São Paulo, domingo, 28 de março de 2010

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Diretor de "Avatar" pede que Brasil desista de hidrelétrica

James Cameron comparou luta de índios e ribeirinhos contra usina à dos Na'vi

Cineasta afirma que obra no rio Xingu "ameaça destruir grandes territórios" e nega que a sequência do filme seja rodada na Amazônia

Marlene Bergamo/Folha Imagem
James Cameron cumprimenta participante de fórum no AM

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

LAURA CAPRIGLIONE
MARLENE BERGAMO
ENVIADAS ESPECIAIS A MANAUS

No último dia do Fórum Internacional de Sustentabilidade, realizado em Manaus, o diretor do premiado filme "Avatar", James Cameron, "implorou" ao presidente Lula que reconsidere a intenção de construir a usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu. O cineasta comparou a luta dos índios caiapós e ribeirinhos, que se opõem à usina, à dos Na'vi, povo criado por ele no filme e que vive na floresta de Pandora.
"Belo Monte ameaça destruir grandes territórios e a barragem será a terceira do mundo. Foi aprovada recentemente pelo governo brasileiro e vai mudar a direção do rio Xingu, afetar as populações e os caiapós, que lutaram muito para defender seus direitos à propriedade", disse Cameron.
"O que temos aqui são povos ameaçados, como os Na'vi. Mas eles não têm pessoas aladas, como no filme." Em estudo da ONG ambientalista WWF, disse ele, ficou demonstrado que, se o Brasil for investir em eficiência de energia, poderia gerar 14 vezes mais energia.
"Eu imploro que o governo Lula reconsidere esse projeto e depois, eu imploro para ele se envolver em grupos que estão lutando por causas ambientais e direitos indígenas", disse.
O governo brasileiro já anunciou que o leilão da hidrelétrica de Belo Monte será em abril.
Sobre a possibilidade de rodar "Avatar 2" na Amazônia venezuelana ou brasileira, Cameron disse ser boato. ""Avatar" foi feito todo por computador, na Nova Zelândia, em estúdio."
James Cameron disse que tomou conhecimento dos impactos ambientais que vão ocorrer com a construção de Belo Monte pela ONG Amazon Watch, que trabalha com indígenas.
A Folha perguntou a Cameron se, assim como "implorou" a Lula, ele pretenderia "implorar" ao presidente Barack Obama pela retirada o quanto antes das tropas americanas do Iraque e do Afeganistão.
O diretor disse que, a Obama, pediria "para realmente olhar para o futuro e entender que essas pessoas estão sendo enviadas para lutar no Oriente Médio e que isso continuará até que não precisaremos mais de petróleo. Acho que isso é claro ao Obama, que é muito consciente na questão".
Após finalizar a conferência, Cameron foi homenageado por índios das etnias saterê, dessana e ticuna, entre eles, Jecinaldo Barbosa, que estava com o rosto pintado de urucum e usava um cocar. O cineasta chegou a chorar por isso. Barbosa, porém, não vive mais na floresta. É secretário de Política Indígena do AM e candidato a deputado estadual pelo PMN -na vida cotidiana, veste-se de calça jeans e camiseta.


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