São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

No caminho errado

Com a chegada de abril nesta semana, o governo Lula entra no 16º mês e vai completando já um terço do seu período. E continua nas promessas, continua em campanha. A rigor, não assumiu.
A conjugação das pesquisas feitas nos últimos dias faz três comprovações importantes. A imunidade de Lula à frustração com o seu governo era uma idéia falsa do próprio Lula, do pessoal de "comunicação" da Presidência e do jornalismo oficialista. Os mecanismos internos da opinião pública, que a formam e reformam, continuam com os mesmos sensores, o ritmo de reação e demais peculiaridades de um povo desinformado, manipulado, mas não insensível.
É clara, também, a relação direta entre as perdas do governo e de Lula na opinião nacional e os efeitos maléficos, sobre as famílias e sobre o país, da falta de política econômica responsável, lúcida e fundada em argumentos honestos. A bravata de adotar metas ainda mais rígidas e anti-sociais que as exigidas pelo FMI, cúmulo da sabujice governamental diante do "mercado", só na cabeça dos transtornados pelo deslumbramento poderia encolher a economia, mas não a confiança em Lula.
Por fim, comprova-se que a influência do caso Waldomiro Diniz é relativamente inexpressiva, no conjunto de causas apuradas pelas diferentes pesquisas. "O Globo" deu uma poderosa e auto-explicável manchete: "Caso Waldomiro derruba popularidade de Lula". Mas seu texto sobre a pesquisa Ibope tem trechos assim: "Pela primeira vez nas pesquisas feitas pela CNI/Ibope, o percentual dos que acreditam que o Brasil está no caminho errado (46%) é maior do que os que acham que o rumo está certo (40%). Em dezembro, 48% diziam que o caminho estava certo, contra 36% que acreditavam o contrário". Ou: "Para os brasileiros, o pior desempenho do governo foi na área da economia". Ou: "A incerteza com os rumos do país também fez crescer o número de pessoas que acham que a inflação vai aumentar", "54% disseram que o desemprego vai aumentar" e por aí em diante.
Waldomiro Diniz não disputa com a (falta de) política econômica a primazia entre as causas da derrocada de Lula e do seu governo. Até se justifica suspeitar de que tenha sido positivo para o governo. Com base nos "dados positivos do final do ano", o jornalismo de economia anunciava para este trimestre a "segura retomada do crescimento". Talvez Waldomiro Diniz tenha ajudado a desviar atenções, como ajudou parte da mídia, do resultado real: o trimestre foi péssimo. Vai ver, Waldomiro é que é o bom companheiro.


Texto Anterior: Brasil profundo: Globalização ajuda a agravar trabalho escravo, diz OIT
Próximo Texto: Eleições 2004: Maluf, Serra e Marta seguem embolados
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.