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Filho de Sarney pode ter repatriado US$ 1 mi
Para ex-doleiros e delegados, operação revelada pela Folha costuma ser usada por brasileiros que têm contas ilegais no exterior
Na Operação Faktor, PF captou conversas e e-mails de Fernando Sarney que tratavam de operações financeiras no exterior
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB), pode ter trazido US$ 1 milhão do
exterior ao remeter esse mesmo valor, a partir de uma conta
mantida por ele nas Bahamas,
para uma empresa na China.
A interpretação é de dois ex-doleiros e de dois delegados da
Polícia Federal, que aceitaram
explicar o significado da operação sob a condição de que seus
nomes não fossem divulgados.
Como a Folha revelou no
início do mês, Fernando remeteu US$ 1 milhão no começo de
2008 para uma empresa chamada Prestige Cycle & Parts
(aparentemente um fabricante
ou revendedor de acessórios de
bicicletas), em Qingdao, na
China. O dinheiro saiu da conta
em nome de uma "offshore"
movimentada por Fernando.
A dúvida é: por que o filho
mais velho do presidente do
Senado enviaria US$ 1 milhão
para uma empresa de bicicletas
na China? Os dois ex-doleiros
dizem que esse tipo de operação, em que a empresa que recebe o dinheiro não tem relações diretas com quem fez a remessa, é típica de internamento de recursos. É o chamado
dólar-cabo, operação em que
um brasileiro que tem conta
ilegal no exterior recorre quando precisa dos recursos convertidos em reais aqui no país.
Segundo os ex-doleiros, Fernando deve ter feito a remessa
para a China a pedido de algum
doleiro brasileiro. O doleiro,
por sua vez, tinha um cliente
no Brasil que precisava fazer
essa transferência para a China. Num exemplo hipotético,
esse cliente havia importado
US$ 2 milhões, mas só declarou
US$ 1 milhão às autoridades
brasileiras. A diferença de US$
1 milhão é paga por fora, sem
impostos, e precisa sair de uma
conta no exterior.
O doleiro casa essas duas necessidades. Num outro exemplo, ele pediria a Fernando para enviar o dinheiro para a China e entregaria a ele no Brasil o
mesmo valor. Para fazer esse
tipo de operação, o doleiro ganha uma comissão, de 1% a 2%.
Na Operação Faktor (ex-Boi
Barrica), a PF captou, com autorização da Justiça, uma série
de conversas e e-mails entre
Fernando Sarney, familiares
seus e amigos tratando de operações financeiras no exterior.
Numa delas, Fernando fala
na necessidade de levantar
US$ 2 milhões, de acordo com
o entendimento dos policiais.
Pelo diálogo, os investigadores
acreditam que ele precisava
trazer o dinheiro para o Brasil.
O filho do senador conversa
com o empresário e seu amigo
Gianfranco Perasso, apontado
pela PF como um dos operadores da família Sarney para transações financeiras fora do país.
Fernando chama Perasso pelo
apelido de "China".
Diz Fernando: "Muito bem,
porque eu não vou esperar
aquela outra solução, não, viu
China? A pressão está muito
grande, eu vou resolver isso daquela outra forma que você".
"Quantos quilos você precisa?", pergunta Perasso.
"[...] Eu falei em quase dois
americanos, mas não cheguei a
tanto, não, tá? Mas você sabe
do que eu preciso, né?", responde Fernando. No entendimento da PF, "dois americanos" era uma referência a US$
2 milhões. Num dos relatórios
da Faktor, a PF afirma que nem
Fernando, seus familiares diretos ou Perasso declararam à
Receita contas no exterior.
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