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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
Alckmin tira FHC do debate para evitar "agenda petista"
Tucano diz que sua campanha vai comparar gestão de Lula com governo paulista
Candidato reage a discurso do presidente, que afirmou ter pego o país "um pouco desarranjado" e que teve desempenho extraordinário
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, trabalhará para impedir que a
comparação dos governos Lula
e FHC domine o debate eleitoral. "Não vou ser pautado pelo
PT", disse ontem, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
atacar, mais uma vez, a oposição e dizer que pegou o Brasil
"um pouco desarranjado".
Deixando claro que quer tirar
o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso do centro da
campanha, Alckmin reagiu,
acusando Lula de voltar o farol
para o passado. "O PT não vai
nos pautar. Vamos falar do que
nós já fizemos em São Paulo e
do que eles não fizeram na área
federal e o que vamos fazer."
Alckmin disse que defenderá
FHC, "porque há muitas injustiças que são colocadas". Como
exemplo, afirmou que Lula não
reconhece os méritos do antecessor. "Colhe frutos e não reconhece", criticou, chamando
de atrasada "essa coisa de você
ficar o tempo inteiro falando
mal do antecessor".
Ele frisou, no entanto, que o
que "está em discussão é quem
pode fazer mais pelo Brasil nos
próximos quatro anos".
À noite, o tucano voltou a falar sobre as comparações: "Essa
obsessão de falar do passado é
medo do presente. Medo de
discutir a corrupção, os problemas de governo, a ineficiência,
a falta de equipe e a falta de projetos", afirmou, ao chegar na
festa junina do senador José
Jorge (PFL-PE), seu vice.
"Desarranjada"
Num evento oficial e sob os
gritos de "Lula outra vez", o
presidente comparou o Brasil
que assumiu a um avião desmontado. Disse que certa vez
ganhou um avião para montar
com as instruções em inglês.
Ele chegou a pensar em jogar o
brinquedo fora, mas depois
chamou alguém para montá-lo.
"O Brasil, quando o pegamos,
era assim. Ele era uma coisa um
pouco desarranjada, as pessoas
achavam que não ia dar certo."
Alckmin rebateu, afirmando
que, no final de 2002, o Brasil
estava sob o "efeito PT", o "risco Lula". "Foi simplesmente a
possibilidade de vitória do Lula
que acabou piorando aí os índices no final de 2002."
Ele negou que Lula tenha
herdado a economia desarrumada. "Pelo contrário. Foi o governo do presidente FHC que
através do real conseguiu fato
que deve ser comemorado, que
até hoje traz benefícios para a
população, que é a estabilidade
monetária", declarou o tucano.
"Pai dos pobres"
No evento, Lula mais uma
vez se colocou como o defensor
dos pobres e disse que o resultado de seu governo, em "apenas 42 meses", tem sido "extraordinário". Ele discursou a
cerca de mil pessoas que lotaram o auditório de um clube de
Brasília para a Conferência Nacional de Economia Solidária.
Três dias depois de oficializada sua candidatura à reeleição,
o presidente foi recebido com o
coro de "um, dois, três, é Lula
outra vez". Empolgado com a
claque, Lula ignorou o texto
preparado por sua assessoria e
discursou, de improviso, por 20
minutos, sempre em busca de
comparações e ataques a FHC.
"O Brasil não estava preparado
para cuidar da parte mais pobre
da população."
Segundo Lula, "quando a
gente casa com a viúva, a gente
tem que herdar os filhos também. (...) Temos que casar com
o conjunto da alegria e dos problemas também". Quando o
presidente conheceu a primeira-dama em 1973, Marisa era
viúva e tinha um filho. Após casar-se com ela, Lula também
adotou o filho dela, Marcos.
Na convenção petista de sábado, Lula deu o tom de como
será sua campanha, afirmando
que "as vozes do atraso estão de
volta". Antevendo a estratégia,
FHC reuniu ministros no mês
passado -como relatou a Folha- para elaboração de uma
cartilha em defesa de sua administração. Domingo, FHC contra-atacou, dizendo que o presidente petista "cacareja sobre
os ovos dos outros".
Para Lula, nem mesmo os
críticos sabem explicar o segredo do sucesso de sua gestão, citando a antecipação do pagamento da dívida brasileira com
o FMI (Fundo Monetário Nacional). "O que aconteceu? É
que nós conseguimos arrumar
a casa de tal ordem que alguns
críticos do passado não sabem
explicar como é que a gente resolveu o problema", afirmou o
petista.
(CATIA SEABRA, EDUARDO SCOLESE E PEDRO DIAS LEITE)
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