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Representante da Fiesp no DF é filho de ministro do TCU
Luiz Maia Bezerra é apontado pela PF como distribuidor de doações da Camargo Corrêa
Campelo relata no tribunal processos de fiscalização de obras que têm participação da construtora; ele nega haver conflito de interesses
Carlos Vieira-19.jun.07/CB
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O ministro Valmir Campelo durante reunião no plenário do TCU |
ANDRÉA MICHAEL
MARTA SALOMON
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apontado pela Polícia Federal como responsável por coordenar a distribuição de doações
de campanha da empreiteira
Camargo Corrêa a partidos e
políticos, Luiz Henrique Maia
Bezerra, 31, representante da
Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) em Brasília,
é filho do ex-senador e ministro
do TCU (Tribunal de Contas da
União) Valmir Campelo.
Campelo é relator de processos de fiscalização de grandes
obras que têm a participação da
Camargo Corrêa. Entre elas, as
refinarias do Nordeste (PE) e
Presidente Getúlio Vargas
(PR), ambas incluídas no PAC
(Programa de Aceleração do
Crescimento). O ministro nega
que haja conflito de interesses.
O nome de Luiz Henrique
consta do relatório da Operação Castelo de Areia, da PF, que
prendeu quatro diretores da
empreiteira nesta semana. A
Fiesp é apontada na investigação como suposta intermediária das doações da Camargo
Corrêa. A federação nega.
Em Brasília, como assessor
da presidência da Fiesp, Luiz
Henrique tem como principal
atribuição cuidar das relações
institucionais da entidade com
o Congresso e o governo, acompanhando o andamento de projetos de interesse das empresas
associadas à federação.
Nos grampos da Castelo de
Areia, ele é citado em conversas
entre diretores da Camargo
Corrêa como sendo o responsável pela distribuição de recursos aos políticos. Há a suspeita
de que tenha havido doações
ilegais. Os destinatários dos recursos dizem que elas foram registradas na Justiça Eleitoral.
No dia 15 de setembro de
2008, pouco antes das eleições
municipais, Pietro Giavina
Bianchi diz a Fernando Botelho, ambos executivos da empreiteira, que deu a ordem a
Henrique: "(...) Avisei ele que
tava sendo enviado para Brasília esse dinheiro... E para... Justamente fazer a... Distribuição... Eles que resolvessem o
que fosse fazer, né?".
Botelho, depois, diz a Pietro
ter sido informado de que a
doação ainda não fora consumada: "Eu falei com o Paulo...
Eu falei com o Paulo Skaf [presidente da Fiesp] agora e ele falou que não foi feito ainda".
Além das refinarias do PAC,
Valmir Campelo foi relator, por
um período, do processo do aeroporto de Vitória (ES), considerado o mais grave envolvendo a Camargo Corrêa no TCU.
Campelo foi substituído na relatoria por Raimundo Carreiro,
que registrou: "Desconheço se
nesta corte já houve análise de
situação semelhante".
As obras foram suspensas no
ano passado, com a relatoria já
a cargo de Carreiro, depois de o
tribunal ter identificado graves
problemas. O acórdão, de 2008,
afirma que dois anos antes, em
2006, Campelo determinou a
continuidade das obras, apesar
das irregularidades. Com base
na análise de 40% do valor do
contrato, o TCU identificou sobrepreço de R$ 35 milhões.
Além da cobrança acima dos
valores de mercado, o tribunal
identificou o pagamento de
serviços não executados.
Na época, com a justificativa
de evitar parar uma obra considerada importante para o Espírito Santo, Campelo levou
adiante apenas a proposta de
reter parte dos pagamentos. A
Camargo Corrêa contestou e
paralisou as obras em abril de
2007, por oito meses. A suspensão definitiva só seria determinada pelo TCU em agosto de
2008. A substituição dos relatores seguiu regras do tribunal.
Luiz Henrique foi contratado
pela Fiesp em maio de 2008.
Um mês antes, o pai havia assumido a relatoria do processo da
Refinaria do Nordeste. Campelo elaborou voto determinando
à Petrobras a retenção de R$ 23
milhões por 12 irregularidades.
O voto foi aprovado pelos outros ministros, e o consórcio
que inclui a Camargo Corrêa
apresentou defesa para tentar
reverter o entendimento.
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