São Paulo, terça-feira, 28 de março de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PUBLICIDADE SUSPEITA

Segundo ex-gerente de banco estadual, Roger Ferreira coordenava esquema de direcionamento de verbas publicitárias para aliados do governo

Caso Nossa Caixa derruba assessor de Alckmin

FREDERICO VASCONCELOS
CÁTIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Sob pressão do comando do PSDB, e 24 horas depois de negar que afastaria seu assessor de Comunicação, Roger Ferreira, o governador Geraldo Alckmin exonerou, a pedido, o auxiliar, apontado em reportagem da Folha como um dos coordenadores do direcionamento de recursos da Nossa Caixa para favorecer veículos mantidos ou indicados por deputados estaduais da base aliada.
No início da tarde, após receber o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, Alckmin defendeu Ferreira, que chegou a enviar a parlamentares do partido um texto em que rebatia as acusações. Mas, segundo tucanos, Tasso recomendou que Alckmin fizesse um contraponto a Lula, mostrando que não hesita em momentos de crise. Prevaleceu ainda a idéia de que a saída seria ofuscada pela queda do ministro Antonio Palocci.
Na carta em que solicita a exoneração, Ferreira diz que nada fez "que ferisse os ditames da ética e do espírito público" e que não permitiria que sua presença no governo se transformasse em "pretexto para provocar desgastes injustificáveis" à candidatura de Alckmin à Presidência.
Após duas horas de conversa, Tasso até concordou, em entrevista, com a necessidade de mais investigação. Ele incentivou Alckmin a falar à imprensa: "Não existe nada que possa ser comprometedor em relação à ética ou à atitude do governador Alckmin. Ele mesmo está aqui para responder. Ele não se esconde".
Tasso insistiu para que Alckmin falasse sobre o tema. Tanto que, quando o governador já acompanhava o senador em direção à saída da sala onde ocorria a entrevista, Tasso fez questão que ficasse. "Não. Fale sobre a Nossa Caixa."
Alckmin afirmou, então, que gostaria de fazer "um reparo sobre o que o jornal publicou hoje [ontem]". "Já houve a investigação, quem fez foi o governo, a própria Nossa Caixa, que abriu uma comissão de sindicância."
Alckmin também alegou que os e-mails obtidos pela Folha não eram de integrantes do governo: "Empresa terceirizada não fala em nome do governo". Questionado sobre os e-mails de Ferreira, disse: "Não, o dele não pede para absolutamente ninguém".
"Nós já concluímos essa sindicância. Essa matéria que está no jornal é sindicância feita por nós. Se eu não fosse candidato, isso não viria para o jornal, mas, como eu sou candidato...", disse.
Ele demonstrou impaciência ao comentar as declarações do deputado Afanasio Jazadji (PFL), de que teria negociado verbas publicitárias diretamente com o governador (leia nesta página). "Comigo, não. Ele nem esteve comigo e Afanasio Jazadji é da oposição, oposição 24 horas por dia."
Alckmin disse que houve um "erro formal" da Nossa Caixa, ao não providenciar a prorrogação dos contratos com as agências de propaganda Full Jazz e Colucci.
"Isso não foi feito. Quando a Nossa Caixa percebeu que houve um erro lá dentro, fez uma sindicância, demitiu o responsável, comunicou ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas", disse.
Ferreira foi citado pelo ex-gerente de marketing Jaime de Castro Júnior, afastado do banco, como coordenador das ações de direcionamento de anúncios e patrocínios.O esquema beneficiou os deputados Wagner Salustiano (PSDB), Geraldo "Bispo Gê" Tenuta (PTB), Afanasio Jazadji (PFL), Vaz de Lima (PSDB) e Edson Ferrarini (PTB), a Rede Vida, a Rede Aleluia de Rádio e a revista "Primeira Leitura", criada pelo ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros (governo FHC), da qual se afastou em setembro de 2004.


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