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Bebê indígena morreu por falta de comida, dizem pais
Funasa afirma que deu cesta alimentar à família
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM DOURADOS (MS)
A índia guarani Salete Benites, 20, mãe do bebê Cleison, de
dez meses, disse ontem que a
criança morreu no domingo
por falta de comida na aldeia
Bororó, em Dourados (210 km
de Campo Grande). Ela afirma
que também falta água em sua
casa. "Eu não tinha comida para dar para ele", afirmou Salete.
A Folha visitou ontem a aldeia e constatou, porém, que
na casa de Salete ainda havia
meio pacote de leite em pó, 5 kg
de farinha de trigo, ao menos 1
kg de arroz, um saco de açúcar,
3 kg de feijão e uma lata de
óleo. Ela disse que, desses alimentos, só consegue comer o
arroz, mas não soube explicar
os motivos.
A casa é um barraco de terra
batida, no matagal, coberto
com sapé e onde mal cabe a cama, único móvel. O fogão à lenha fica do lado de fora.
Responsável pela assistência
nas aldeias, a Funasa (Fundação Nacional de Saúde) diz que
Salete e seu marido, o caiuá
Brasil Lopes, 19, receberam no
dia 9 uma cesta com 44 kg de
alimentos. O casal tem outro filho, Cleimar, 4. No atestado de
óbito de Cleison consta "desnutrição severa" como causa da
morte. Além de Cleison, a Funasa confirma a morte relacionada a desnutrição neste mês
de Nandinho Fernandes, 2.
O médico Zelick Trajber, da
Funasa, voltou a afirmar ontem que uma doença, como
pneumonia ou diarréia, pode
ter matado Cleison. Durante
consulta da criança no dia 14,
foi constatada "desnutrição
moderada", mas a mãe, segundo Trajber, não voltou ao posto. Salete confirma que recebeu a cesta de alimentos no dia
9, mas diz que já não tinha comida no dia 14, quando levou
Cleison ao posto de saúde. Ela,
porém, entra em contradição.
Primeiro disse que recebeu
muita água, algo que não alimenta. Em seguida, confirma
que o médico do posto deu um
saco de leite em pó, que ainda
está em sua casa.
O líder da aldeia Bororó, Luciano Arévolo, disse anteontem
que pais indígenas trocam cestas de alimentos por bebidas
alcoólicas. Ele citou Salete como exemplo. "Eu bebo, sim,
mas não de cair. Não fiz isso."
"Eu tive o bebê com dois quilos
e dez gramas, ele sempre foi
desnutrido", disse Salete.
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