São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002

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GOVERNO

Desde 1998, o governo já gastou R$ 12 mi com reparos em canal

Erros em obra de Ciro vão custar R$ 14 mi ao Ceará

Janio Ferreira/Folha Imagem
O Canal do Trabalhador, que foi construído para levar água do açude Orós à capital Fortaleza durante períodos extremos de seca


KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

A três meses das eleições, o Canal do Trabalhador, principal obra do presidenciável Ciro Gomes (PPS) quando era governador do Ceará (1991-94), vai receber um investimento de R$ 14 milhões para ajustar erros de sua construção original.
Desde 1998, o governo do Estado já gastou R$ 12 milhões com reparos no canal. A obra custou, ao ser inaugurada após três meses de obras emergenciais em outubro de 1993, o equivalente a US$ 48 milhões. Seu objetivo principal foi trazer água do açude Orós à capital Fortaleza durante períodos extremos de seca, o que aconteceu quando de sua inauguração e durante a estiagem de 1998.
Ciro fez carreira no Ceará, apadrinhado pelo ex-governador Tasso Jereissati (PSDB), que é candidato ao Senado.
O tucano Lúcio Alcântara, postulante ao governo, nem cita o presidenciável de seu partido, José Serra, em discursos. Já Ciro é qualificado de ""reforço" em seu material de campanha.
O principal problema corrigido no canal foi a substituição de duas peças chamadas sifões que fazem o transporte da água de uma parte baixa para outra um pouco mais alta do percurso.
As peças colocadas inicialmente eram feitas de um material chamado chapa corrugada armco e enferrujaram logo depois que o canal passou a ser utilizado. Houve uma recuperação das peças, mas a sobrevida delas não suporta mais o canal, como constatou a Secretaria de Recursos Hídricos do Estado nove anos depois da construção da obra.
O primeiro sifão, de 1.800 metros de extensão, já foi substituído em 1998. A idéia é que o segundo, maior, de 2.800 metros de extensão, seja substituído em agosto deste ano. Os novos sifões são feitos de aço e recebem um revestimento interno e externo e cargas de eletrodos que impedem a ferrugem, com uma vida útil de até 70 anos.
A principal justificativa para a escolha desse tipo de material que tem uma vida útil mais curta para o sifão foi a pressa para entregar a obra. Um terceiro sifão, porém, chegou a ser feito de aço e agora não terá de ser substituído.
Pelo mesmo motivo de falta de tempo, os engenheiros do governo na época decidiram aplicar, para impermeabilizar o canal, uma manta asfáltica no lugar do concreto, normalmente utilizado para cobrir canais.
Essa mesma manta, aplicada no pequeno canal Ererê, de sete quilômetros, que faz a ligação entre o Canal do Trabalhador e o sistema Pacoti-Riachão -que leva a água para a região metropolitana de Fortaleza-, foi totalmente destruída um ano após estar pronto.
Hoje, o canal Ererê está sem cobertura, apenas com terra, mas também em agosto deve receber uma capa de concreto.
Segundo o gerente do Canal do Trabalhador, Domingos Diógenes, a manta não aguentou a velocidade da água que passava pelo pequeno canal.
A manta asfáltica do Canal do Trabalhador se mantém intacta, segundo o governo, mas vai durar no máximo 15 anos. Um projeto para aplicar concreto sobre essa manta está sendo feito.
Para o engenheiro e geólogo Caio Lóssio, professor da Universidade Federal do Ceará, até 50% da manta já pode estar afetada. "Nem tudo que é bom para a Europa é bom para o Brasil. Ainda mais porque estamos numa região do país única no mundo, um semi-árido localizado na zona equatorial, onde o calor é muito maior", disse, sobre a manta.
Além da troca dos sifões, vêm sendo realizados o alargamento de aterros, desassoreamento de um trecho, drenagem superficial, eletrificação dos arredores, inclusão de cinco comportas e a abertura de uma estrada.



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