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CÂMARA
Mesa contraria orientação de técnicos para Waldir Pires ficar com benefício
Deputados alteram plano de saúde para atender a ministro
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Câmara dos Deputados contrariou orientação de seu corpo
técnico e alterou o regulamento
do plano de saúde que oferece a
servidores e deputados para atender ao ministro Waldir Pires
(Corregedoria Geral da União).
Pelas regras antigas, o ministro
deveria ter perdido o direito ao
benefício em janeiro de 2003,
quando deixou de ser deputado.
A modificação ocorreu na última reunião da Mesa Diretora da
Casa, realizada no final de abril, e
abre precedente para que outros
ex-deputados que se enquadrem
no perfil do ministro voltem a ser
beneficiados pelo plano.
A Câmara tem um orçamento
de R$ 30 milhões, só neste ano,
com o plano de saúde, que possui
14.610 beneficiados.
A argumentação de Pires -deputado por
três mandatos- é que ele acabou
sendo punido ao renunciar a uma
segunda aposentadoria. Para continuar como beneficiário do plano, ele poderia ter se aposentado
como deputado, mas afirma ter
recusado, uma vez que, como servidor inativo do Ministério da
Justiça desde 1987, acumularia
duas aposentadorias.
A alteração feita pela cúpula da
Câmara estende o Pró-Saúde (nome do plano da Câmara) a ex-deputados que não se aposentaram
pelo regime próprio dos congressistas e que tenham cumprido
dois mandatos até 1999.
Em 1993, quando foi criado, o
Pró-Saúde atendia apenas a servidores ativos e inativos, mais pensionistas. Em 1998, na gestão de
Michel Temer, o benefício foi estendido aos deputados da ativa,
aos seus dependentes e aos parlamentares aposentados.
Pires, que tem 77 anos, disse que
está com "a saúde boa", motivo
pelo qual nunca teria usado o plano. A Folha consultou o preço de
um plano de saúde em Brasília
para alguém na situação dele e verificou que ele pagaria R$ 1.680
por mês. No Pró-Saúde, o ministro paga R$ 150 mensais, mais
25% do custo do serviço usado.
A discussão sobre a nova alteração começou em janeiro, quando
os sete deputados que compõem
a Mesa da Câmara analisaram pela primeira vez o pleito feito por
escrito pelo ministro. A Mesa decidiu mantê-lo como beneficiário
até que um estudo técnico fosse
feito. Meses depois, também autorizou a manutenção provisória
dos ex-deputados Marcelo Barbieri e Freire Júnior.
A Diretoria-Geral da Casa concluiu seu parecer contrário em
novembro: "Estender o direito de
filiação a quem não mantém vínculo com a Câmara, além de colocar em risco a estabilidade financeira do plano, pode suscitar
questionamentos fundados nos
princípios constitucionais da isonomia e da razoabilidade".
A Mesa cortou, então, o plano
de Pires e dos outros dois ex-deputados. O ministro pediu reconsideração. Na reunião de abril
deste ano -cuja ata foi publicada
recentemente-, o presidente da
Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), colocou em discussão o recurso do ministro.
Tendo apenas o voto contrário
do primeiro secretário, o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) -inimigo político de Pires
na Bahia-, a Mesa voltou atrás
em sua decisão e devolveu ao ministro o direito ao plano.
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