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Para conter R$ 15 bi, Serra investe em disputa com o INSS
Governo tucano quer impedir a transferência de trabalhadores contratados como temporários para regime geral da Previdência
Exigência do instituto se baseia em artigo da reforma que diz que a temporários deve ser aplicado mesmo regime da iniciativa privada
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Disposto a atrair os servidores estaduais e conter iminente
greve, o governador de São
Paulo, José Serra, fez ontem
uma investida numa briga bilionária com o governo federal.
Reunido com secretários, Serra
determinou que os 205 mil trabalhadores contratados como
temporários pelo governo sejam caracterizados, em lei, como "titulares de cargos efetivos" do Estado.
Esse é mais um lance da disputa que Estado e INSS travam,
desde 1999, na Justiça. E não é
para menos: a cifra em jogo é de
cerca de R$ 15 bilhões. Contratados sob o amparo de uma antiga lei (a "500", de 1974), esses
trabalhadores -em sua maioria professores- contribuem e
se aposentam segundo o regime dos funcionários públicos
do Estado.
O INSS, no entanto, exige a
transferência desses empregados para o regime geral da Previdência, sob o argumento de
que essa é uma determinação
constitucional. Para isso, se
apóia no texto da reforma previdenciária de 1998, segundo o
qual os ocupantes de cargos
temporários são submetidos ao
mesmo regime dos trabalhadores da iniciativa privada.
Com a transferência, o Estado terá de destinar ao INSS o
que arrecadou até agora com a
contribuição desses trabalhadores. Daí os R$ 15 bilhões.
"Como são muitas pessoas e
tem gente que está na categoria
da lei 500 há 30 anos, alguns até
aposentados, obviamente na
hora que vai calcular dá uma cifra respeitável, perto de 15 bilhões", admitiu Carlos Henrique Flory, superintendente do
Ipesp (Instituto de Previdência
do Estado de São Paulo).
Liminares
Segundo a assessoria do Ministério da Previdência, em
1999, o STF (Supremo Tribunal
Federal) já tomou uma decisão
favorável ao governo. Mas São
Paulo ainda não se enquadrou
graças a liminares na Justiça.
Hoje, esse é o principal nó para
aprovação do projeto de lei
complementar que cria a São
Paulo Previdência (SPPREV).
Temendo a transferência para o regime geral -cujo teto de
benefício é de R$ 2.894,28
mensais- a Apeoesp, o sindicato dos professores da rede estadual, decidiu parar no dia 4 de
maio. "Esses trabalhadores
contribuíram esse tempo todo
para o Estado. Não podem ser
jogados no INSS", afirmou o
presidente da Apeoesp, Carlos
Ramiro de Castro.
Para evitar a greve e assegurar a aprovação dos projetos
que tramitam na Assembléia, o
secretário da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira, lembra que
servidores e Estado têm interesse comum. "O INSS está
acionando o Estado de São
Paulo na 18ª Vara Federal. O
INSS, do [ministro] Luiz Marinho, cujos correligionários estão nos enxovalhando na Assembléia", afirmou.
E reclamou: "Fico alarmado
quando vejo manifestos de professores que falseiam inteiramente a realidade. Se querem
mudar os termos da lei federal,
estão batendo na porta errada.
Têm que bater na porta do ministro da Previdência, que é
correligionário deles. Refiro-me especialmente às organizações sindicais filiadas à CUT".
Segundo Aloysio, a intenção
é provar que esse é um caso singular, em que 205 mil trabalhadores, 30 mil já aposentados,
foram contratados para exercer funções permanentes no
Estado. Porque a lei 500 criava
funções. Não cargos.
O INSS afirma, porém, que
não poderá descumprir uma
exigência constitucional sob
pena de cometer crime de responsabilidade. O Estado tem
até 28 de maio para aprovar os
projetos na Assembléia.
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