São Paulo, Domingo, 28 de Fevereiro de 1999
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NEPOTISMO
Senado registra 11 novos casos; prática chega à Mesa da Câmara
Congressistas assumem e já contratam parentes

LUCIO VAZ
da Sucursal de Brasília


O novo Congresso assume com uma prática antiga: o nepotismo (contratação de parentes). No Senado, já foram registrados 11 novos casos.
Na Câmara dos Deputados, o nepotismo chegou aos cargos da Mesa Diretora. Não há lei que impeça essa prática no Congresso.
Mulher, filhos, irmãos e cunhados são contemplados com empregos nos gabinetes dos parlamentares e nos cargos da Mesa. Muitos dos parentes são contratados para trabalhar no Estado de origem do parlamentar.
O senador Mozarildo Cavalcanti (PPB-RR) contratou a mulher e duas filhas. A filha Geanne foi contratada no dia 3 de fevereiro, com salário de R$ 3.600.
No dia seguinte, Cavalcanti nomeou a mulher, Geilda, com salário de R$ 4.800. A filha Geilza foi contratada no dia 22, com salário de R$ 4.800. Na soma, um reforço de R$ 12 mil na renda familiar do senador.
O senador Roberto Requião (PMDB-PR) já havia contratado o irmão Eduardo no início da legislatura passada. No dia 29 de janeiro, nomeou o irmão Maurício, ex-deputado federal que não conseguiu a reeleição. Maurício vai dirigir o escritório do senador em Curitiba, com salário de R$ 4.800.
O corregedor da Câmara, Severino Cavalcanti (PPB-PE), que zela pelo decoro parlamentar dos deputados, usou um cargo da 2ª vice-presidência para contratar o filho José Maurício, com salário de R$ 4.500, e reforçar o trabalho político na sua base eleitoral.
"Daqui a dois anos não estou na Mesa. Em vez de eu ir na sexta para Pernambuco, vai ele. Hoje (sexta-feira passada), ele está me representando em um encontro de micros e pequenos empresários", explicou o corregedor.

Ex-deputados
O irmão de Requião não foi o único ex-deputado não reeleito a encontrar abrigo em assessorias da Câmara e do Senado.
O ex-deputado Nilson Gibson (PMN-PE) era o maior defensor dos interesses corporativos dos deputados, como os aumentos salariais. Não foi reeleito, mas conseguiu um emprego de assessor técnico na Diretoria Geral, com salário de R$ 4.500.
O senador Gilberto Mestrinho (PMDB-AM) abrigou no seu gabinete o filho João Thomé, outro ex-deputado federal que não se reelegeu. O salário é de R$ 4.800.
Senadores não reeleitos trataram de amparar os parentes que já trabalhavam na Casa. Na legislatura passada, 20 parentes de 15 senadores tinham emprego no Senado.
O senador Flaviano Melo (PMDB-AC) era 3º secretário. Não conseguiu se reeleger no ano passado. No dia 29 de janeiro deste ano, transferiu o irmão José Baptista do seu gabinete para a 3ª secretaria, que agora é ocupada pelo senador Nabor Júnior (PMDB-AC), colega de partido e Estado.
José Clayton Souza Alcântara, filho do ex-senador Beni Veras (PSDB-CE), trabalhava no gabinete do senador Reginaldo Duarte (PSDB-CE). No dia 29 de janeiro, foi transferido para o gabinete do senador Luiz Pontes (PSDB-CE).

Irmã, filhos, cunhados
O senador Tião Viana (PT-AC) contratou Áurea Macedo Neves para tocar o seu escritório em Rio Branco (AC).
Trata-se da ex-mulher do governador petista do Acre, Jorge Viana, irmão do senador. A separação ocorreu após a eleição.
O senador Antero Paes de Barros (PSDB-MS) nomeou a irmã Helena Maria Arguello, que coordenou a área de educação na sua campanha eleitoral.
O senador Maguito Vilela (PMDB-GO) contratou o cunhado Gean Carlo Carvalho, que foi o seu secretário de Comunicação Social no governo de Goiás.
O senador João Alberto (PMDB-MA) nomeou o filho João Marcelo como assessor técnico do seu gabinete. O filho já trabalhava com ele na Câmara dos Deputados.
Na Câmara, a filha do ex-líder do PDT Matheus Schmidt (RS), Márcia Schmidt, foi contratada pela liderança do partido no dia 3 de fevereiro.
O 3º suplente da Mesa, Zé Gomes da Rocha (PSD-GO), contratou a filha Adejaína, de 19 anos, para atender o telefone na 3ª suplência, com salário de R$ 1.800.
Em 97, ele contratou sete jogadores do Itumbiara Esporte Clube com a verba do seu gabinete.
O 2º secretário da Mesa, Nelson Trad (PTB-MS), nomeou a filha Maria Theresa, com um salário de R$ 2.400, para trabalhar na 2ª secretaria.


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