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JUSTIÇA ELEITORAL
Decisão do TSE atinge João Capiberibe (PSB-AP) e sua mulher
Senador é cassado por compra de voto
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) cassou ontem à noite, por 4
votos a 2, os mandatos do senador
João Capiberibe (PSB-AP) e da
mulher dele, deputada Janete Capiberibe (PSB-AP), em processo
no qual são acusados de compra
de votos nas eleições de 2002.
Se não reverter a derrota, Capiberibe será o primeiro senador
cassado pela Justiça Eleitoral. O
ex-presidente do Senado Humberto Lucena, já morto, chegou a
ser condenado, mas uma lei o
anistiou. Em tese, a decisão do
TSE tem aplicação imediata. Basta que o tribunal a publique no
"Diário da Justiça" ou a comunique ao Senado e à Câmara.
O advogado e ministro aposentado do Superior Tribunal de Justiça Paulo Costa Leite, contratado
para defender o casal, disse que
estudará "minuciosamente" a
possibilidade de recorrer ao STF
(Supremo Tribunal Federal).
Capiberibe e a sua mulher divulgaram nota à imprensa dizendo que a decisão do TSE não terá
aplicação imediata e que recorrerão ao STF para anular o julgamento. Eles contestam a veracidade do depoimento das duas mulheres que os incriminaram e dizem que a lista de eleitores se refere à boca-de-urna, atividade também proibida, mas que não gera
cassação de mandato.
Capiberibe será substituído por
Gilvam Borges (PMDB-AP), que
perdeu a eleição por uma diferença de 0,92 ponto percentual. O senador do PSB e ex-governador do
Amapá foi eleito com 98.153 votos
(22,41% do total). Borges ficou em
terceiro lugar, com 94.130 votos
(21,49%). Para a vaga de Janete na
Câmara, deverá ir o primeiro suplente de sua coligação.
Até agora, só prefeitos de pequenas cidades e vereadores haviam sido condenados à perda do
mandato em processo sumário
por causa de compra de votos. As
cassações ocorreram com base na
lei nº 9.840, de 1999, após pressão
de entidades civis, como a CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil). Hoje, ela é considerada
o principal instrumento de combate à corrupção eleitoral.
Amanhã, o TSE irá julgar um
processo em que o governador do
Distrito Federal, Joaquim Roriz
(PMDB), é acusado de desviar dinheiro público para a sua campanha à reeleição, em 2002. Nesse
caso, a condenação também implicará perda do mandato.
A sessão de ontem foi presidida
pela ministra Ellen Gracie Northfleet, que não chegou a votar. O
relator, Carlos Velloso, considerou as provas consistentes e foi
acompanhado pelos ministros
Peçanha Martins, José Delgado e
Luiz Carlos Madeira.
Para eles, as principais provas
são os depoimentos de duas mulheres que disseram ter recebido
R$ 26 para votar no casal e no candidato derrotado do PSB ao governo, Claudio Pinho, e o dinheiro e o material apreendidos na casa de duas militantes do partido,
onde funcionaria uma espécie de
comitê eleitoral. Foram apreendidos R$ 15.495 e uma relação com
nomes de eleitores que tiveram
supostamente o voto comprado.
Para os outros dois ministros,
Fernando Neves e Celso de Mello,
as provas são insuficientes. Neves
disse que a lista de eleitores poderia se referir a simpatizantes dispostos a fazer boca-de-urna.
O processo começou a ser julgado em 1º de abril, quando houve
três votos pela cassação. Um pedido de vista do ministro Fernando
Neves adiou a decisão.
Em seguida, o ministro Sepulveda Pertence declarou-se impedido, alegando razões de foro íntimo, e o ministro do STF Celso de
Mello foi convocado a substituí-lo. Ontem à noite, houve o desfecho. Nesse período, houve forte
pressão política pela absolvição.
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