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Sarney não deverá renunciar, diz historiador
Marco Antonio Villa, da UFSCar, avalia que presidente do Senado só deixa o cargo se isso ajudar Roseana
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Marco Antonio Villa, professor de história da Universidade
Federal de São Carlos, escreveu
em outubro de 2005 o artigo "A
crise política e o coronelismo",
na Folha. O texto gerou polêmica por conta das críticas a
José Sarney (um dos filhos do
senador enviou carta ao jornal
respondendo ao historiador).
Quatro anos depois, Villa diz
que nada mudou em sua análise. Pelo contrário, a situação
piorou: "É a pior crise na história do Senado republicano".
Para o professor, a tendência
é de que Sarney se mantenha
no cargo, pois tem o apoio da
maioria dos senadores. Villa
diz que o presidente da Casa só
deixará a cadeira se calcular
que isso beneficiará as pretensões da família no Maranhão.
FOLHA - Em 2005, o sr. escreveu
um artigo que gerou polêmica pelas
duras criticas a Sarney. Quatro anos
depois, o que mudou na sua análise?
MARCO ANTONIO VILLA - Infelizmente nada. José Sarney mantém hoje relações até mais extensas com o governo federal. O
poder local, provincial, que ele
tem, deve-se às relações estreitas com o governo federal. Só é
um cacique tão poderoso porque controla as nomeações federais para o Maranhão, os recursos orçamentários. É um intermediário -na minha opinião perverso- entre o governo federal e o Maranhão. Sarney é o maior, o mais antigo dos
oligarcas e o de maior êxito.
FOLHA - O que essa atual crise do
Senado tem de peculiar?
VILLA - É a maior crise do Senado republicano. O início de tudo foi a eleição da Mesa Diretora, mas ninguém imaginava que
iria alcançar tamanhas proporções. Pela primeira vez ficou
claro que o Senado era dirigido
por funcionários que transformaram crimes em algo cotidiano, como se fossem atos normais. É algo muito grave.
FOLHA - Que consequências práticas a atual crise pode trazer?
VILLA - O Ministério Público
terá que atuar, porque foram
cometidos crimes gravíssimos.
Esse é um dos pontos centrais
da grave crise ética que vivemos. Não é possível ter mais de
600 atos sigilosos e a Justiça
não fazer nada. Os escândalos
envolvendo Renan Calheiros
em 2007 são coisas de criança
se comparados aos deste ano.
FOLHA - Renan renunciou à presidência. Sarney pode renunciar?
VILLA - A maioria do Senado
não é contrária ao Sarney e tudo indica que não deva mudar
de opinião porque tem práticas
pouco republicanas e não acredita que a ação do Sarney seja
algo negativo para a Casa. Ao
contrário, acha isso natural. Os
senadores (inclusive aqueles
que se destacam pelo discurso
da ética) foram coniventes com
esses atos secretos. A grande
maioria foi beneficiada. Isso
explica a dificuldade do próprio
Senado ter condição de se reformar. Agora, se as revelações
continuarem, pode ser que o
caminho seja a renúncia.
FOLHA - Por quê?
VILLA - Sarney raciocina pensando nos interesses da sua família. Creio que o grande temor
de renunciar à presidência do
Senado é o de perder influência
no governo federal e isso prejudicar os interesses da família. É
esse raciocínio que ele vai utilizar para decidir se renuncia ou
não. A saída só ocorrerá se ele
perceber que a avalanche de
denúncias chegou a tal ponto
que coloca em risco o domínio
da família no Maranhão e a
eleição de Roseana ao governo
estadual em 2010. Ele é um
bom chefe de família, basta ver
o número de familiares que
empregou no Senado. Muitos
senadores jogam com o esquecimento. Sarney bem que poderá dizer ao Renan: "Eu sou você
amanhã". Renan usou a estratégia de se retirar dos holofotes
e se deu bem. Antonio Carlos
Magalhães renunciou ao mandato e voltou eleito senador.
FOLHA - O que o sr. achou da declaração de Sarney de que sofre ataques porque apoia Lula?
VILLA - É uma estratégia porque ele precisa se manter próximo do presidente. O oligarca
só tem poder na província porque tem forte poder central.
Romper o poder coronelístico
por dentro, na própria província, é tarefa quase impossível.
Por isso torço para que o próximo presidente consiga destruir
a fonte do poder dos oligarcas:
as relações privilegiadas que o
clã mantém com a União.
A questão central é que, hoje,
Lula e Sarney são unha e carne,
faces da mesma moeda. Por incrível que pareça, eles não se
distinguem, o que é estranho
pelas histórias tão distintas. A
crise ética no Brasil chegou a tal
ponto que não há mais distinção entre o Lula e o Sarney.
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