São Paulo, domingo, 28 de abril de 2002

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RAIO-X - CIRO GOMES

Bolsões de pobreza e a concentração de renda persistem no Estado nordestino

Ceará eleva renda e melhora índices acima da média do NE

Lalo de Almeira - 21.ago.98/Folha Imagem
Agente de saúde pesa criança da vila de São Gonçalo, no município de Catarina (interior do CE)


FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O pré-candidato da Frente Trabalhista à Presidência, Ciro Gomes (PPS), coleciona alguns êxitos reconhecidos por adversários: impulsionou a economia do Ceará, quando governou o Estado (1990-1994), e ajudou a reformar a máquina administrativa, inibindo as práticas de clientelismo e empreguismo no serviço público.
Ele elevou a auto-estima dos cearenses, ao difundir a imagem de "modernidade" num dos Estados mais pobres do Nordeste.
No seu governo, a economia cearense registrou taxas de crescimento superiores à do Nordeste e à do Brasil. O Ceará ganhou manchetes internacionais com programas para combater epidemias, o desemprego e o analfabetismo.
Mas os indicadores sociais mostram que era ambiciosa a expectativa de eliminar a miséria no prazo de uma geração, como prometiam os jovens empresários do CIC (Centro Industrial do Ceará), nas eleições de 1986. Eles foram fiadores do projeto "Governo das Mudanças", do candidato Tasso Jereissati, programa que Ciro Gomes levou adiante. Os bolsões de pobreza e a concentração da renda persistem no Ceará.
Ciro Gomes foi o governador mais bem avaliado nas sucessivas pesquisas do Datafolha, repetindo a popularidade obtida como prefeito de Fortaleza (1988-1990). Quando deixou o governo, em setembro de 1994, sua administração tinha 74% de aprovação.
É um índice elevado para quem enfrentou a oposição de sindicatos e de movimentos sociais. Ciro Gomes arrochou salários e terceirizou alguns serviços públicos.
A renda per capita do Ceará subiu de R$ 1.467,00, em 1990, para R$ 1.637,00, em 1995, em termos absolutos. Ou seja, um aumento acumulado de 11,6% (em comparação a 6,3% do Brasil e a 4,2% do Nordeste), segundo o Centro de Economia Regional, da Universidade Federal do Ceará.
Em 1990, o PIB (Produto Interno Bruto) cearense representava cerca de 1,65% do PIB nacional e 12,45% do nordestino. Em 1995, essas participações elevaram-se para 1,72% e 13,3%, respectivamente, com um expressivo ganho em relação ao PIB do Nordeste.
Embora com desempenho inferior ao da agropecuária e do setor de serviços, o PIB industrial cresceu 1,38% no período 1990-1995 (caíra 0,57% em 1985-1990).
O governo ofereceu vantagens para as indústrias do Sul e Sudeste se transferirem para o Ceará: infra-estrutura, prédios, isenção fiscal, mão-de-obra abundante, treinamento dos trabalhadores e baixa organização sindical.
"As indústrias foram atraídas pelos generosos incentivos fiscais e pela certeza de contar com mão-de-obra, em média, cinco vezes mais barata", diz o deputado estadual José Pimentel (PT).
"O setor primário detém 40% da mão-de-obra. Mas o governo insistiu em dar prioridade ao setor industrial, que tem a maior queda no nível de emprego, devido à automação", diz o deputado estadual petista Artur Bruno.
Ciro Gomes foi beneficiado pela "arrumação da casa" na primeira gestão de Jereissati (1987-1990), que promovera o ajuste fiscal. Contou com maior disponibilidade financeira para investimentos em infra-estrutura e obras sociais.
A partir de 1994, surgiram os sinais de deterioração da situação financeira. O Estado registrou déficits em 1995 e 1996, elevação de despesas e esgotamento do ritmo de crescimento das receitas.
Em maio de 1994, Ciro Gomes encomendou pesquisas sobre a imagem de seu governo. Investiu na produção da novela "Tropicaliente", da Rede Globo, que mostrava ao país um Ceará feliz.
A Secretaria da Cultura "assumiu um lugar de destaque na forte política de propaganda", afirma o professor de história Alexandre Barbalho, da Uece (Universidade Estadual do Ceará). A Pasta da Cultura foi dirigida por publicitários e marqueteiros políticos.
Com elevados índices de aceitação popular, Ciro Gomes apoiou Tasso Jereissati como sucessor. Em junho de 1994, dizia que o Ceará havia melhorado muito, mas precisava continuar a fase de mudanças para "consolidar bons indicadores sociais". Ou seja, para reduzir os níveis de pobreza.


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