproximação com a África.
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