São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ALIANÇAS

Mão Santa e Ernandes Amorim abrem palanques a petista

Apoio a Lula envolve até político cassado pelo TSE

PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Acossado pelo crescimento de Ciro Gomes (PPS), o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, voltará sua campanha, até o início do horário eleitoral, para usar a força de caciques regionais que o apóiam formal ou informalmente.
Entre essas lideranças estão nomes polêmicos como o do ex-governador do Piauí Francisco de Assis de Moraes Souza (PMDB), o Mão Santa, e do ex-senador por Roraima Ernandes Amorim (PRTB), ambos cassados pelo Tribunal Superior Eleitoral sob acusação de abuso do poder econômico. Amorim já foi acusado de envolvimento com o narcotráfico em investigações parlamentares.
Lula tem obtido palanques estaduais de parte do PMDB, do PSB, do PDT, do PTB e até mesmo do PSDB -como no caso do candidato ao governo do Maranhão, Roberto Rocha, e de dissidentes no Acre- e do PPB -o prefeito de Itaipava (MA), Luiz Gonzaga.
Além de Orestes Quércia em São Paulo, a contabilidade petista revela nomes como os de Newton Cardoso (PMDB), candidato ao governo de Minas, e Paes de Andrade (PMDB-CE), a quem Lula chamou repetidas vezes de "companheiro" durante visita a Fortaleza. "Não vou pedir atestado ideológico de voto. Quero o voto de todos aqueles que quiserem me apoiar", justifica Lula.

Ida a Sarney
Anteontem, a coordenação da campanha do petista reuniu-se para avaliar o cenário depois da ascensão de Ciro Gomes, que chega a ultrapassá-lo com sete pontos de vantagem no segundo turno, segundo levantamento do Ibope feito de 21 a 23 de julho.
Os petistas começaram a preparar uma viagem de Lula ao Maranhão, onde deve ter encontros públicos com o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), que sinalizaria, se não seu voto no petista, ao menos simpatia em relação a seu nome. A mesma estratégia deve se repetir no Paraná, com o senador Roberto Requião (PMDB).
A tentativa petista é aproveitar defecções da candidatura governista de José Serra (PSDB) para mostrar Lula como um candidato de apoio político amplo, que vai da esquerda ao centro, em uma definição bastante flexível que, na realidade, inclui nomes identificados com a direita.

Palanques
O Núcleo de Análise Eleitoral do PT concluiu na semana passada a atualização do mapeamento das forças que apóiam Lula formal e informalmente (veja quadro nesta página).
No documento, os petistas deram pesos aos apoios dos candidatos a presidente Estado a Estado. Mediram a força do palanque de cada um, somando, por exemplo, os votos obtidos na eleição passada por cada político ou seu grupo, com a potencialidade de uso da máquina administrativa pelo governo estadual em favor de um candidato e dimensionaram a quantidade de votos da região na eleição presidencial.
A partir daí, traçaram um mapa que mostra quem tem melhores condições de campanha em cada Estado (veja resumo no quadro). O tucano José Serra aparece com mais força por reunir mais governadores e partidos regionalmente fortes em torno de si. Ciro, que tinha no apoio regional uma de suas fragilidades, já aparece bastante articulado e em fase de ampliação de sua base.

Segundo turno
Para o PT, a situação não é das mais confortáveis. Nos três principais colégios eleitorais, pode enfrentar uma situação difícil.
Se, no segundo turno, o adversário de Lula for Ciro Gomes na disputa pela Presidência e Paulo Maluf (PPB) e Geraldo Alckmin (PSDB) estiverem na disputa em São Paulo, o petista pode ser levado a ficar neutro no principal colégio eleitoral, o que poderia lhe causar perda de votos, ou estimular uma dobradinha com o pepebista já que o atual governador poderia ser levado para o lado do candidato do PPS por Tasso Jereissati ou familiares de Mário Covas, morto em março de 2001.
A esperança petista para evitar tal impasse é o crescimento da candidatura de José Genoino, já que a performance aquém do esperado de Serra pode, em tese, puxar a intenção de voto em Alckmin, que polariza hoje a disputa com Maluf.
No Rio, o crescimento de Jorge Roberto Silveira (PDT), que apóia Ciro, pode tirar a governadora Benedita da Silva (PT) na disputa com a líder das pesquisas até aqui, Rosinha Garotinho (PSB).
No segundo turno, Silveira estaria fechado com Ciro, o que obrigaria o PT a caminhar com Rosinha. O PT nacional não vê problema nessa aliança, que é rejeitada pela maioria do PT fluminense, o que poderia levar a nova intervenção e a grande crise na legenda.
A avaliação no PT é que os próximos 15 dias serão cruciais e na prática podem definir que serão os dois candidatos que irão ao segundo turno.

Definição
A tese é que o debate do próximo domingo e seus reflexos nas pesquisas eleitorais vão definir o patamar que cada candidato entrará no horário eleitoral gratuito, a partir de 20 de agosto.
Se dois nomes se mantiverem isolados no início da campanha da TV, como hoje começa a se desenhar, a avaliação é que conseguiriam defender seu patrimônio de voto com os programas, impedindo os demais adversários de crescer. Nesse contexto, haveria chances reais de a disputa se definir até no primeiro turno.
A TV teria importância maior, no caso de fragmentação da disputa com três ou quatro candidatos disputando as duas vagas com percentuais próximos. Nesse caso, o pleito se aproximaria mais da linha de 1989 do que de 1994 e 1998, definidos antes mesmo do horário eleitoral.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Visual "light" expõe petista, diz estudo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.