São Paulo, terça-feira, 28 de março de 2006

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CRISE NO GOVERNO/O SUCESSOR

Novo ministro da Fazenda, alinhado com "desenvolvimentistas", negou mudanças de rumo e citou Lula como "fiador" do atual modelo

"Política econômica não mudará", diz Mantega

Lula Marques/Folha Imagem
O novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista no Planalto em que afirmou que mudará apenas a equipe da pasta


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

"A política econômica não mudará. A política econômica é a política econômica do presidente Lula. O presidente Lula é o fiador dessa política econômica. Além disso, a política econômica não deve mudar porque é a política econômica mais bem-sucedida dos últimos 15 ou 20 anos no Brasil." Na primeira entrevista coletiva como ministro da Fazenda, Guido Mantega não se incomodou em ser redundante para dar o único recado que lhe coube.
Toda a preocupação de Mantega esteve em desarmar suspeitas de que seu pensamento alinhado com a corrente dita "desenvolvimentista" -condição que não negou- vá se traduzir em novas orientações à frente da pasta.
O novo ministro tratou de ser veemente em relação aos temas mais caros ao mercado e mais incômodos para os críticos da política econômica. "O superávit primário é sagrado", disse, em relação à economia de receitas destinada ao pagamento da dívida, cuja meta é de 4,25% do PIB.
"Nós vamos rigorosamente cumprir o que está no Orçamento. O superávit primário será cumprido a risca", disse. Seu antecessor pretendia elevar o superávit, mas já havia sido derrotado nos embates com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
Questionado sobre a possibilidade de acelerar a queda dos juros do Banco Central, não hesitou: a pergunta deveria ser dirigida ao BC, disse. Em outras palavras, não haverá, ao menos oficialmente, interferência política no BC.
A única hipótese de mudanças admitida por Mantega foi na composição de sua equipe. "Em princípio, considero a equipe da Fazenda muito eficiente, mas não descarto a possibilidade de fazermos algumas mudanças. Mas só depois que eu sentar na cadeira, analisar mais de perto a eficiência de cada um é que poderei me pronunciar a esse respeito."
Após a entrevista, no corredor, disse que "certamente" se entenderia com Murilo Portugal, segundo na hierarquia do ministério e uma espécie de guardião da ortodoxia na pasta. Portugal pediu demissão pouco depois.
O discurso de Antonio Palocci sobre as virtudes da política econômica foi repetido pelo sucessor. Foram mencionadas a recuperação das contas externas, a queda dos índices de inflação, a geração de empregos e a quitação da dívida com o FMI.
Mantega ainda não acertou a retórica, porém, quanto ao prometido "ciclo de crescimento duradouro" da economia. Ora dizia que o país estava iniciando esse ciclo, ora que o ciclo já havia começado, ora que a missão do governo era levar o país ao ciclo.
No mais, evitou cuidadosamente as questões sobre a conduta de Palocci, os danos à imagem do governo e as reações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT.
Incomodou-se, porém, quando foi mencionado que Lula perdera todos os seus principais auxiliares. "Eu sou auxiliar do presidente desde 1990", reclamou. Principal porta-voz econômico de Lula na campanha de 2002, Mantega -que defendia, por exemplo, metas de inflação mais folgadas- acabou relegado a segundo plano com a ascensão de Palocci.


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