São Paulo, terça-feira, 28 de abril de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Futura candidatura Dilma divide opiniões

Na base aliada e na oposição, há quem defenda que anúncio de doença pode "influenciar positivamente" pretensão de disputar Planalto

Surpresos com a notícia, aliados, especialmente do PMDB, manifestam dúvida quanto à estabilidade da candidatura da ministra


DA REPORTAGEM LOCAL
DA FOLHA RIBEIRÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Passado o impacto inicial, o anúncio de que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, será submetida à quimioterapia para combater um câncer linfático produziu leituras bem diferentes no mundo político.
Para alguns -aliados ou adversários-, a eventual candidatura da ministra à Presidência sofreria abalos com a doença. Mas, na opinião de outros, inclusive petistas, confirmado o prognóstico dos médicos, Dilma poderá ser beneficiada pela imagem de mulher forte, capaz de vencer adversidades.
É, por exemplo, o que pensa o presidente estadual do PMDB, ex-governador Orestes Quércia. Apostando na recuperação da ministra, Quércia disse que, pela comoção que provoca, o episódio pode "influenciar positivamente" a candidatura.
"Há um sentido emocional muito grande nisso. Ela pode ser beneficiada", disse Quércia, em consonância com um petista para quem o problema de Dilma sensibilizaria o eleitor.
Entre tucanos ligados ao governador José Serra (PSDB-SP), há quem acredite que, superado o problema, a imagem de Dilma será suavizada.
"Por enquanto, nada muda. Mas estamos apreensivos. É um erro achar que isso pode ser positivo. Não há nada positivo numa doença", reagiu o ex-governador do Acre Jorge Viana (PT), confirmando que Dilma decidiu se manifestar a pedido do presidente Lula. "Ele estava preocupado", afirmou.
Para Serra, pré-candidato do PSDB à Presidência, é "desrespeitoso" e de "mau gosto" misturar o estado de saúde de Dilma com a sucessão presidencial. "Já desejei para ela completo e pronto restabelecimento e ponto final. Acho que especular eleição com doença não é apropriado e, no meu ponto de vista, é até de mau gosto", afirmou o governador durante a Agrishow, em Ribeirão Preto, (313 km de São Paulo).
Ainda surpresos com a notícia, aliados do governo -especialmente do PMDB- manifestavam dúvida quanto à estabilidade da candidatura Dilma.
"Tudo vai depender do estado de espírito dela, de como ela encara. Estou otimista. Mas, se tiver um problema com a Dilma, será um problema para o PT e para o PMDB", reconheceu o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves.
Após um telefonema de Lula, o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), reiterou o apoio a Dilma para o Planalto. Segundo ele, Lula se mostrou confiante na recuperação da ministra. "Ele [Lula] disse que ela agiu muito bem [ao admitir a doença]. Dilma foi clara, valente e transparente", disse, rechaçando mudanças de planos. "Ela é a nossa candidata. E será presidente em 2011."
O presidente da Câmara e presidente licenciado do PMDB, Michel Temer (PMDB-SP), que no sábado havia afirmado que o quadro sucessório dependia da evolução do tratamento da ministra, recuou e disse ontem que seu partido não pensa em um "plano B".
"Só vamos discutir [a sucessão] no fim deste ano. Nunca foi hora, muito menos agora, de discutir esse assunto. Vamos prosseguir no plano A. A chance de recuperação é de 90%."
O ministro José Múcio (Relações Institucionais) reconheceu que a notícia provocara turbulência na base. "Meu telefone não parou de tocar. Mas, nas eleições, isso será passado."


Texto Anterior: Revelar doença foi "muito bom", diz ministra
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.