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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA
Entidades de fachada têm conexões com financiadores da campanha do peemedebista
Aliados de Garotinho ganham contratos de R$ 243 mi no Rio
ELVIRA LOBATO
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A AREAL
Aliados de Anthony Garotinho,
pré-candidato do PMDB à Presidência, criaram uma rede de supostas entidades sem fins lucrativos que movimentaram -sem licitação e por meio de empresas de
fachada- pelo menos R$ 242,8
milhões em contratos públicos
com o governo do Estado do Rio,
administrado por sua mulher,
Rosinha Matheus.
Pelo menos quatro dessas entidades têm ligações com os doadores da pré-campanha de Garotinho e outras duas funcionam como fachadas para empresas de
fornecimento de mão-de-obra
para a Fesp (Fundação Escola de
Serviço Público, ligada à Secretaria de Administração).
Um exemplo é o Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos do Cidadão, que funciona em uma pequena sala em Areal, cidade a 90
km do Rio, e recebeu R$ 105,6 milhões da Fesp no ano passado.
O presidente do Conselho Fiscal
da instituição, Hélio Bustamante
Secco, é irmão de Ricardo Secco,
parceiro em vários negócios de
Luiz Antonio Motta Roncolli, que
doou R$ 50 mil a Garotinho e dirige outra suposta entidade sem
fins lucrativos contratada pela
Fesp. Ricardo é pai da atriz Deborah Secco, que ano passado ganhou o título de "Mulher do Ano"
da Fesp e fez propaganda do governo do Estado.
Segundo documentos registrados no Cartório de Pessoas Jurídicas do Estado do Rio de Janeiro,
há vínculos societários formais
entre três entidades beneficiadas
por contratos sem licitação do governo e os doadores. A primeira
delas, segundo a Folha revelou na
edição de quarta-feira, é o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento
e Treinamento (IBDT), que recebeu R$ 26,89 milhões da Fesp de
2004 até agora. O diretor do IBDT,
Nildo Jorge Nogueira, é sócio da
Emprin (Empresa de Projetos de
Informática), que doou R$ 200
mil para Garotinho.
Integra o mesmo esquema o
Inaap (Instituto Nacional de
Aperfeiçoamento e Administração Pública), do qual Nildo Nogueira é vice-presidente geral. Angelina Direnna, mulher de Ricardo Secco, atuava na Inaap, onde
consta como diretor-presidente
Célio Direnna, que tem o mesmo
sobrenome.
Segundo o Siafem (Sistema Integrado de Administração Financeira para Estados e Municípios),
o Inaap recebeu R$ 10 milhões da
Fesp em 2004, R$ 18 milhões em
2005 e já tem empenhados R$ 5,9
milhões neste ano, o que totaliza
R$ 33,9 milhões.
O quarto elo entre os doadores e
os contratos sem licitação com a
Fesp é o Inep (Instituto Nacional
de Pesquisa e Ensino de Administração Pública), beneficiado com
R$ 15,5 milhões em 2004, R$ 26,49
milhões em 2005 e R$ 9,14 milhões em 2006, totalizando
R$ 51,13 milhões.
Suspeitos
Segundo dados levantados pela
Assembléia Legislativa do Estado
do Rio, a Fesp contratou 12 entidades no ano passado com dispensa de licitação pública, num
total de R$ 214 milhões.
O Instituto Brasil Cidadão, que
recebeu R$ 5,7 milhões da Fesp no
ano passado, tem como presidente o vendedor de planos de seguro
saúde Paulo César dos Reis. Oficialmente, ele responde pela entidade desde dezembro de 2003,
mas, ao ser procurado pela reportagem da Folha, não soube explicar que tipo de serviço a entidade
prestou ao Estado.
Paulo Reis deu o número do telefone da WRH Consultoria para
que ela fornecesse as informações. O principal executivo da
empresa é Gilson Ferreira, que foi
diretor de treinamento da Fesp
em 2002. O fornecimento de mão-de-obra é um dos serviços oferecidos pela empresa.
O Instituto Brasil Cidadão não
tem sede própria. Ele usa como
endereço fiscal um escritório de
contabilidade no centro do Rio.
A sede do Instituto de Políticas
Públicas, que recebeu R$ 3,4 milhões da Fesp em 2004, R$ 4,5 milhões em 2005 e 1,397 milhão neste ano (num total de R$ 9,29 milhões), é uma sala comercial na
rua do Ouvidor, no centro do Rio,
que vive fechada. Segundo a portaria do prédio, ocasionalmente
aparece um office-boy para apanhar a correspondência.
Areal
O Centro Brasileiro de Defesa
dos Direitos da Cidadania funciona em uma sala de 25 metros quadrados no centro de Areal, na região serrana do Estado do Rio.
As instalações são modestas para uma entidade remunerada
com mais de R$ 100 milhões só
em 2005. Em uma sala anexa,
ocorrem aulas gratuitas de informática. Quatro turmas de 14
crianças pobres da região dividem sete computadores. Uma terceira sala permanece fechada.
O mesmo prédio em que está o
CBDD (Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos da Cidadania) em
Areal abrigou até fevereiro deste
ano a sede do IBDT, que também
recebeu dinheiro da Fesp. O primeiro está instalado na sala 208
(parte administrativa), e o segundo funcionou na sala 105, cujo
aluguel (cancelado em fevereiro)
custava R$ 200 por mês.
Lojistas e profissionais liberais
com escritório no prédio disseram que, na maior parte do tempo, a sala onde o IBDT se instalou
permaneceu fechada.
Colaborou TALITA FIGUEIREDO,
da Sucursal do Rio
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