São Paulo, quarta-feira, 28 de junho de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

Alckmin tira FHC do debate para evitar "agenda petista"

Tucano diz que sua campanha vai comparar gestão de Lula com governo paulista

Candidato reage a discurso do presidente, que afirmou ter pego o país "um pouco desarranjado" e que teve desempenho extraordinário


DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, trabalhará para impedir que a comparação dos governos Lula e FHC domine o debate eleitoral. "Não vou ser pautado pelo PT", disse ontem, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacar, mais uma vez, a oposição e dizer que pegou o Brasil "um pouco desarranjado".
Deixando claro que quer tirar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso do centro da campanha, Alckmin reagiu, acusando Lula de voltar o farol para o passado. "O PT não vai nos pautar. Vamos falar do que nós já fizemos em São Paulo e do que eles não fizeram na área federal e o que vamos fazer."
Alckmin disse que defenderá FHC, "porque há muitas injustiças que são colocadas". Como exemplo, afirmou que Lula não reconhece os méritos do antecessor. "Colhe frutos e não reconhece", criticou, chamando de atrasada "essa coisa de você ficar o tempo inteiro falando mal do antecessor".
Ele frisou, no entanto, que o que "está em discussão é quem pode fazer mais pelo Brasil nos próximos quatro anos".
À noite, o tucano voltou a falar sobre as comparações: "Essa obsessão de falar do passado é medo do presente. Medo de discutir a corrupção, os problemas de governo, a ineficiência, a falta de equipe e a falta de projetos", afirmou, ao chegar na festa junina do senador José Jorge (PFL-PE), seu vice.

"Desarranjada"
Num evento oficial e sob os gritos de "Lula outra vez", o presidente comparou o Brasil que assumiu a um avião desmontado. Disse que certa vez ganhou um avião para montar com as instruções em inglês. Ele chegou a pensar em jogar o brinquedo fora, mas depois chamou alguém para montá-lo.
"O Brasil, quando o pegamos, era assim. Ele era uma coisa um pouco desarranjada, as pessoas achavam que não ia dar certo."
Alckmin rebateu, afirmando que, no final de 2002, o Brasil estava sob o "efeito PT", o "risco Lula". "Foi simplesmente a possibilidade de vitória do Lula que acabou piorando aí os índices no final de 2002."
Ele negou que Lula tenha herdado a economia desarrumada. "Pelo contrário. Foi o governo do presidente FHC que através do real conseguiu fato que deve ser comemorado, que até hoje traz benefícios para a população, que é a estabilidade monetária", declarou o tucano.

"Pai dos pobres"
No evento, Lula mais uma vez se colocou como o defensor dos pobres e disse que o resultado de seu governo, em "apenas 42 meses", tem sido "extraordinário". Ele discursou a cerca de mil pessoas que lotaram o auditório de um clube de Brasília para a Conferência Nacional de Economia Solidária.
Três dias depois de oficializada sua candidatura à reeleição, o presidente foi recebido com o coro de "um, dois, três, é Lula outra vez". Empolgado com a claque, Lula ignorou o texto preparado por sua assessoria e discursou, de improviso, por 20 minutos, sempre em busca de comparações e ataques a FHC. "O Brasil não estava preparado para cuidar da parte mais pobre da população."
Segundo Lula, "quando a gente casa com a viúva, a gente tem que herdar os filhos também. (...) Temos que casar com o conjunto da alegria e dos problemas também". Quando o presidente conheceu a primeira-dama em 1973, Marisa era viúva e tinha um filho. Após casar-se com ela, Lula também adotou o filho dela, Marcos.
Na convenção petista de sábado, Lula deu o tom de como será sua campanha, afirmando que "as vozes do atraso estão de volta". Antevendo a estratégia, FHC reuniu ministros no mês passado -como relatou a Folha- para elaboração de uma cartilha em defesa de sua administração. Domingo, FHC contra-atacou, dizendo que o presidente petista "cacareja sobre os ovos dos outros".
Para Lula, nem mesmo os críticos sabem explicar o segredo do sucesso de sua gestão, citando a antecipação do pagamento da dívida brasileira com o FMI (Fundo Monetário Nacional). "O que aconteceu? É que nós conseguimos arrumar a casa de tal ordem que alguns críticos do passado não sabem explicar como é que a gente resolveu o problema", afirmou o petista. (CATIA SEABRA, EDUARDO SCOLESE E PEDRO DIAS LEITE)


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