São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Entidades de fachada têm conexões com financiadores da campanha do peemedebista

Aliados de Garotinho ganham contratos de R$ 243 mi no Rio

ELVIRA LOBATO
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A AREAL

Aliados de Anthony Garotinho, pré-candidato do PMDB à Presidência, criaram uma rede de supostas entidades sem fins lucrativos que movimentaram -sem licitação e por meio de empresas de fachada- pelo menos R$ 242,8 milhões em contratos públicos com o governo do Estado do Rio, administrado por sua mulher, Rosinha Matheus.
Pelo menos quatro dessas entidades têm ligações com os doadores da pré-campanha de Garotinho e outras duas funcionam como fachadas para empresas de fornecimento de mão-de-obra para a Fesp (Fundação Escola de Serviço Público, ligada à Secretaria de Administração).
Um exemplo é o Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos do Cidadão, que funciona em uma pequena sala em Areal, cidade a 90 km do Rio, e recebeu R$ 105,6 milhões da Fesp no ano passado.
O presidente do Conselho Fiscal da instituição, Hélio Bustamante Secco, é irmão de Ricardo Secco, parceiro em vários negócios de Luiz Antonio Motta Roncolli, que doou R$ 50 mil a Garotinho e dirige outra suposta entidade sem fins lucrativos contratada pela Fesp. Ricardo é pai da atriz Deborah Secco, que ano passado ganhou o título de "Mulher do Ano" da Fesp e fez propaganda do governo do Estado.
Segundo documentos registrados no Cartório de Pessoas Jurídicas do Estado do Rio de Janeiro, há vínculos societários formais entre três entidades beneficiadas por contratos sem licitação do governo e os doadores. A primeira delas, segundo a Folha revelou na edição de quarta-feira, é o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Treinamento (IBDT), que recebeu R$ 26,89 milhões da Fesp de 2004 até agora. O diretor do IBDT, Nildo Jorge Nogueira, é sócio da Emprin (Empresa de Projetos de Informática), que doou R$ 200 mil para Garotinho.
Integra o mesmo esquema o Inaap (Instituto Nacional de Aperfeiçoamento e Administração Pública), do qual Nildo Nogueira é vice-presidente geral. Angelina Direnna, mulher de Ricardo Secco, atuava na Inaap, onde consta como diretor-presidente Célio Direnna, que tem o mesmo sobrenome.
Segundo o Siafem (Sistema Integrado de Administração Financeira para Estados e Municípios), o Inaap recebeu R$ 10 milhões da Fesp em 2004, R$ 18 milhões em 2005 e já tem empenhados R$ 5,9 milhões neste ano, o que totaliza R$ 33,9 milhões.
O quarto elo entre os doadores e os contratos sem licitação com a Fesp é o Inep (Instituto Nacional de Pesquisa e Ensino de Administração Pública), beneficiado com R$ 15,5 milhões em 2004, R$ 26,49 milhões em 2005 e R$ 9,14 milhões em 2006, totalizando R$ 51,13 milhões.

Suspeitos
Segundo dados levantados pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio, a Fesp contratou 12 entidades no ano passado com dispensa de licitação pública, num total de R$ 214 milhões.
O Instituto Brasil Cidadão, que recebeu R$ 5,7 milhões da Fesp no ano passado, tem como presidente o vendedor de planos de seguro saúde Paulo César dos Reis. Oficialmente, ele responde pela entidade desde dezembro de 2003, mas, ao ser procurado pela reportagem da Folha, não soube explicar que tipo de serviço a entidade prestou ao Estado.
Paulo Reis deu o número do telefone da WRH Consultoria para que ela fornecesse as informações. O principal executivo da empresa é Gilson Ferreira, que foi diretor de treinamento da Fesp em 2002. O fornecimento de mão-de-obra é um dos serviços oferecidos pela empresa.
O Instituto Brasil Cidadão não tem sede própria. Ele usa como endereço fiscal um escritório de contabilidade no centro do Rio.
A sede do Instituto de Políticas Públicas, que recebeu R$ 3,4 milhões da Fesp em 2004, R$ 4,5 milhões em 2005 e 1,397 milhão neste ano (num total de R$ 9,29 milhões), é uma sala comercial na rua do Ouvidor, no centro do Rio, que vive fechada. Segundo a portaria do prédio, ocasionalmente aparece um office-boy para apanhar a correspondência.

Areal
O Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos da Cidadania funciona em uma sala de 25 metros quadrados no centro de Areal, na região serrana do Estado do Rio.
As instalações são modestas para uma entidade remunerada com mais de R$ 100 milhões só em 2005. Em uma sala anexa, ocorrem aulas gratuitas de informática. Quatro turmas de 14 crianças pobres da região dividem sete computadores. Uma terceira sala permanece fechada.
O mesmo prédio em que está o CBDD (Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos da Cidadania) em Areal abrigou até fevereiro deste ano a sede do IBDT, que também recebeu dinheiro da Fesp. O primeiro está instalado na sala 208 (parte administrativa), e o segundo funcionou na sala 105, cujo aluguel (cancelado em fevereiro) custava R$ 200 por mês.
Lojistas e profissionais liberais com escritório no prédio disseram que, na maior parte do tempo, a sala onde o IBDT se instalou permaneceu fechada.


Colaborou TALITA FIGUEIREDO, da Sucursal do Rio

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