São Paulo, domingo, 28 de junho de 2009

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Meirelles diz que candidatura depende da evolução da crise

Presidente do BC negou que já tenha tomado a decisão de concorrer ao governo de Goiás

Meirelles conta que só pensa em sair do BC quando estiver seguro da consolidação da incipiente recuperação da economia brasileira

Sérgio Lima - 16.abr.09/Folha Imagem
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em Brasília


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BASILEIA

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, negou ontem que já tenha tomado a decisão de candidatar-se ao governo de Goiás, ao contrário do noticiado pelo jornal "Valor Econômico", mas deixou aberta a possibilidade na dependência da evolução da crise global e sua repercussão no Brasil.
A frase de Meirelles para explicar porque seu desejo, no momento, é ficar no BC serve também de avaliação da gravidade da crise, apesar do ressurgimento de um relativo otimismo em alguns círculos empresariais e de mercado:
"A crise é grave, séria e exige atenção integral 24 horas por dia", disse o presidente do BC, que participa em Basileia de reuniões no âmbito do BIS (sigla para Banco de Compensações Internacionais, o banco central dos bancos centrais).
Meirelles lembrou que já foi publicamente liberado pelo presidente Lula, que disse, em abril, que gostaria de contar com ele até o fim do governo mas que não poderia proibi-lo de candidatar-se. Nesse caso, a desincompatibilização teria que ser até março de 2010.
Quando, então, a crise deixaria de exigir "atenção integral" e, por extensão, permitiria pensar na candidatura?
Meirelles não crava um momento exato, mas dá a entender que seria por volta de setembro, a partir do seguinte teorema: 1) Ele só pensaria em deixar o BC quando estivesse seguro da consolidação da incipiente recuperação da economia brasileira; 2) A consolidação só estará demonstrada (ou não) nas estatísticas com o resultado do segundo trimestre. Embora esse período já esteja praticamente terminado, o presidente do BC não se arrisca a antecipar qual foi a recuperação da economia, na comparação com o primeiro trimestre. Menos ainda se se trata de um resultado sustentável; 3) Recuperação e sustentabilidade dela, nos seus cálculos, aparecerão lá por setembro.
A cautela que Meirelles exibe, na sua análise sobre a economia, bastante maior do que a do presidente Lula e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, se apoia mais na situação global do que propriamente do andamento da crise no Brasil.
Nas conversas que manteve com os outros banqueiros centrais na Basileia, o cenário que surgiu é mais de perguntas do que de respostas. É claro que há alguns indicadores ou de que o ritmo de queda da economia se desacelerou (caso dos EUA) ou de que há uma recuperação (caso do Brasil). "Mas não há segurança sobre a sustentabilidade desses indicadores", ressalva.
Encaixa em seguida as perguntas ainda sem resposta: "Quanto dos indicadores positivos é resultado dos pacotes de estímulos fiscais?". "Quanto tempo será possível continuar com tais pacotes e o que acontecerá quando eles começaram a ser revertidos?"
Quanto ao Brasil, Meirelles rechaça a tese do descasamento com a economia do mundo rico, teoria que emerge e submerge periodicamente. A fase atual é de emersão, mas Meirelles não a compra: "O que começa a ficar mais claro é que a recuperação da economia brasileira tem um grau de sustentabilidade maior do que em outras regiões". Mas, acrescenta, "uma reversão do quadro voltaria a afetar o país obviamente".


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