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Lobbies "entulham" relatório da reforma tributária, diz especialista
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O relatório preliminar da reforma tributária, elaborado pelo deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), está apinhado de velhos e
novos "entulhos", na avaliação do
economista Ricardo Varsano, especialista em tributação do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada), ligado ao Ministério do
Planejamento.
"Ele incluiu um bocado de entulho que estava perdido em diversas gavetas e também de entulho
novo, que é balão de ensaio", diz
Varsano. Trata-se de uma referência a lobbies que circulam há
anos no Congresso, como o da
Zona Franca de Manaus, e a pressões mais recentes, como a que
pede a regularização da taxa municipal para a coleta de lixo.
A inclusão desse "entulho" no
pré-relatório divulgado por Guimarães atende, segundo o economista, a dois propósitos: ganhar
tempo, até que o Planalto acerte
com os governadores o formato
definitivo da reforma, e testar a
receptividade a diversas propostas -os tais "balões de ensaio".
Hoje Guimarães deverá apresentar mais uma versão do texto.
O texto, que o relator chama de
"esboço parcial", alterou pontos
centrais da proposta original, elaborada pela equipe do ministro
Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Mais que isso, atropelou a intenção de Palocci de restringir a
reforma a poucos pontos consensuais. Enquanto o projeto enviado pelo governo ao Congresso altera oito artigos da Constituição e
acrescenta quatro, o de Guimarães altera 27 e acrescenta 11.
Foram encampados diversos
pleitos de regiões e setores representados na comissão, como mais
prazo para os benefícios fiscais,
mais dez anos para os incentivos
da Zona Franca de Manaus, a permissão constitucional para a Taxa
do Lixo e até miudezas como a tributação sobre a água encanada e
o gás natural.
Depuração
Para Varsano, grande parte dessas regras acabará sendo retirada
do projeto durante a tramitação
no Congresso -"os lobbies vêm
e vão, é normal". Limpo dos "entulhos", afirma, o texto poderá até
ficar melhor que o original.
Não que isso seja grande vantagem para Varsano, para quem o
projeto do governo "é muito
ruim" -por não priorizar a competitividade da produção nacional e apenas apresentar alguns
avanços na progressividade dos
impostos.
No item competitividade, o texto traz duas inovações que considera positivas: o fim do IPI sobre
máquinas e equipamentos e a incidência do PIS e da Cofins sobre
importados. Varsano critica, porém, a mais inusitada das propostas do relator: a possibilidade de
alíquotas múltiplas para a CMF,
sucessora permanente da CPMF.
"Eu juro que, na minha opinião, é
a mais absoluta loucura."
A medida, argumenta, acaba
com as únicas vantagens do tributo -simplicidade e seu uso para
fiscalizar movimentações financeiras. Além de ser de dificílima
aplicação, diz, tende a elevar a carga tributária -o texto de Guimarães extingue o teto de 0,38% para
a alíquota.
O economista concorda que o
projeto abre portas para o aumento da carga, crítica mais comum à reforma do governo, mas
acha que esse não é o ponto mais
importante. O fundamental, diz, é
a qualidade dos tributos, ponto
no qual, a seu ver, os avanços quase inexistem.
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