São Paulo, segunda-feira, 28 de maio de 2007 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Entrevista da 2ª - Claudio Weber Abramo Para filósofo, divulgar grampos é errado em tese, mas evita abafamento de casos 'Discussão sobre reforma política é cortina de fumaça'
MICHELE OLIVEIRA DA REDAÇÃO Para o combate à corrupção, Claudio Weber Abramo, diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, descarta mudanças na estrutura político-partidária como uma das soluções. "Reforma política não vai mudar nada disso, e a discussão funcionará, de novo, como cortina de fumaça." Ele ressalta, sim, a importância da aplicação das leis e do acesso à informação. Quando Weber Abramo fala em uma cortina de fumaça "de novo", é porque, segundo ele, assim como o caso do mensalão, prestes a completar dois anos, levantou a discussão "inútil" sobre financiamento de campanha eleitoral, o mesmo pode acontecer com o surgimento da Operação Navalha, que reaviva o debate sobre a atuação da classe política. "Será que mudanças na estrutura político-partidária, ou na forma de realizar eleições, ou na maneira como as eleições são financiadas, causariam algum efeito sobre o direcionamento de licitações públicas? Me parece óbvio que não." Sobre a atuação da Polícia Federal, alvo de críticas por vazar informações sigilosas, Weber Abramo diz que, "em tese", a polícia não deveria agir assim. Mas ressalta que, "num ambiente em que a confiança nas instituições de controle é muito baixa", a publicidade da investigação pode ser um modo de forçar sua continuidade. "Divulgar informações sobre investigações muitas vezes é um mecanismo usado para evitar que casos sejam abafados antes mesmo que comecem judicialmente", diz o mestre em lógica e filosofia da ciência pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Weber Abramo, há quase sete anos à frente da Transparência Brasil, criada em 2000, defende a regulamentação do lobby como forma de controlar a atividade relacionada a políticos. Diz ainda que "ineficiências administrativas" são mais bem combatidas quando a lei é aplicada -"um passo muito importante para melhorar a administração pública é aplicar os regulamentos"- e quando o acesso à informação é amplo. Leia abaixo os principais trechos da entrevista à Folha. FOLHA - Depois do mensalão e dos sanguessugas, esse novo escândalo da Operação Navalha traz novidades em seu modo de operação? CLAUDIO WEBER ABRAMO - Não. O mecanismo exibido é basicamente o mesmo de sempre: uma empresa ou grupo de empresas paga propinas a agentes públicos (eleitos ou nomeados) para que licitações sejam direcionadas em seu favor. Por vezes, isso é associado à introdução, no Orçamento, de emendas que definem a execução de determinadas obras ou a compra de determinados bens, como as ambulâncias dos sanguessugas. Nesses casos, os parlamentares envolvidos agem como intermediários, tanto na definição das emendas quanto depois, na chamada "liberação", ou seja, aprovação administrativa da compra. O administrador público do órgão que realiza a despesa -um ministério, uma secretaria estadual, uma prefeitura- é quem de fato materializa a operação, ao realizar a licitação, que é direcionada, ao não fiscalizar a execução da obra etc. Em suma, o processo é sempre o mesmo. Observe-se que os parlamentares envolvidos são intermediários de uma operação que é necessariamente realizada pelo Executivo, seja federal, estadual ou municipal. FOLHA - Depois dos dois escândalos que marcaram o primeiro mandato do governo Lula, é possível que
essa sucessão de casos de corrupção
envolvendo políticos e dinheiro público não mais mobilize os eleitores?
FOLHA - Falando dos casos dos sanguessugas e do mensalão, o sr. vê
um mais grave do que o outro?
FOLHA - Como nos sanguessugas,
há políticos de muitos partidos, incluindo base aliada e oposição, envolvidos no esquema. É uma amostra de um sistema político deficiente? O que precisa mudar?
FOLHA - Se reforma política não
mudará práticas como direcionamento de licitações, de que forma
combater, então, essas "ineficiências administrativas"?
FOLHA - Nessa Operação Navalha
novamente houve casos de lobby de
empresários junto a agentes públicos. Como cercear o lobby? Existe o
lobby "saudável", sem transgredir
limites éticos e legais?
FOLHA - A atuação da PF nas operações Hurricane e Navalha, principalmente, gerou muitas críticas dos
que foram presos. A Transparência
Brasil tem uma avaliação do desempenho da PF nesses casos?
FOLHA - Ainda sobre a PF, a divulgação de grampos contendo nomes
que podem não estar envolvidos
nos esquemas de corrupção não é
um risco? Como proceder com os
grampos? A PF pode divulgá-los?
FOLHA - Depois de deflagradas, as
operações da Polícia Federal dependem do Judiciário para resultarem
em punições, que podem vir em
anos. Isso não pode desestimular o
combate à corrupção?
FOLHA - Na Operação Navalha está
havendo um conflito entre o STF e o
STJ. Enquanto o último autorizou
pedidos de prisão temporária, o Supremo, por meio do ministro Gilmar
Mendes, concedeu liminares soltando presos. Isso é prejudicial ao trabalho da PF?
FOLHA - A corrupção está sendo
mais combatida ou está acontecendo em maior volume?
|
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |