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Com Palocci, mercado deixou de ver PT como ameaça
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Segundo ministro da Fazenda
mais longevo desde a redemocratização do país, Antonio Palocci
obteve, com boa ajuda da sorte, a
melhor combinação de resultados
do período. Seu principal feito foi
esterilizar o debate sobre alternativas de política econômica.
Graças a Palocci, o PT deixou de
ser visto como ameaça ou esperança de mudanças na orientação
neoliberal que dá as cartas na economia desde a década passada.
Mesmo com sua substituição
por Guido Mantega, um crítico à
esquerda de suas diretrizes, ele
deixa para o sucessor um arranjo
institucional que dificilmente poderá sofrer alterações substantivas sem submeter o governo ao
risco de uma crise financeira.
Mantido desde o segundo mandato de FHC, o tripé básico da política econômica -superávit fiscal, metas de inflação e câmbio
flutuante- está sujeito a alterações de grau, mas nenhum grupo
demonstra hoje amparo político e
acadêmico suficiente para alterá-lo em sua essência.
Sob Palocci, os resultados desse
arranjo, se estiveram longe de ser
brilhantes, bastaram para que o
governo Lula se considerasse na
clássica situação futebolística do
time que está ganhando e não deve ser mexido. A ortodoxia deu ao
governo três anos de inflação em
queda, confiança dos mercados,
elogios dos países ricos e recordes
nas exportações. O crescimento
foi modesto, mas serviu para atenuar o desemprego e alimentar a
campanha reeleitoral.
Em 2004, pela primeira vez desde a industrialização do país, um
governo pôde comemorar ao
mesmo tempo inflação de um dígito, superávit comercial elevado
e expansão econômica vigorosa.
O antecessor de Palocci na Fazenda, Pedro Malan, praticamente só
pôde celebrar a queda da inflação
em seus oito anos no cargo.
Ironicamente, a sobrevalorização cambial, tão criticada pelo PT
nos anos FHC, foi a maior aliada
de Palocci. Sem incertezas e crises
internacionais para atrapalhar, e
com juros altos para ajudar, o dólar despencou. Assim elevou-se
renda do país e reduziram-se a inflação e a dívida pública.
Enquanto teve força, Palocci
venceu praticamente sozinho todas as pressões contra a política
econômica que personificou.
Quando atacado pelo PT, ganhava o apoio da oposição, satisfeita
com a ausência de novidades na
política econômica.
Agenda interrompida
Ainda que tenha consagrado o
continuísmo, porém, Palocci deixa desde seu enfraquecimento
dúvidas quanto à continuidade de
sua agenda. No fim do ano passado, ele perdeu para a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) o embate
em torno do que deveria ter sido
sua primeira grande contribuição
às diretrizes herdadas: um ambicioso plano fiscal.
Conforme o consenso firmado
entre os economistas liberais, a
Fazenda tentou implantar um
programa de longo prazo, baseado no controle de despesas permanentes -ou na tentativa de
deter o crescimento dos gastos sociais. Até os especialistas mais
conservadores já apontam a
exaustão do atual modelo fiscal,
em que o governo cumpre suas
metas de superávit sacrificando
os investimentos necessários ao
crescimento econômico.
Antes do abandono do novo
programa fiscal, a conveniência
política de Lula já havia transformado em conversa fiada as reformas que Palocci e sua equipe consideram essenciais para o desenvolvimento do país. Estão nessa
lista as reformas tributária, trabalhista e sindical, além da conclusão da previdenciária; a autonomia do Banco Central, com mandatos fixos para seus dirigentes; as
novas regras das agências reguladoras e da defesa da concorrência.
A última vez em que o governo
empenhou-se em pôr de pé a pauta legislativa da equipe econômica
foi em 2004, quando o Congresso
aprovou a nova Lei de Falências e
as Parcerias Público-Privadas.
Vive-se um cenário em que a ortodoxia liberal é preservada por
falta de alternativas palpáveis,
mas sem força para dar novos
passos.
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